Zaïre-Emery, a “cola” que une o PSG campeão
O título do PSG tem muito de Mbappé, Dembélé ou Vitinha, mas, para os artistas funcionarem, há alguém que “cola” tudo aquilo. Com Zaïre-Emery, o PSG parece ser uma equipa – e isso não é comum por ali.
O PSG é, pela 12.ª vez – e terceira consecutiva –, campeão francês. A derrota (3-2) do Mónaco neste domingo, frente ao Lyon, ditou que a equipa do principado não vai conseguir chegar aos pontos dos parisienses e Vitinha, Nuno Mendes, Danilo e Gonçalo Ramos vão acabar esta noite em festa.
Até agora, pé ante pé, o PSG já ganhou a Supertaça e a Liga francesa e está na meia-final da Liga dos Campeões frente ao nada favorito Dortmund e na final da Taça de França. É bastante real imaginar o PSG com quatro títulos no final da temporada.
Ainda assim, não apenas por jogar na Liga francesa – mas também por isso –, a equipa não tem dado nas vistas. Na Liga dos Campeões, também tem passado de forma mais ou menos discreta, sem se apresentar como o “papão” favorito a levar tudo. Mas tem levado.
Quando entre “futeboleiros” se fala do PSG fala-se, geralmente, de uma equipa construída sem nexo e na qual o dinheiro árabe fez acontecer coisas. E é curioso que ainda há pouco tempo havia um nome que era o reflexo do PSG: uma equipa com um “onze” imponente, mas que depois, tendo de ir ao banco, tinha de mexer em jogadores como Warren Zaïre-Emery.
Em tempos, este era um daqueles nomes que surgia no grafismo da UEFA, nas transmissões televisivas, como exemplo da falta de nível do banco do PSG. Agora, Zaïre-Emery é o exemplo do alto nível desta equipa, que beneficia do luxo de ter um jogador desta craveira.
E este título, sendo muito de Mbappé, é, em boa parte, de Zaïre-Emery.
Zaïre-Emery faz tudo
Aos 18 anos, este médio francês é um protótipo daquilo que deve ser um número 8 – e o futebol moderno tem-se encarregado de mostrar que um 8 de alto nível pode fazer a diferença entre uma equipa sofrível e uma temível.
É ele quem equilibra a equipa, quando apresenta força física, disponibilidade, rapidez, raio de acção alargado e agressividade. E é ele quem ajuda a desequilibrar, quando apresenta boa condução de bola, rapidez, intensidade, qualidade técnica para ser um bom driblador e qualidade de passe.
O problema é arranjar este jogador – mas Luís Enrique arranjou-o para o seu PSG. Depois de se destacar na Youth League aos 15 anos, frente a gente sub-19, entrou ainda cedo no plantel do PSG – na altura ainda com Pochettino, antes de Galtier e Enrique.
Depois do treino matinal com Messi e Mbappé, ia para a escola à tarde e estudava à noite, para poder acabar o secundário com bom aproveitamento – condição sine qua non imposta pela família.
Agora, já adulto, é a “cola” que une tudo. É um jogador de tremenda capacidade defensiva e um leque de recursos técnicos de grande nível. Como já chegou a dizer o treinador espanhol, ele faz tudo bem em campo.
O PSG é uma equipa que tem frequentemente dois ou mesmo três fora do momento sem bola – Mbappé, Dembélé e um outro que foi variando. E ter uma dupla ou um trio de parco trabalho defensivo requer um médio deste tipo, sob pena de a equipa se partir em duas. E foi disso que se fez o PSG nos últimos anos.
Com Zaïre-Emery, uma equipa de artistas fica mais compacta. E de repente, com alguém assim, já passa a parecer boa ideia deixá-los descansados na frente, à espera que a bola lá chegue.
Se a tudo isto juntarmos o detalhe de ser, como Mbappé, mais um miúdo dos subúrbios de Paris – e adepto do PSG desde pequeno –, então é fácil entender o impacto futebolístico e emocional de Zaïre-Emery no clube.
E agora que Mbappé vai embora será Emery, que renovou até 2029, a garantia de que é possível gastar dinheiro em craques para o ataque, como os chefões do Qatar tanto gostam.