Santa Casa: AR volta a chamar Ana Jorge e Ana Mendes Godinho, mas também Edmundo Martinho

Audições foram aprovadas por unanimidade. Partidos da oposição falam em “saneamento” da mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

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Ana Jorge assumiu o cargo de provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa há um ano Daniel Rocha
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O caso da demissão da provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e o estado financeiro da instituição vai chegar à Assembleia da República a curto prazo. A Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão aprovou por unanimidade as audições da provedora demissionária Ana Jorge, da antiga ministra do Trabalho Ana Mendes Godinho, mas também da actual governante Maria do Rosário Palma Ramalho (que demitiu a provedora) e do ex-provedor Edmundo Martinho.

A lista de audições que resulta dos três requerimentos da IL, do PS e do Chega inclui, além destas quatro personalidades, a ex-vice-provedora da Santa Casa Ana Vitória Azevedo, os ex-administradores Ricardo Gonçalves e Francisco Pessoa e Costa, assim como o ex-secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias – que é, aliás, o presidente da comissão, e que se disponibilizou de imediato.

"Houve uma estratégia de internacionalização que já regista prejuízos superiores a 50 milhões de euros; há contradições entre o ex-provedor, a provedora cessante e a ex-ministra que é preciso clarificar; e uma ex-vice-provedora que diz ter havido interferências políticas", descreveu a deputada liberal Mariana Leitão para defender o requerimento do partido. A que somou a ausência de prestação de contas de 2023.

"Desconhecemos a situação financeira da SCML, mas há indicações de que as contas deste trimestre estão 20 milhões de receitas aquém do orçamentado", acrescentou, defendendo a necessidade de "fazer o escrutínio político da estratégia de internacionalização, perceber o que correu mal, as versões contraditórias", assim como "o que motivou a decisão do actual Governo de demitir a Mesa e qual a estratégia que tem para a SCML".

O socialista Miguel Cabrita defende que "o único facto novo deste processo" é a "inesperada" e "radical decisão de demissão" de Ana Jorge, "uma pessoa com currículo credível". Lembrou que, no último ano, a ex-ministra Ana Mendes Godinho esteve nesta comissão por três vezes para prestar contas sobre a SCML e criticou o que diz ser um "padrão" do novo Governo de "criar casos" e de "dar prazos para entregar relatórios e planos de reestruturação que não se pedem nem se fazem em 15 dias".

A deputada do Chega Felicidade Vital disse ser preciso apurar a acusação do Governo de ter havido, por parte de Ana Jorge, uma "grave negligência" e esclarecer as operações com jogo internacional que Ana Mendes Godinho disse ter autorizado até aos cinco milhões de euros.

O bloquista José Soeiro disse-se surpreendido com a "dança de cadeiras que correu com a provedora, fazendo uma espécie de saneamento para colocar lá alguém mais próximo do PSD", falando até de um "ministro de má memória", numa referência ao nome do centrista Pedro Mota Soares. "Temos interesse em ouvir a versão de Ana Jorge", acrescentou, para além de novas explicações que existam sobre o processo de saneamento financeiro e a investigação aos "negócios mais que duvidosos" no Brasil.

A deputada do Livre, Isabel Mendes Lopes, também defendeu ser necessário explicar a "exoneração brusca" da Mesa.

A deputada Sandra Pereira, do PSD, refutou o que chamou de "processos de intenção", referindo-se aos termos usados pelos partidos da oposição sobre a existência de "saneamento". "O que sabemos é que a tutela pediu um plano de reestruturação e a Santa Casa não apresentou ou não quis apresentar, o que só vem adensar as preocupações sobre o que se passa" na instituição. A social-democrata argumentou que a actual provedora "não pôs cobro" aos problemas financeiros que se foram avolumando.

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