Não há nada que a nossa voz não abra
Ensinam-nos na Escola de Enfermagem que a família é quem a pessoa identifica como tal. Tão simples quanto isto. É uma definição fácil de perceber quando se trabalha muito perto da doença e da morte.
Quando os meus pais decidiram viver juntos, ambos tinham filhos de casamentos anteriores. E quando nasci, alguns anos mais tarde, passei a ser a cola entre todas as partes. Os meus pais já tinham os “meus” e os “teus” e, em 1986, passaram a ter “a nossa”. Cresci, assim, numa família reconstruída à qual, por doença e debilidade física, se viriam a juntar os meus avós em 1992. Mas foi só na escola primária, já no segundo ano, que percebi, porque a professora fez questão de explicar, que a minha família não era como as outras. Todas as famílias dos meus colegas eram “famílias normais” — e, sim, foi exactamente assim que me foi dito, ao passo que a minha era reconstruída e alargada e que os meus irmãos, que eu idolatrava, eram, afinal, apenas meus “meios-irmãos”.
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