Novas Cartas Portuguesas no Encontro de Leituras de Maio

As académicas Debora Diniz e Marinela Freitas estarão no clube de leitura do PÚBLICO e da revista Quatro Cinco Um a 14 de Maio comentar a importância desta obra das Três Marias.

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Maria Teresa Horta segura a primeira edição do livro que escreveu com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa Daniel Rocha
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Novas Cartas Portuguesas, a histórica obra conjunta de Maria Isabel Barreno (1939-2016), Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (1938-2020), publicada em 1972 por aquelas que ficaram mundialmente conhecidas como as Três Marias, estará em discussão no Encontro de Leituras de Maio. Um livro que as autoras consideravam "mal-amado", mais conhecido do que lido. Escrito a seis mãos durante nove meses sob um regime ditatorial, denunciava a Guerra Colonial e a condição das mulheres, sob prismas como a violência doméstica, o aborto, a violação, o incesto, a pobreza e o sexo.

O clube de leitura do PÚBLICO e da revista literária brasileira Quatro Cinco Um terá como convidadas a antropóloga e professora da Universidade de Brasília Debora Diniz, conhecida pelo seu trabalho em defesa da descriminalização do aborto e dos direitos das mulheres (esteve recentemente em Portugal a apresentar o seu sexto documentário, Mulher Comum), e a professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Marinela Freitas, integrante da equipa de investigação que trabalhou na edição anotada deste livro, organizada por Ana Luísa Amaral (1956-2022) e publicada em 2010 pela Dom Quixote. Com aquela poeta e académica portuguesa, Marinela Freitas organizou também a colectânea Novas Cartas Portuguesas: Entre Portugal e o Mundo (Dom Quixote, 2015), que mapeou o impacto e a recepção internacional da obra.

A próxima sessão do Encontro de Leituras acontece a 14 de Maio, às 22h de Lisboa (18h em Brasília), na plataforma Zoom, como habitualmente, e é aberta a todos os que queiram participar. A ID é a 821 5605 8496 e a senha de acesso 719623. Aqui fica o link.

Novas Cartas Portuguesas chegou às livrarias em 1972 com a chancela dos Estúdios Cor, editora que tinha Natália Correia como directora literária. A poetisa recusou-se então a cortar partes da obra.

Essa primeira edição viria a ser censurada e apreendida três dias depois. O regime, na altura chefiado por Marcello Caetano, instaurou um processo judicial às três autoras, acusadas de terem escrito uma obra de “conteúdo insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”.

Na fase de inquérito, a Polícia Judiciária quis saber quem tinha escrito o quê no livro, mas as Três Marias nunca o revelaram, nem quando o país já vivia em liberdade. “Do ponto de vista literário, o facto de o livro consistir em 120 textos que entrecruzam cartas, poemas, relatórios, textos narrativos, ensaios e citações, escritos colectivamente por três autoras que, contudo, não os assinavam individualmente, problematizava já, esbatendo, as noções estabelecidas de autoria e de géneros literários”, escreveu Ana Luísa Amaral na sua introdução à edição de 2010. O julgamento das Três Marias começou a 25 de Novembro de 1973 e terminou a 7 de Maio de 1974, já depois da Revolução dos Cravos.

Num dos primeiros encontros das autoras tendo em vista a escrita deste livro conjunto, em Maio de 1971, as Três Marias acordaram que partiriam “do romance epistolar Lettres Portugaises, publicado anonimamente por Claude Barbin, em 1669, e apresentado como uma tradução, anónima também, de cinco cartas de amor endereçadas a um oficial francês [Noel Bouton de Chamilly] por Mariana Alcoforado, jovem freira enclausurada no convento de Beja", contextualizou Ana Luísa Amaral. A crítica tem-se dividido quanto à verdadeira autoria das Cartas Portuguesas: há quem diga que são da própria Mariana Alcoforado e quem pense que foram escritas por Gabriel-Joseph de Guilleragues. As Três Marias usaram a edição que tinha sido publicada em 1969 com tradução do poeta Eugénio de Andrade (1923- 2005).

"Quando o burguês se revolta contra o rei, ou quando o colono se revolta contra o império, é apenas um chefe ou um governo que eles atacam, tudo o resto fica intacto, os seus negócios, as suas propriedades, as suas famílias, os seus lugares entre amigos e conhecidos, os seus prazeres. Se a mulher se revolta contra o homem nada fica intacto", lê-se nas Novas Cartas Portuguesas.

Publicado logo em 1975 no Brasil, a obra conheceu agora uma nova edição pela Todavia, que seguiu a versão anotada por Ana Luísa Amaral. “Neste tempo em que, um pouco por todo o mundo, nos tentam convencer de que é inevitável o lento morrer das instituições democráticas, em que tenebrosas forças reaccionárias põem em perigo importantes conquistas civilizacionais, um tempo em que se vai instalando a ideia de que a literatura pouco ou nada pode contra a desesperança que vai minando a humanidade, conhecer ou regressar a Novas Cartas Portuguesas é uma experiência arrebatadora. Um grito de coragem e de esperança”, considera a escritora Dulce Maria Cardoso num texto divulgado pela editora brasileira.

Nesta nova parceria do PÚBLICO com a Quatro Cinco Um, a jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e Paulo Werneck, director de redacção da revista brasileira, apresentam juntos o evento, no qual se discutem romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. Uma vez por mês, editam ainda a newsletter Leituras, com novidades da literatura que se faz em português.

No podcast do Encontro de Leituras são publicados os melhores momentos da sessão, em que os leitores interpelam também os convidados.

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