Transplantes pulmonares aumentam, mas lista de espera estabilizou nos 70 doentes

Unidade de Cirurgia Torácica do Hospital de Santa Marta é a única instituição que realiza transplante pulmonar no país. Coordenador diz que Portugal está “muito bem” posicionado na transplantação.

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Comparando com Espanha e com todas as estratégias de doação que os espanhóis têm, verifica-se que Portugal ainda está a cerca de 60% dos órgãos que Espanha colhe Manuel Roberto (Arquivo)
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O número de doentes em lista de espera para transplante pulmonar estabilizou em cerca de 70 pessoas, apesar do aumento de intervenções, disse esta quinta-feira o cirurgião Paulo Calvinho, defendendo ser necessário mais estratégias para haver mais órgãos disponíveis para transplantar.

No dia em que a Unidade Local de Saúde São José – Hospital Santa Marta assinala, numa cerimónia em Lisboa, os 400 transplantes pulmonares realizados em Portugal desde 2001, o cirurgião torácico falou à agência Lusa dos avanços e dos desafios nesta área.

O coordenador da Unidade de Cirurgia Torácica do Hospital de Santa Marta, a única instituição que realiza transplante pulmonar no país, adiantou que Portugal está “muito bem” posicionado na transplantação, mas sublinhou que “a doação é sempre o marca-passo de um programa de transplantação”, porque os especialistas dependem deles para “poder socorrer a estes doentes”.

“A doação tem tido um desenvolvimento muito grande no nosso país. Temos uma lei muito favorável e temos hospitais de doação que têm uma dedicação de facto muito grande nesta área, mas como é óbvio precisamos ainda de melhorar mais e precisamos de aumentar o número de dadores de pulmão e o potencial é grande”, salientou.

Paulo Calvinho observou que, comparando com Espanha e com todas as estratégias de doação que os espanhóis têm, verifica-se que Portugal ainda está a cerca de 60% dos órgãos que Espanha colhe, o que significa que ainda é preciso “um longo trabalho na doação”, envolvendo todos os intervenientes, desde o Instituto Português do Sangue e Transplantação até os hospitais de doação.

“Apesar do incremento que nós temos no número de transplantes por ano, a nossa lista de espera estabilizou na casa dos 70 doentes, que é de facto significativo. E, portanto, essa nossa necessidade de poder ter mais estratégias para poder ter mais órgãos disponíveis para transplantar.” O responsável apontou também como um objectivo de futuro, que poderá ser concretizado em breve, ter “uma máquina de perfusão” que permitirá um aumento de cerca de seis a dez transplantes por ano.

Esta tecnologia pode colocar “em condições para transplantar” alguns pulmões que possam ter edema e que estejam encharcados de água, que é normal acontecer num mecanismo de morte cerebral, libertando essa água, bem como pulmões de doentes que fazem paragens cardiocirculatórias na rua e que não se consegue reanimar.

Para Paulo Calvinho que, juntamente com a pneumologista Luísa Semedo, dirige a Unidade de Transplantação Pulmonar do Hospital Santa Marta, também é importante dar um foco à multidisciplinaridade.

“Esta equipa é muito grande, extravasa o hospital (…) vai desde a referenciação destes doentes, que são todos do país”, às colheitas realizadas no “país inteiro”, e conta com o apoio de todas as estruturas que envolvem a doação e a transplantação, entre as quais a Força Aérea, o Instituto Nacional de Emergência Medica, a GNR, PSP.

Além da multidisciplinaridade, o especialista destacou também o “grande avanço” nas estratégias de comunicação e de sensibilização para a doação de pulmão, com viagens pelo país.

Do ponto de vista técnico, foram ultrapassadas três barreiras, uma das quais “a barreira de doente limite que está no extremo e que está em ECMO (apoio circulatório extracorpóreo) como ponte para transplante e fizemos já casos sucessivos de sucesso”.

“Transpusemos a marca do re-transplante e começamos a fazer a transplantação na hipertensão pulmonar que eram ainda barreiras técnicas que ainda não tínhamos conseguido atingir e que neste momento estamos em pleno. E, portanto, é um motivo de orgulho para toda a equipa com quem trabalhamos”, realçou.

Há alguns desafios técnicos e científicos relacionados fundamentalmente com a imunologia e a biologia dos doentes, sendo “absolutamente crucial” conseguir ter estratégias de aumentar a sobrevida a longo prazo.

“As sobre-vidas imediatas são boas, na casa dos 90%, 95%, mas a longo prazo há como que uma estagnação a nível Internacional e isso implica metodologias de vigilância do doente no domicílio”, disse, adiantando que estão a trabalhar nesse sentido, assim como na integração de todos os dados, porque o conhecimento que existe “é muito grande, mas precisa de ser integrado”.