Biden suspende envio de armamento para Israel para que não seja usado em Rafah
É a primeira vez que Washington trava o fornecimento de armas a Israel desde o início da guerra em Gaza.
A Casa Branca suspendeu o envio de armamento para Israel na semana passada para impedir a sua utilização na ofensiva contra Rafah, de acordo com dirigentes citados pelo New York Times.
Trata-se da primeira vez que os EUA limitam o envio de armas para Israel desde o início da guerra em Gaza, há sete meses. Foi suspenso o fornecimento de 1800 bombas de 900 quilogramas e 1700 de 450, segundo os responsáveis da Administração de Joe Biden.
Não houve qualquer confirmação oficial desta informação pelo Pentágono ou pela Casa Branca, mas vários meios de comunicação norte-americanos citam responsáveis sob anonimato que reforçam a mesma ideia.
O Wall Street Journal já tinha avançado a notícia da suspensão do envio de mais de seis mil kits para conversão de armas de precisão para Israel. Os EUA são os principais fornecedores de armamento de Israel e o seu grande aliado diplomático.
Segundo o analista do New York Times, Peter Baker, esta suspensão representa "um ponto de viragem significativo na relação de 76 anos entre os Estados Unidos e Israel" embora não considere que seja "necessariamente um ponto de rutura", pois os Estados Unidos continuarão a enviar outras armas que não sejam bombas para Israel.
Washington tem avisado que um ataque de Israel a Rafah, a cidade no Sul da Faixa de Gaza que tem acolhido grande parte da população do território, irá agravar ainda mais a profunda crise humanitária que se desenrola há vários meses. No entanto, as autoridades israelitas têm insistido na necessidade de avançar sobre a cidade por acreditarem que ainda subsistem células do Hamas, o movimento islamista responsável pelo ataque de 7 de Outubro em Israel que causou mais de 1200 mortos.
Biden tem sido igualmente pressionado por vários congressistas democratas para suspender e até travar o fornecimento de armas a Israel. Um pouco por universidades de todo o país, os estudantes têm igualmente intensificado as manifestações de repúdio pelas acções militares de Israel em Gaza, que já custaram a vida a quase 35 mil civis e deixaram mais de dois milhões de pessoas em situação de enorme privação.
Em Israel, vários representantes reagiram negativamente às declarações do Presidente dos EUA. O ministro da Segurança Interna israelita Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita, escreveu na sua conta da rede social X: "Hamas ama Biden", num tweet criticado pela oposição e pelo Presidente israelita Isaac Herzog, segundo o jornal The Times of Israel.
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros Israel Katz e o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, este último também ligado à extrema-direita, prometeram, de acordo com o The Times of Israel, que a invasão de Rafah iria continuar, mesmo que o fornecimento de armas seja suspenso.
Também o embaixador israelita nas Nações Unidas Gilad Erdan considerou, em declarações à rádio pública israelita citadas pelo The Guardian, que a afirmação de Biden era "difícil e muito decepcionante de ouvir", especialmente vindo de um líder a quem estavam"gratos pelo apoio desde o início da guerra".
Apesar dos apelos para que não avance para Rafah, as forças israelitas tomaram o controlo da passagem fronteiriça com o Egipto, um ponto fundamental de entrada de ajuda humanitária para a população civil.
Os EUA e os seus aliados ainda acreditam que é possível que seja alcançado um cessar-fogo entre Israel e o Hamas e estão previstas conversações no Cairo nesta quarta-feira.
No início da semana, Israel rejeitou uma proposta de cessar-fogo que tinha sido aprovada pelo Hamas, por considerar que os seus termos tinham sido suavizados. O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que o movimento palestiniano apresentou uma nova proposta revista e mostrou-se convicto de que as lacunas que possam existir podem “absolutamente ser fechadas”.
O acordo apresentado pelo Hamas inclui uma primeira fase de um cessar-fogo de seis semanas, a entrada de ajuda em Gaza, a libertação de 33 reféns israelitas, mortos e vivos, e a libertação por Israel de 30 crianças e mulheres palestinianas presas por cada refém entregue.