O que tem Portugal que ver com as inundações do sul do Brasil?

A culpa não é só da chuva e também não se trata de um caso isolado. Mas se não é hora de falar de política, mesmo que ela esteja em cada gota de inundação nas terras gaúchas, é hora de estender a mão.

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Uma vista de drone mostra o bairro inundado de Mathias Velho em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil Diego Vara
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Desde quinta-feira passada, 2 de Maio, o estado do Rio Grande do Sul (RS), no extremo sul do Brasil, tem sofrido inundações que afetaram mais de 400 cidades, o que corresponde a mais de 80% do estado. Até então, são mais de 160 mil pessoas desalojadas, mais de 60 mil em abrigos, mais de 120 desaparecidas, e mais de 100 pessoas mortas número que vai aumentar à medida que a água baixar e os corpos aparecerem. Mas o que Portugal tem que ver com isso?

Infelizmente, a culpa não é só da chuva e também não se trata de um caso isolado. Durante este momento, Estados Unidos, Quénia, Arábia Saudita e Emirados Árabes também enfrentam estragos ambientais. Esse aumento de eventos climáticos extremos, como inundações e secas, é resultado, também, do negacionismo da crise climática. Governos que desprezam a segurança do planeta, como é o caso do Brasil, parecem promover uma política de extermínio ambiental.

Um exemplo é o “pacote da destruição”. Um conjunto de 25 projetos de lei que tramitam no congresso brasileiro e, caso aprovado, resultará num dano irreversível aos ecossistemas brasileiros, aos povos originários e ao clima global. Algumas dessas propostas são reduzir a reserva legal dos estados amazónicos de 80% para até 50%, eliminar a proteção de todos os campos nativos, amnistia para desmatadores, entre outros absurdos ambientais.

Além de práticas que violam diretamente o meio ambiente, o não-incentivo às pautas climáticas também é um reflexo do negacionismo. E no RS, o governador do estado, Eduardo Leite, ignorou um relatório com medidas de prevenção às tragédias climáticas, além de ter destinado apenas 0,2% dos recursos para o combate à crise climática e somente 50 mil reais (em torno de nove mil euros) para ampliar a capacidade da Defesa Civil - órgão de prevenção e reconstrução para evitar desastres naturais no Brasil.

Esse caos me faz lembrar que aqui também não se leva a sério essa emergência. Em Portugal, a extrema-direita distribui panfletos contra o activismo climático, ridiculariza o movimento em tom de sátira, apesar de ser o país da Europa em que alterações climáticas têm maior impacto. Portugal enfrentava de uma a duas secas a cada década, até o ano 2000. A previsão agora é que, se a crise climática não for freada, a frequência das secas aumentará para sete a cada década.

Os neoliberais, em vez de piada, escondem a urgência sob o véu da economia, mesmo que Portugal ainda queime. Longe das inundações, mas suscetível às secas e queimadas, em 2022, segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios, arderam mais de 100 mil hectares em Portugal continental. Dentro disto, 55 mil hectares são de floresta, 43 mil de mato e 11 mil de terras agrícolas.

Mas se não é hora de falar de política, mesmo que ela esteja em cada gota de inundação nas terras gaúchas, é hora de estender a mão. Se Portugal encontra o sul do Brasil na urgência da crise climática que compromete a todos, um país encontra o outro na ajuda humanitária. A Câmara Municipal do Porto iniciou uma campanha de ajuda às vítimas das inundações na capital do RS e os portugueses podem ajudar com qualquer valor: cada um euro de cá é em torno de 5 reais para o Brasil.

Li em algum lugar que existir é uma tarefa coletiva. Ninguém sobrevive só. Doe, ajude, cobre pautas políticas que priorizem o combate aos riscos climáticos. Dê visibilidade a esse evento, sinta a dor e o perigo dessa tragédia. A crise aperta, o relógio corre, e a água que inunda o outro, pode um dia nos afogar também.

Município de Porto Alegre
(seleccionar Brasil como país de destino)
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Swift: CEFXBRSP
Chave Pix: CNPJ 929635600000160

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