O livro sobre Stanley Kubrick que o próprio barrou será finalmente editado
The Magic Eye: The Cinema of Stanley Kubrick, livro de Neil Hornick com uma “visão imparcial” sobre o trabalho do realizador, esteve mais de meio século na gaveta.
No dia 30 de Abril, a Sticking Place Books, editora nova-iorquina dedicada à publicação de livros sobre cinema, lança The Magic Eye: The Cinema of Stanley Kubrick, livro sobre a obra de um dos realizadores fundamentais do século XX, autor de filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), The Shining (1980) ou Nascido Para Matar (1987). A obra, escrita por Neil Hornick, começou a ser pensada há mais de meio século, a propósito de uma encomenda feita ao autor pela editora The Tantivy Press. Mas viria a ser barrada pelo próprio Kubrick, após este ter lido uma versão inicial do manuscrito.
A Tantivy Press assinara um acordo com o cineasta, prometendo que não publicaria nada sem os conteúdos da obra merecerem a sua aprovação. Segundo a explicação dada agora ao diário britânico The Guardian por Neil Hornick, que hoje tem 84 anos, Kubrick terá ficado desagradado, por exemplo, com o facto de o livro ter “um sumário das coisas boas” de cada um dos seus filmes “seguido de um sumário das coisas más”. Na visão do cineasta, estes apontamentos negativos sobrepunham-se sempre aos mais elogiosos, “devido à forma excessivamente enfática” como eram apresentados.
Kubrick terá dito que as críticas “inaceitáveis” ao seu trabalho constituíam um terço do manuscrito, um texto com cerca de 70 mil palavras. Hornick foi duro para com Lolita (1962), adaptação do romance homónimo de Vladimir Nabokov, publicado sete anos antes. “No entanto, expressei grande admiração pela maioria dos seus outros filmes”, diz o autor ao The Guardian.
Filippo Ulivieri, escritor italiano e especialista na obra de Stanley Kubrick, disse ser “bastante chocante ler a correspondência entre os advogados do realizador e a editora de Neil”. “Kubrick queria um livro que elogiasse os seus filmes e o livro de Neil não era assim. Os seus filmes até então haviam sido avaliados positivamente, mas alguns críticos, especialmente em Nova Iorque, tenham feito apreciações mais negativas. Então ele precisava de um livro que fosse completamente positivo.”
The Magic Eye, continua Ulivieri, “oferece uma visão muito precisa e imparcial dos filmes de Kubrick”. É coisa rara, considera o italiano: “É muito difícil encontrar, na literatura sobre Kubrick, um único defeito [na obra do realizador] a ser apontado.”