A persistência do mito que associa imigração a um aumento da criminalidade é um dos equívocos mais arraigados em torno deste tema. Este receio, profundamente enraizado na psique colectiva, alimenta-se da incerteza e do desconhecido, sendo propagado muitas vezes como uma verdade inquestionável. No entanto, é tempo de desmontar este mito e encarar os factos de forma objectiva.
Muito recentemente, foi lançado um livro de um dos principais estudiosos da migração a nível mundial, o professor e sociólogo holandês Hein de Haas. Contrariando a crença popular, De Haas apresenta vários estudos que refutam a ideia de que a imigração desencadeia um aumento da criminalidade. Pelo contrário, os estudos demonstram consistentemente que os imigrantes, em geral, apresentam taxas de criminalidade inferiores às da população autóctone. Enquanto os imigrantes são, de modo geral, menos criminosos do que os nativos, também é verdade que a delinquência é mais prevalente entre a segunda geração de alguns grupos de imigrantes.
A ideia que se pretende realçar é que os imigrantes tendem a estar mais interessados em integrar-se na sociedade de acolhimento, ao mesmo tempo que procuram activamente obter a residência permanente ou a cidadania: no fundo, procurando a estabilidade e a legalidade. Mesmo os imigrantes ilegais, frequentemente retratados como potenciais criminosos, procuram evitar a atenção das autoridades e manter-se longe da vista da polícia.
Este mito, muitas vezes duplo, não só sugere que a imigração alimenta o crime, mas também que as taxas de criminalidade aumentam em períodos de maior imigração. No entanto, os dados mostram precisamente o contrário: à medida que a imigração aumenta, as taxas de criminalidade tendem a diminuir.
Essencialmente, as nossas sociedades tornaram-se mais seguras ao mesmo tempo que as populações de imigrantes cresceram. Com efeito, embora não seja fácil medir a relação entre imigração e crime, mais que não seja porque há muitos factores envolvidos, as quedas dos índices de criminalidade são explicadas sobretudo por factores socioeconómicos tais como o crescimento de rendimento, melhor nível de escolaridade, decréscimo do desemprego e envelhecimento da população. O paradoxo é que, com frequência, a imigração torna os locais mais seguros.
Em última análise, a narrativa que associa imigração a um aumento da criminalidade afigura-se, não só desinformada, mas também prejudicial. Alimenta o preconceito, a xenofobia e a exclusão, em vez de promover a compreensão mútua e a coexistência pacífica. Portanto, é fundamental desafiar este paradigma ultrapassado e adoptar uma abordagem baseada em evidências científicas. É hora de transcender os mitos e abraçar uma compreensão mais ampla e empírica da imigração e da criminalidade.