Militares norte-americanos vão abandonar o Níger

Relações do país africano com Washington deterioraram-se desde o golpe militar do ano passado. Níger recebeu mercenários e equipamento russo nos últimos tempos.

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Protesto em Agadez contra a presença militar dos EUA no Níger neste sábado Stringer/REUTERS
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Os EUA vão ser mesmo forçados a retirar as suas tropas do Níger, assim como a abandonar as duas bases militares no país, depois de os militares no poder no país africano terem revogado um acordo de assistência militar com Washington.

O desfecho não é surpreendente, sobretudo depois de no mês passado um porta-voz da junta militar do Níger ter qualificado a presença dos militares norte-americanos no país como “ilegal”. Ainda assim, a Administração de Joe Biden fez esforços nas últimas semanas para tentar resgatar o acordo que vigorou durante 12 anos e que autorizava a presença militar norte-americana no país no âmbito do combate ao terrorismo na região do Sahel.

Esta semana, o secretário de Estado adjunto dos EUA, Kurt Campbell, recebeu o primeiro-ministro do Níger, Ali Lamine Zeine, em Washington para conversações, mas nada fez alterar a decisão tomada pelos governantes militares actualmente no poder, segundo uma fonte norte-americana citada pela Reuters. Na última semana, os protestos contra a presença militar norte-americana no Níger subiram de intensidade.

Nos próximos meses serão retirados os cerca de mil militares que permaneciam no Níger, num processo que também inclui o encerramento das duas bases. Uma delas, construída em 2018 em Agadez, no centro do país, estava especializada em operações com drones contra alvos ligados ao Daesh e a outros grupos jihadistas no Sahel. É conhecida como Air Base 201 e custou mais cem milhões de dólares (94 milhões de euros).

O fim da presença militar no Níger é uma consequência directa da subida ao poder da junta militar que, no Verão passado, derrubou o Presidente Mohamed Bazoum, um dos mais importantes aliados de Washington na região, que permanece em prisão domiciliária.

Tal como aconteceu no Mali e no Burkina Faso, países vizinhos do Níger onde também houve golpes militares, os laços com os EUA e os seus aliados europeus, sobretudo França, foram rapidamente substituídos por aproximações à Rússia.

Moscovo tem enviado nos últimos meses militares e equipamento para o Níger como parte do processo de aproximação aos países do Sahel. Segundo a imprensa russa, citada pelo Guardian, os mercenários pertencem à Africa Corps, o grupo paramilitar que herdou as operações no continente africano que estavam a cargo do Grupo Wagner, desmantelado pelo Kremlin após a tentativa de insurreição do seu líder, Ievgueni Prigozhin, que morreu num acidente de avião em Agosto do ano passado.

Em Dezembro, Zeine tinha visitado Moscovo para discutir o fortalecimento de laços económicos e militares com a Rússia.

Logo após o golpe no Níger, as forças francesas foram forçadas a sair da sua antiga colónia, tal como o embaixador. Em Niamey, houve várias manifestações contra a presença militar francesa no país, acusado de querer manter uma influência colonizadora.

A sucessão de golpes militares na região do Sahel e o consequente enfraquecimento das relações com potências ocidentais e aproximação à Rússia têm preocupado os EUA e os seus aliados. Para além de acreditarem que os esforços de combate às forças jihadistas no continente africano podem ficar comprometidos, o Ocidente preocupa-se com o possível corte no acesso a recursos naturais abundantes nestes países, como o urânio, no caso do Níger.

Depois de uma visita de Zeine ao Irão, no ano passado, Washington passou a suspeitar de que o Níger poderá perfilar-se como potencial fornecedor de urânio para alimentar o programa nuclear de Teerão, embora as autoridades nigerinas neguem quaisquer negociações nesse sentido.

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