Foi numa manhã de Dezembro, um dia depois do encerramento da 28.ª Cimeira do Clima (COP) no Dubai, que algumas pessoas apoiantes da Climáximo interromperam de forma espectacular o acesso rodoviário a Lisboa, sentando e pendurando os seus corpos no viaduto Duarte Pacheco. A mensagem: as instituições mais poderosas continuam a agravar a crise climática e do custo de vida, vivemos uma emergência e devemos interromper a normalidade deste sistema. As exigências: pôr fim aos subsídios à economia baseada em combustíveis fósseis, fim às emissões de luxo e aos projectos que aumentem emissões, como um novo gasoduto e um novo aeroporto – e um grande investimento num serviço público de energias renováveis e transportes colectivos.
Cinquenta anos depois do 25 de Abril, é um desafio tremendo viver num país onde, segundo a Amnistia Internacional, metade das pessoas (incluindo polícias, jornalistas, juízes e procuradores do Ministério Público) ignora que a manifestação é um direito.
Onde se reprimem protestos pacíficos por causas justas, e se prossegue a violência quotidiana sobre pessoas e restantes animais, plantas e solos, sobre rios e montanhas. Onde parece mais visível a indignação perante formas de protesto diferentes do que perante um sistema que extrai a vida da Terra para acumular tanta riqueza material nas mãos e contas bancárias de tão poucas pessoas.
A crise climática vem convidar-nos a dar o melhor de nós. A abrir diálogos e não a reforçar antagonismos. A celebrar a nossa diversidade. A conciliar a assertividade e a humildade nas nossas formas estar, de comunicar e de agir. A experimentar e a descobrir as que mobilizam, animam, e ajudam a mudança a acontecer – em nosso redor e em nós mesmas.
Deixemo-nos surpreender. Apoiemo-nos e inspiremo-nos umas às outras. Lembremos que nenhuma de nós conhece os contornos que terá a mudança, que a consciência e a dissidência podem brotar de qualquer lugar, e que alianças improváveis podem ser as mais frutíferas.
Como tantas e tantos de nós nos fomos tornando máquinas de reprodução de um sistema sem sentido, não nos tornemos tampouco máquinas de activismo. Afirmemo-nos seres vivos e sensíveis. Permitamo-nos sentir a dor do mundo, permitamo-nos estar e escutar. Chorar, sorrir, cantar, gritar. Permitamo-nos agir com amor e criatividade, sentir a certeza e a alegria de defender a vida.
As vossas acções, e a repressão de que estão a ser alvo, são um convite a todas nós: a experimentarmos as nossas próprias formas de não consentir e desenharmos as nossas próprias linhas da frente.
A cortar o trânsito para denunciar crimes climáticos. A escrever notícias. A desligar a televisão em casa e nos cafés. A ajudar e a pedir ajuda às nossas vizinhas. A cultivar comida, numa varanda, num quintal ou num baldio. A ajudar o solo e as florestas a regenerar-se. A reavivar as aldeias e cidades do interior. A travar as máquinas de cada megaprojecto. A participar em assembleias de freguesias, de trabalhadores, de cidadãos. A cuidar dos seres e dos lugares mais vulneráveis. A interpelar e a interromper quem usa de forma irresponsável o poder que tem. A experimentar velhas e novas cções directas. Obrigada pela vossa coragem e resiliência! Estamos juntas e seguimos juntas!