Memórias da ex-Miss EUA Cheslie Kryst chegam dois anos após a sua morte
A morte de Kryst, aos 30 anos, foi uma surpresa para quem conhecia apenas a sua faceta pública. Mas não para a mãe, a quem pedira, pouco antes, para a ajudar a concluir o seu livro de memórias.
A saúde mental é o foco do livro de memórias de Cheslie Kryst, que chega dois anos e quatro meses após a morte da Miss EUA 2024 e resulta dos escritos que a própria deixou à sua mãe, pouco tempo antes de decidir terminar a sua própria vida.
By the Time You Read This (Na altura em que leres isto, numa tradução literal), disponível nos EUA a partir desta terça-feira, assim como para compras online, é co-escrito pela sua mãe, April Simpkins, e explica “o espaço entre o sorriso de Cheslie e a doença mental” com que se debatia longe dos holofotes.
Apesar do sucesso — além da coroa de Miss EUA, tinha, aos 30 anos, concluído a licenciatura e mestrado em Direito e trabalhava como correspondente do Extra, tendo sido nomeada para um Emmy — e da alegria que imprimia à sua imagem pública, nomeadamente através das suas contas de redes sociais, Cheslie Kryst, revela agora o seu livro, passava o tempo com medo de não ser suficientemente boa.
No livro, ao qual a revista People teve acesso antes da publicação, relata-se o ódio que teve de enfrentar quando conquistou o título da mais bela do país, em que mais de uma pessoa lhe enviou mensagens a incentivá-la ao suicídio. “Tudo isto só aumentou as minhas inseguranças de longa data — a sensação de que todos à minha volta sabiam mais do que eu, que todos os outros eram melhores no meu trabalho e que eu não merecia este título”, lê-se no trecho publicado pela People.
Ao longo das suas memórias, Cheslie Kryst fala de “sentimentos de inadequação”, de achar que era “um fracasso”. Até que, conta a mãe, na manhã de dia 30 de Janeiro de 2022, recebeu uma mensagem da filha: “Primeiro, desculpa. Quando receberes isto, já não estarei viva, e fico ainda mais triste por escrever isto porque sei que te vai magoar mais...”
Pouco depois, Cheslie Kryst caía do nono andar do edifício Orion, um arranha-céus no Theatre District. Momentos antes, a também advogada tinha publicado na sua conta de Instagram uma mensagem aos seus seguidores: “Que este dia te traga descanso e paz”, seguido de um emoji em forma de coração.
April Simpkins explica que “todos os dias ela (Cheslie) lutava contra uma depressão persistente, até que não conseguiu lutar mais”, avaliando que “a sua morte não foi uma decisão espontânea, alimentada por emoções”, mas antes a forma que a filha encontrou para pôr fim a uma “dor inimaginável” e demasiadas vezes desvalorizada.
A mãe espera que o livro, cujas receitas revertem a favor da Fundação Cheslie C. Kryst, que apoia programas de saúde mental para jovens e jovens adultos, possa vir a contribuir para uma maior compreensão por quem se debate com problemas similares.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem todos os anos por suicídio, sendo que nos EUA é a décima causa de morte e a segunda em pessoas com idades compreendidas entre os 10 e os 34 anos. O Instituto Nacional de Saúde Mental do país identifica o suicídio como uma grande preocupação de saúde pública.
A OMS é clara a frisar que “os suicídios são evitáveis”, apontando para “uma série de medidas que podem ser tomadas para prevenir suicídios e tentativas de suicídio”, nomeadamente, “interagir com os meios de comunicação social para uma abordagem responsável sobre o suicídio”.
Em todo o mundo, há cerca de 30 países com um plano de prevenção contra o suicídio, e Portugal, desde 2013, é um deles, sendo que este passa pela formação dos agentes de primeira linha: profissionais de saúde dos cuidados primários, de emergência e de segurança, mas também pela identificação das populações mais vulneráveis.