O rei Haroldo V da Noruega vai reduzir permanentemente o número de actividades oficiais em que participa, tendo em conta a sua idade, informou a casa real no início desta semana. O anúncio surge na sequência de vários problemas de saúde que o monarca, de 87 anos, tem enfrentado ao longo dos últimos anos.
O mais antigo monarca vivo da Europa e chefe de Estado da Noruega desde 1991 foi hospitalizado de urgência, em Fevereiro, devido a uma infecção, quando se encontrava de férias na Malásia e, mais tarde, foi submetido a uma cirurgia para colocar um pacemaker, de forma a compensar o baixo ritmo cardíaco.
Haroldo retomou as suas funções de chefe de Estado no início desta semana, após quase dois meses de baixa por doença, ao mesmo tempo que anunciou a redução da agenda. Ainda assim, exclui a possibilidade de abdicar, insistindo que o juramento feito enquanto rei é “vitalício”.
“O rei fará ajustamentos à sua agenda no futuro, tendo em conta a sua idade. Isto implicará uma redução permanente do número e do âmbito das actividades em que o soberano participa”, lê-se no comunicado do palácio. A partir de agora, será o príncipe herdeiro, Haakon, de 50 anos, a marcar presença na maioria dos eventos oficiais.
Bisneto da rainha Vitória do Reino Unido, Haroldo subiu ao trono em 1991 e introduziu lentamente toques de modernidade que trouxeram para o século XXI um cargo visto sobretudo como cerimonial na Noruega.
O casamento do então príncipe, em 1968, com a plebeia Sónia Haraldsen quebrou a tradição e só foi possível depois de nove anos de impasse com o pai, o rei Olavo V ─ Haroldo chegou mesmo a ameaçar nunca mais se casar, se não conseguisse ficar com Sónia.
O rei é defensor de que as famílias reais da Europa não devem sentir-se tentadas a inverter a tendência para a abertura e a retirar-se para as torres dos seus palácios. “Se abrimos o portão, é muito difícil voltar a fechá-lo”, disse à Reuters. “Não tenho a certeza de o querer fechar. Até agora tudo bem, no que me diz respeito.”
Harald lutou nos primeiros anos para conquistar a popularidade do pai, o extrovertido Olavo, conhecido como o “rei do povo”, pelo estilo terra a terra e interacção frequente com as pessoas. Mas conseguiu manter a proximidade, deslocando-se ao local de catástrofes naturais, com botas de borracha nos pés e um casaco bem gasto, para se encontrar com as pessoas que tinham perdido casas ou entes queridos em inundações e tempestades.
Sustos de saúde
Quando o fanático anti-islâmico de direita Anders Behring Breivik massacrou 77 pessoas em 2011, o rei consolou a nação com um poderoso discurso na televisão, dizendo com uma voz trémula de emoção que “a liberdade é mais forte do que o medo”.
A casa real modernizou-se gradualmente sob a supervisão de Haroldo, com a criação de uma página oficial na Internet e a publicação das despesas anuais.
Haroldo herdou o trono apesar de ter duas irmãs mais velhas, uma prática que também beneficiou o filho Haakon, que também tem uma irmã mais velha, a princesa Märtha Louise.
Em 1990, uma alteração constitucional acabou por abrir caminho para que as mulheres nascidas a partir dessa data pudessem herdar a coroa, colocando a filha mais velha de Haakon, a princesa Ingrid Alexandra, na linha de sucessão, quando nasceu em 2004.
Os sustos de saúde de Haroldo V começaram em 2003, quando lhe foi diagnosticado um cancro na bexiga, tendo ainda, em 2005, sido submetido a uma cirurgia ao coração. Mas recuperou totalmente de ambos, apesar de se continuarem a suceder outros problemas. Em Maio passado, esteve internado fruto de uma infecção não especificada, seis meses depois de ter estado no hospital pelo mesmo motivo. Em 2021, foi operado a um joelho e, em Agosto de 2022, foi hospitalizado também devido a outra infecção, na sequência de ter contraído covid-19 uns meses antes.
Apesar da popularidade, o reinado de Haroldo não está isento de polémicas. Em 1998, o rei foi criticado pela imprensa por ter aceitado um luxuoso iate de um grupo de industriais como prenda de aniversário. Esteve novamente debaixo de fogo por ter feito obras no palácio real no valor de 500 milhões de coroas (mais de 42 milhões de euros).
Na mesma altura, o seu antigo secretário particular sugeriu que Haroldo deveria abdicar aos 67 anos, a idade normal de reforma na Noruega. No entanto, as sondagens de opinião apoiaram a permanência do rei no poder e as críticas diminuíram. Um ano mais tarde, numa entrevista à Reuters, Haroldo brincou dizendo que permaneceria no trono para o resto da vida, a não ser que enlouquecesse.