Campanha de Trump em 2016 ficou “muito preocupada” com gravação Access Hollywood
Testemunhos na terceira semana do julgamento de Donald Trump ajudam a acusação a reforçar o argumento de que o ex-Presidente dos EUA é culpado de interferência ilegal na campanha de 2016.
A consultora política norte-americana Hope Hicks, uma antiga directora de comunicação da Casa Branca na Administração Trump, disse esta sexta-feira, no fim da terceira semana do julgamento de Donald Trump, que ficou "muito preocupada", nas vésperas da eleição presidencial de 2016, quando soube da existência de uma gravação em que o então candidato do Partido Republicano se gabava de forçar contactos sexuais com várias mulheres.
Hicks, uma antiga protegida de Trump, foi a principal testemunha do dia no julgamento que decorre em Manhattan, num caso relacionado com o pagamento pelo silêncio de uma antiga actriz de filmes pornográficos, Stormy Daniels, a poucos dias da eleição de 2016.
Ao levar Hicks a descrever a preocupação com que foi recebida, na campanha de Trump, a gravação do programa Access Hollywood que o jornal Washington Post divulgou a 7 de Outubro de 2016 — a menos de cinco semanas da eleição presidencial —, a acusação tenta dar solidez ao seu principal argumento: o de que o pagamento a Daniels, feito depois do escândalo da gravação e a poucos dias da eleição, deve ser entendido como mais um elemento de uma campanha ilegal para influenciar a eleição de 2016, e não como uma simples tentativa de poupar Melania Trump a mais uma revelação sobre a vida sexual do seu marido.
Esta tese da acusação foi reforçada, na quinta-feira, pelo advogado da antiga actriz de filmes pornográficos, que recebeu 130 mil dólares (121 mil euros) para se manter em silêncio sobre uma alegada relação amorosa extraconjugal com Donald Trump.
Keith Davidson, um advogado que fez carreira a mediar acordos de divulgação ou de silenciamento de informações embaraçosas para várias figuras públicas — incluindo o antigo lutador Hulk Hogan e os actores Charlie Sheen e Lindsey Lohan — afirmou, sob juramento, que o pagamento a Daniels "pode ter contribuído" para a vitória do então candidato do Partido Republicano na corrida à Casa Branca.
Além de ter representado Daniels, Davidson foi também advogado de uma outra mulher, Karen McDougal, que ameaçou revelar, antes da eleição presidencial de 2016, que manteve uma relação amorosa com Trump durante dez meses entre 2006 e 2007, numa altura em que o ex-Presidente dos EUA já estava casado com Melania Trump.
Na quinta-feira, Davidson foi confrontado pela acusação com uma troca de mensagens, na noite eleitoral de 2016, entre ele e Dylan Howard, um editor do National Enquirer — o jornal de Nova Iorque que se coordenou com Trump, em 2015 e 2016, para detectar e silenciar informações que pudessem prejudicar a campanha do candidato republicano.
Numa dessas mensagens, o advogado mostra-se preocupado com a iminência do anúncio de que Trump iria ser o próximo Presidente dos EUA: "O que é que nós fizemos?" Instado a esclarecer o que pretendia dizer com aquela mensagem, o advogado foi claro: "[Eu quis dizer] que as nossas actividades podiam ter ajudado de alguma forma a campanha presidencial de Donald Trump."
Apesar de o procurador do Ministério Público de Manhattan nunca ter afirmado que o pagamento a Daniels alterou o rumo da campanha de 2016 e possibilitou a eleição de Trump, os testemunhos de Hicks e de Davidson são importantes para a forma como o caso está a ser apresentado pela acusação.
Para obter a condenação do ex-Presidente dos EUA, a acusação terá de provar que Trump falsificou as contas da sua empresa, quando registou os pagamentos a Daniels como despesas comuns, com o intuito de esconder um segundo crime — o de violação das leis eleitorais de Nova Iorque, ao interferir no decurso da campanha eleitoral de 2016 através da sonegação de informações relevantes para o eleitorado.