São eles, por ordem de entrada no maior festival de cinema do mundo: Paulo Carneiro, Isadora Neves Marques, Miguel Gomes, Frederico Lobo, Inês Lima e Daniel Soares. São os nossos "seis magníficos", autores dos filmes portugueses na 77.ª edição de Cannes.
Há 18 anos que não havia uma longa-metragem portuguesa em competição em Cannes. E a expectativa face a Grand Tour, de Miguel Gomes, cá e lá fora, é grande. A produtora, Filipa Reis, também ela cineasta, tem aqui um projecto enorme, que envolveu um périplo pela Ásia e enfrentar uma pandemia. Disse-nos ela: "Grand Tour é muito surpreendente. Se há uma esperada relação com Tabu, vai revelar algo completamente novo que surpreenderá as expectativas." É uma operação com algum secretismo: o filme ainda não foi mostrado aos jornalistas, o efeito surpresa será total.
No dossier que dá a capa desta edição, Vasco Câmara falou com os realizadores dos outros filmes. Encontrou um Paulo Carneiro disposto a um duelo ao sol em Covas do Barroso (A Savana e a Montanha é um western com a luta contra a exploração do lítio como pano de fundo). E também uma Isadora Neves Marques a fazer o balanço sentimental de uma era; Frederico Lobo a escorregar para dentro do mundo; Inês Lima na busca da vida secreta das plantas da Arrábida; Daniel Soares a retratar um arquitecto em confronto com o projecto de gentrificação urbana em que está metido.
Que diria Frederick Wiseman destes filmes? Não sabemos, mas sabemos o que diz sobre os dele. "Até os meus documentários são filmes de ficção", declarou a Luís Miguel Oliveira este decano da cinematografia mundial, 94 anos, que em Um Casal, uma ficção, assina um dos mais belos filmes que veremos em 2024.
Nome essencial da nova música portuguesa, Maria Reis traça em Suspiro… uma anatomia das relações amorosas, das insuficiências humanas e da depressão. A cantora e compositora teve uma conversa aberta sobre estes temas com Mariana Duarte: falou-se de "ginásio terapêutico", de um país em que os costumes moralistas querem voltar e de sonhos de uma rapariga de 13 anos, fechada no quarto, a acreditar que a música salva.
Escreveu um romance (Mandíbula), mas podia ter feito um ensaio. A equatoriana Mónica Ojeda pensa como poucos o que podem os corpos, o desejo, o medo. Disse-nos coisas como esta: "O corpo imagina quando dança e pensa quando dança. E esse pensar não discursivo é um pensar de movimento." E esta: "O lugar do medo é um espaço revolucionário. Acredito que os corpos que temem não estão apenas paralisados. Geram um motor de pensamento e de sensibilidade empática com o mundo, mas também de apreciação do efémero. O medo dá-nos uma consciência plena da nossa mortalidade e do facto de tudo ser perecível e fugaz."
Também nesta edição:
➢ Num novo livro, Andrea Wulf conta a história dos primeiros românticos;
➢ Música: Willi Carlisle: country, brutalmente honesto e queer;
➢ Mais música: conversa com Marco Rodrigues sobre o disco-homenagem ao mestre Carlos do Carmo. E recensões aos novos discos de Shabaka e Dua Lipa;
➢ Críticas a filmes: o programa Entre Muros – Três Curtas Portuguesas; O Sabor da Vida; Ainda Temos o Amanhã; Ricardo e a Pintura; Corrida para a Glória; Cândido – O Espião que Veio do Futebol;
➢ A arte da indiana Shilpa Gupta exposta no Centro Botín, em Santander (artigo ainda só disponível na edição impressa).
Boas leituras!
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