Estou a ter muita dificuldade em esquecer a traição emocional de um ano do meu marido com a sua antiga namorada da faculdade (de há 58 anos). Já passaram dois anos desde que encontrei mensagens no telemóvel dele e ainda estou a pensar e a chorar sobre isso. Ele insiste que parou, mas eu não tenho provas; na verdade, ele manteve todas as informações de contacto dela. Continuo a voltar atrás e a ler as suas conversas muito íntimas e estou a dar em doida. Não consigo acreditar que ele tenha feito aquilo.
Estamos casados há 48 anos e ele descreveu-lhe o nosso casamento como muito bom. Mas disse-lhe que não casou comigo por amor, mas para ter filhos, que ela é o seu único amor e que gostaria de estar sempre com ela, mas não pode, para não magoar os outros. Ele disse-lhe tudo isso "para a fazer sentir-se bem". Isso é a sério? E, a dada altura, ele planeava apresentar-nos.
Isto é algum tipo de crise? Só quero encontrar a minha paz interior e a minha calma. Não o perdoei, mas finjo que está tudo bem. Ele não quer falar sobre o assunto e encoraja-me a esquecê-lo. Como é que posso esquecer isto?
É claro que encontrar essas mensagens virou o seu mundo de pernas para o ar. Foi duplamente apanhada de surpresa: primeiro, pelo seu acto de traição emocional e, segundo, pelos seus comentários ofensivos sobre o seu casamento.
Tem de decidir se consegue ultrapassar esta situação e o que precisa para o fazer. Encontrar a "paz interior" é voltar-se para dentro e dar espaço ao que sente e precisa — não ao que o seu marido quer que faça para seguir em frente. Isto significa ter conversas abertas sem que ele fique na defensiva ou a encoraje a esquecer o assunto. A leitora ainda não ultrapassou esta situação porque ainda não enfrentou e lidou com a sua dor, nem foi capaz de a partilhar honestamente. Ignorar sentimentos não os faz desaparecer, fá-los apodrecer.
O seu marido já pediu desculpas genuinamente? As desculpas são mais do que apenas dizer a palavra "desculpa". Têm de ser acompanhadas de um sentido de responsabilidade para corrigir o que foi quebrado — neste caso, a sua confiança. É melhor para ele fingir que não aconteceu, mas estar em negação sobre o que aconteceu apenas prolonga o processo de cura.
Que provas precisa de ter de que ele deixou de falar com ela? Parece que não tem qualquer garantia de que este caso emocional acabou e, no mínimo, merece isso. O que é que precisa para sentir que ele quer reparar a confiança que quebrou? Já discutiram quais os limites mútuos que precisam de ser implementados para se sentirem emocionalmente seguros e ligados novamente? Ele está disposto a frequentar aconselhamento matrimonial consigo para trabalharem juntos nesta questão?
Também aconselho a leitora a deixar de ler as mensagens do seu marido. Não resolve nada, nem a faz sentir melhor. Na verdade, só a mantém presa num ciclo de desespero e fá-la sentir-se "louca". O mais provável é que esteja a rever essas mensagens porque ainda não foi capaz de aceitar totalmente que isto aconteceu.
Isto não é fácil, mas não deve fingir que está tudo bem quando claramente não está. Isto não significa ser fria ou rude com o seu marido, nem tentar castigá-lo pelo que fez. Em vez disso, significa reconhecer o que está a sentir e permitir-se processar os efeitos das acções dele. Dedique algum tempo a identificar todos os sentimentos que estão a surgir para além do choque e da tristeza. Sente-se humilhada? Sente vergonha? Raiva? Como é que isto afectou o seu sentido de identidade?
Quarenta e oito anos é muito tempo para estar com alguém, e uma coisa é o seu marido estar a envolver-se com amor, respeito e verdadeiros remorsos pelo que fez; outra coisa é sentir que tem de aceitar isso porque estão juntos há muito tempo. Tem opções. Pode decidir que pode voltar a confiar nele e que não vale a pena separar-se, ou que está disposta a manter a relação mas a viver vidas separadas. Ou pode acabar por decidir que precisa de mais do que aquilo que está a receber. Não sei e, embora considere que o aconselhamento de casais é um passo importante a seguir, também seria bom encontrar um profissional para processar isto individualmente.
A confiança pode ser reconquistada, mas o seu marido tem de querer realmente reparar o que quebrou na vossa relação. Mesmo assim, só a leitora pode decidir o que precisa para seguir em frente. Em vez de procurar que o seu marido lhe dê paz, pense em como a pode encontrar por si própria.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Bárbara Wong