Sérgio Godinho e Mário Laginha levam mais arte ao Vinho da Casa
O evento que reúne em Lisboa 20 dos maiores produtores nacionais terá música, poesia e até enólogos a mostrar o que valem na cozinha ou com um microfone na mão.
“Brinda-se aos amores com o vinho da casa”, canta Sérgio Godinho na canção O Primeiro Dia. E vai ser assim – com brinde, com Sérgio Godinho e com muitas outras surpresas – o Vinho da Casa - Não é Qualquer Vinho, Não é Qualquer Casa, entre 17 e 19 de Maio (das 16h30 às 22h30) na La Distillerie, em Lisboa, com organização do PÚBLICO e da Out of Paper.
O vinho é o centro da festa – vão estar presentes 20 dos maiores produtores nacionais, que levam com eles alguns vinhos especiais e raros – mas haverá masterclasses, um jantar preparado pelo chef Alexandre Silva, do Loco (uma estrela Michelin) e do Fogo, poesia e música, com Sérgio Godinho, Mário Laginha, e ainda com produtores e até masters of wine que vão arriscar mostrar os seus talentos nesta área.
Tanto Sérgio Godinho como Mário Laginha prepararam algumas músicas que irão tocar, mas estão também no Vinho da Casa para conversar. “Agrada-me essa ideia de conversar”, diz Laginha. “Vou reagir às perguntas que me fizerem e seguir por onde elas me puxarem. Posso falar da minha música e também posso falar de vinho, mas apenas como apreciador, não sou um especialista.”
Sérgio Godinho também se apresenta como “um bebedor de vinho”, que bebe às refeições, e que, por exemplo, no momento em que conversa connosco ao telefone está “a bebericar um copo de tinto”. Confessa uma predilecção por tinto, embora haja uma casta branca de que gosta especialmente, o Alvarinho. E encanta-se sempre com a paisagem do Douro, que já teve oportunidade de sobrevoar por duas vezes.
Uma boa refeição, para Mário Laginha, “é sempre acompanhada por vinho” e este hábito tem-no levado a aprender cada vez mais sobre o que bebe. Ainda se lembra da primeira vez. “Tinha oito anos e o meu irmão tinha dez. Estávamos com os meus pais em Amarante, num restaurante mesmo junto ao rio. Era um dia de calor e o meu pai, que geralmente não bebia, pediu um Vinho Verde e perguntou se queríamos experimentar. Ainda estou a ouvir a minha mãe a dizer ‘ó António, francamente.’” Mas Mário experimentou e, ao contrário do irmão, gostou. “Lembro-me que achei o máximo”, diz, com uma gargalhada.
As pessoas tentam muitas vezes estabelecer ligações entre a música e o vinho, mas o que, para o músico e compositor de jazz, mais aproxima as duas coisas é mesmo o prazer que elas nos dão. “Às vezes vou para uma refeição tão entusiasmado como quando vou assistir a um concerto”, confidencia. E, quer num caso quer no outro, quanto mais vamos aprendendo mais nos vamos apaixonando. Podemos começar por gostar de vinhos mais simples e de música menos complexa, mas “a paixão aprofunda-se quando se começa a compreender a complexidade”.
Sérgio Godinho – que nos seus concertos termina O Primeiro Dia sempre erguendo um copo de vinho e brindando – não poderia deixar de cantar esta música. Será acompanhado pelo pianista Filipe Raposo, nesta e noutras das suas canções mais queridas do público (podem começar a afinar as vozes para Com Um Brilhozinho nos Olhos). E lembra-se até de um pequeno poema que um dia escreveu sobre vinho, que fará sentido recordar nesta ocasião.
Mas se dois dos maiores músicos portugueses criarão certamente momentos inesquecíveis, o Vinho da Casa vai contar com outros artistas, mais amadores do que profissionais, mas igualmente entusiasmados e já a preparar as suas actuações. É o caso do casal de master of wine britânicos Peter Richards e Susie Barrie, que, além de darem a masterclass do dia 18 sobre vinhos brancos, irão também cantar, no mesmo dia, a partir das 19h30.
O que é que podemos esperar?, perguntamos a Peter Richards. A resposta, por Whatsapp, surge com dois emojis com medo e um a rir: “O que se pode esperar? Dois especialistas em vinho aterrorizados, saindo muito para fora da sua zona de conforto ao apresentar-se perante uma audiência de conhecedores!!”. E depois, mais a sério, explica que Susie tem formação clássica como actriz e cantora e ele tenta acompanhá-la o melhor que consegue. Já se apresentaram em público algumas vezes “mas nada tão formal”. E levanta um pouco o véu sobre o repertório: Bryan Adams, Elton John, A-ha, Guns’n’Roses e os Beatles.
Carlos Agrellos, da Quinta do Noval, vai voltar ao palco do Vinho da Casa – a sua apresentação musical na primeira edição, no Porto, foi um sucesso, e agora é a vez de Lisboa poder assistir igualmente. O entusiasmo é garantido.
Mas as surpresas não param por aqui. Quem também tem estado a trabalhar uma apresentação de poesia, para a qual juntou alguns amigos actores, é Paulo Nunes, da Casa da Passarella, ele próprio com uma experiência, há já 20 anos, como actor, na peça O Magnífico Reitor, onde subiu ao palco ao lado de figuras como Raul Solnado.
Tinha saudades desses tempos mas só se encheu de coragem para voltar a actuar quando foi desafiado pela organização do Vinho da Casa a fazer algo de diferente. “Quase todos os produtores e enólogos sabem cortar uma cebola”, diz, “por isso pensei fazer algo que juntasse literatura e vinho.” Com ele vão estar os amigos Carla Vasconcelos, Jorge Corrula, Jorge Fraga e Jorge Parente – “alguns deles já não os via há vinte anos, só mesmo o vinho para nos voltar a juntar” –, a declarar poemas que falem de vinho, como os do poeta persa Rumi.
Entre os enólogos que “sabem cortar uma cebola”, alguns vão um pouco mais longe e apresentam pequenos momentos de show cooking: Luís Sottomayor (Casa Ferreirinha, o enólogo do Barca Velha) vai fazer sável fumado com batatas, Pedro Baptista (Cartuxa, enólogo do Pêra Manca) uma tomatada de galinha, Luís Cabral de Almeida, da Sogrape, um gaspacho, e Mário Sérgio, da Quinta das Bágeiras, uma cabidela de leitão. Atenção: será apenas para provar, porque o verdadeiro jantar está a cargo do chef Alexandre Silva.
E, por fim, como este é um evento de vinho, vamos falar de copos. Adrian Bridge, da Taylor’s, tem uma colecção verdadeiramente especial e vai mostrar alguns exemplares (além de fazer um punch). Estamos a falar, por exemplo, de um copo esculpido em xisto da civilização báctria (2500 a 2250 a.C) ou de um outro com haste de torção de ar feito para celebrar as bodas de prata da rainha Isabel II e do Duque de Edimburgo, parte de uma colecção limitada de apenas 750.
Os 20 produtores que vão estar presentes, todos eles convidados pela organização para participar no Vinho da Casa, são: Herdade do Mouchão (Iain Richardson), Anselmo Mendes, Barbeito (Ricardo Diogo), Casa da Passarella (Paulo Nunes), Sogrape (Luís Sottomayor, Luís Cabral de Almeida e Tomás Bagulho), Reynolds Wine Growers (Julian Reynolds), Fundação Eugénio de Almeida (Pedro Baptista), Júlio Bastos (Dona Maria - Júlio Bastos), Luís Pato, Quinta das Bágeiras (Mário Sérgio), Niepoort (Daniel Niepoort), Quinta do Crasto (Manuel Lobo), Quinta do Noval (Carlos Agrellos), Quinta do Vallado (Francisco Ferreira, João Ferreira Álvares Ribeiro, João Roquette Álvares Ribeiro), Quinta do Vale Meão (Francisco e Jaime Olazabal), Ramos Pinto (Thomas Rogerson e Jorge Rosas), Susana Esteban, Symington (Charlotte Symington, Miguel Bessa, José Luís Cavalheiro, Celso Pereira), Taylor's (Adrian Bridge), Wine&Soul (Sandra Tavares e Jorge Serôdio Borges).
O Vinho da Casa tem o patrocínio da Haier, DIAM e Saverglass e o apoio da ViniPortugal, o copo oficial é Riedel, o hotel é o Torel Palace Lisboa e a produção é da H2N. A loja oficial do evento é a Garrafeira Imperial, que acaba de receber o prémio de Melhor Garrafeira do Ano atribuído pela Revista Grandes Escolhas, e na qual, durante o evento, poderá ser comprado vinho com 10% de desconto, com entrega em casa. Já o café, fica oficialmente por conta da Delta Q.