Três detidos após morte de cinco migrantes no canal da Mancha

Autoridades britânicas acusam dois cidadãos do Sudão e um do Sudão do Sul, com idades entre os 19 e os 22 anos, de “auxílio à imigração ilegal e entrada ilegal no Reino Unido”.

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Migrantes resgatados pelas autoridades francesas após morte de cinco pessoas com quem tentavam atravessar o canal da Mancha Reuters/Abdul Saboor
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As autoridades britânicas anunciaram esta quarta-feira a detenção de três homens, no âmbito da investigação à morte de cinco pessoas, incluindo uma criança de sete anos, que tentavam atravessar o canal da Mancha numa embarcação sobrelotada.

Os migrantes tinham partido de França na madrugada de terça-feira com destino a Inglaterra, mas acabaram por cair ao mar e morrer pouco depois do início da travessia, perto da praia de Wimereux. A bordo seguiam 112 pessoas, ultrapassando em mais de cinco vezes a capacidade total da embarcação. Pelo menos 55 recusaram ser resgatadas pelas autoridades francesas e conseguiram chegar à costa inglesa na noite passada, tendo já sido identificadas.

Só nesta terça-feira, o Governo britânico registou sete pequenas embarcações na rota do canal da Mancha, num total de 402 migrantes (em média, 57 pessoas por barco).

Em comunicado, a Agência Nacional do Crime do Reino Unido (NCA, na sigla em inglês) confirmou que “três homens foram detidos por suspeita de auxílio à imigração ilegal e entrada ilegal no Reino Unido”, no âmbito do inquérito conduzido pela França.

Segundo a NCA, os detidos são dois cidadãos do Sudão e um do Sudão do Sul, com idades entre os 19 e os 22 anos, que estão esta quarta-feira a ser interrogados numa esquadra no condado de Kent.

"Este trágico incidente demonstra, uma vez mais, o risco de vida que estas travessias representam e evidencia a importância de combater os gangues criminosos envolvidos na sua organização", declarou Craig Turner, director-adjunto da NCA. "Faremos tudo o que pudermos, em conjunto com os nossos parceiros em França e no Reino Unido, para identificar os responsáveis por este caso e levá-los à justiça."

As vítimas mortais são uma menina de sete anos, uma mulher e três homens. Já no início de Março, uma menina iraquiana da mesma idade, sete anos, tinha morrido afogada a poucos quilómetros da costa francesa, de onde a família tinha partido para atravessar o canal da Mancha.

Ainda na noite desta segunda-feira, horas antes de serem divulgadas as mortes, o Parlamento britânico aprovou a proposta de lei para deportar migrantes e requerentes de asilo para o Ruanda, a ser implementada ainda esta Primavera, com o alegado objectivo de dissuasão da imigração ilegal através do canal da Mancha.

O chamado "Plano do Ruanda" tinha sido anunciado há dois anos pelo então primeiro-ministro, Boris Johnson, tendo depois o apoio de Rishi Sunak. Em reacção à mais recente tragédia no canal da Mancha, o actual chefe de Governo considerou-a "mais um alerta de como este plano pode ser tão importante". "Há um certo elemento de compaixão em tudo o que estamos a fazer", disse aos jornalistas.

Contudo, a discussão da proposta arrastou-se durante meses e motivou intervenções e críticas por parte do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, do Supremo Tribunal britânico, de responsáveis de topo das Nações Unidas e do Conselho da Europa, além de inúmeras organizações de defesa dos direitos humanos.

Só em 2024, já chegaram a território britânico a bordo de embarcações precárias mais de 6200 pessoas, a maioria de nacionalidade afegã, vietnamita ou síria, segundo dados do Governo. Pelo menos 15 morreram nessa tentativa, mais do que o total de vítimas mortais registadas em 2023 (12).

Também este ano, até 14 de Abril, já tinham sido forçadas ao retorno 2134 pessoas que procuravam refúgio no Reino Unido — um número que deverá disparar com a implementação do plano de deportação para o Ruanda.

Os chamados pushbacks (ou retornos forçados) tornaram-se parte da política europeia de fronteiras, apesar de a lei humanitária internacional consagrar o direito ao pedido de asilo e determinar o princípio de não-repulsão: é proibido forçar o regresso de pessoas a países onde a sua vida e liberdade estejam ameaçadas.

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