Alguns podem lembrar-se de ver as suas malas nas mãos de nomes como Britney Spears ou Carrie Bradshaw, em O Sexo e a Cidade. A designer Nancy Gonzalez foi condenada a 18 meses de prisão pelo Tribunal Federal de Miami, na Florida, por contrabando de malas em pele de crocodilo e pitão, a partir da Colômbia. “Foi tudo por dinheiro”, acusou o procurador Thomas Watts-Fitzgerald, na segunda-feira, comparando a criadora de moda aos traficantes de droga.
Nancy Gonzalez foi detida há quase dois anos em Cali, na Colômbia, e, mais tarde, extraditada para os Estados Unidos para ser julgada. Durante vários anos, a designer enviava malas em pele de pitões e crocodilos, através de correios que as transportavam em voos comerciais para serem vendidas em lojas de luxo, como a Saks da Quinta Avenida, em Nova Iorque, ou a Harrods.
A criadora infringiu um dos mais importantes tratados internacionais, que regula a importação das peles de crocodilo ou pitão, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (Cites), à qual aderiram 183 países, incluindo Portugal.
A importação destas peles para os Estados Unidos não é proibida, mas está regulada de acordo com a Cites. Nancy Gonzalez nunca procurou cumprir as regras impostas e, entre Fevereiro de 2016 e Abril de 2019, recrutou mais de 40 pessoas, entre amigos, familiares e trabalhadores da sua marca, para o contrabando. “Se queremos resolver o problema, queremos o chefe da cocaína, não a pessoa no terreno”, comparou o procurador.
Estima-se que o valor das malas enviadas, ao longo dos três anos, ascenda a dois milhões de dólares (cerca de 1,8 milhões de euros). A defesa negou que tal valor fosse exequível, isto porque cada pele de cobra ou de crocodilo, criados em cativeiro, apenas custaria cerca de 140 dólares (131 euros). E frisa que só 1% da mercadoria importada para os Estados Unidos não tinha autorização, tendo sido usada apenas para eventos como a Semana da Moda de Nova Iorque e não para venda.
Os advogados da criadora descreveram-na como uma mulher divorciada com dois filhos, que desenhava cintos a partir da sua casa em Cali, na Colômbia. “Contra todas as probabilidades”, dizem, “criou a primeira marca de luxo de um país de terceiro mundo” e passou a figurar entre os grandes nomes da moda. “Estava determinada a mostrar aos seus filhos e ao mundo que as mulheres, incluindo as que são de uma minoria, podem perseguir os seus sonhos com sucesso e tornar-se financeiramente independentes”, defendem.
Nancy Gonzalez, que agora tem 71 anos, diz já ter pagado pelos seus crimes. Desde a detenção, em 2022, a etiqueta em nome próprio que empregava mais de 300 pessoas encerrou e declarou insolvência. O site da marca, cujas malas chegaram a ser usadas por Victoria Beckham ou Salma Hayek, já não está disponível e o Instagram oficial não faz publicações há dois anos.
“Do fundo do meu coração, peço desculpa aos Estados Unidos da América. Nunca tive a intenção de ofender um país ao qual devo imensa gratidão. Debaixo de pressão, tomei más decisões”, lamentou a designer, envolta em lágrimas.
Nancy Gonzalez já tinha sido avisada pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA em 2016 e 2017 de que estaria a infringir as regras, o que torna a sua conduta “particularmente flagrante”, disse o juiz, Robert Scola, ao proferir a sentença.
Os procuradores tinham pedido uma pena mais dura, entre 30 a 37 meses de prisão, mas o juiz declarou ter tido em conta os 14 meses que a designer passou na prisão colombiana, enquanto aguardava a extradição.
Agora, Nancy Gonzalez deverá apresentar-se às autoridades a 6 de Junho para iniciar a sentença. Até lá, fica em casa da filha, em Miami, sob vigilância das autoridades. O seu único desejo, apelou ao juiz, é sair em liberdade para ainda “abraçar por uma última vez” a mãe com 103 anos, que continua na Colômbia.