BE diz que transformar crime de racismo num problema de imigração é “posição cobarde”
Para Mariana Mortágua, o que está a acontecer é que se assiste a “partidos da extrema-direita ou a personalidades da direita a desculpar, ou a querer dar um contexto, a crimes racistas”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda acusou este sábado quem quer "transformar um ataque racista num problema de imigração" de ter uma "posição cobarde" e alertou que a extrema-direita quer "dar um contexto" a crimes racistas.
"Houve um ataque de racismo e quem quer transformar um ataque de racismo num problema de imigração é porque quer usar uma posição cobarde para fazer um debate em que vai perder, porque na verdade, e nós sabemos, Portugal é um país que precisa de imigrantes e que tem um dever de acolher toda a gente porque é também um pais de emigrantes", afirmou Mariana Mortágua, no Porto, referindo-se aos ataques a imigrantes que aconteceram naquela cidade no dia 4 de Maio.
Segundo a líder bloquista, o que está a acontecer é que se assiste a "partidos da extrema-direita ou a personalidades da direita a desculpar, ou a querer dar um contexto, a crimes racistas, não há contexto, não são desculpáveis".
O presidente do Chega, André Ventura, esteve na sexta-feira no Porto, na zona do Bonfim, onde aconteceu um dos ataques a imigrantes, e defendeu a reposição do controlo de fronteiras e a revisão da lei da nacionalidade. Sobre as agressões, disse que "há um contexto que gerou e provocou uma situação que nunca deveria ter acontecido".
Confrontada com a possibilidade de o ataque no Bonfim ter sido um "ajuste de contas", Mariana Mortágua afirmou: "Este ajuste de contas é uma versão que devemos recusar porque é um ataque racista, está a ser alimentado pelas ideias extremistas."
A líder bloquista considerou que aquele ataque "aconteceu porque há um clima, que está a crescer em Portugal, de violência e de ódio, e este clima está a crescer em Portugal porque está a ser provocado, está a ser injectado".
"Basta ver as redes sociais da extrema-direita, basta ver as declarações de André Ventura e do Chega e percebemos de onde vem este ódio a crescer", acrescentou.
Sobre uma manifestação realizada este sábado na zona do ataque pelo partido Ergue-te, a líder do Bloco criticou o presidente da Câmara Municipal do Porto, o independente Rui Moreira, por ter autorizado aquele protesto. "Eu lamento que o presidente da Câmara do Porto, entre uma defesa intransigente desse Portugal, desse Porto como uma cidade aberta, esteja a optar pela narrativa da extrema-direita", disse.
Na sexta-feira, em conferência de imprensa, Rui Moreira explicou que a lei não lhe permite não autorizar uma manifestação, explicação que não colhe aceitação da bloquista.
"Só pode dizer que a lei não permite quem tentou alguma coisa para impedir a manifestação, Rui Moreira disse que não tentou, ele disse que, faça a extrema-esquerda o barulho que quiser, a manifestação vai realizar-se", apontou Mariana Mortágua.
A bloquista criticou ainda a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) por "não estar a funcionar" na missão de acolhimento e regularização dos imigrantes.
"É preciso haver uma agência que possa acolher estas pessoas de uma forma administrativa e não de uma forma policial ou criminal. Esta agência foi criada e chama-se AIMA. Está a funcionar bem? Não, não está, e porque não está a funcionar bem está a atrasar os processos de regularização", sustentou.
Para Mortágua, aquela agência quer usar uma "forma de secretaria" para resolver um problema de falta de investimento e organização.
"A AIMA, não tendo cumprido o seu trabalho, está a tentar acelerar estes processos cobrando as taxas de regularização à cabeça, e quem não o conseguir fazer em 10 dias sai da fila de espera e tem que reiniciar o seu processo", disse.
Na madrugada de 4 de Maio, vários imigrantes foram atacados em três locais distintos da cidade do Porto. Num dos casos, o ataque deu-se na casa de 10 imigrantes, na Rua do Bonfim, que foi invadida por um grupo de 10 homens.
Pelo menos dois dos agredidos receberam assistência no Hospital de São João. Seis homens foram identificados e um foi detido por posse de arma ilegal, tendo sido presente a tribunal e ficado em prisão preventiva.