A geração Z na Índia só pede duas coisas: emprego e harmonia entre grupos religiosos

As eleições na Índia arrancam esta sexta-feira, 19 de Abril, com 18 milhões de jovens a votar pela primeira vez. As sondagens prevêem um terceiro mandato de Narendra Modi mas há desejos de mudança.

"Só estudei até ao 10.º ano e tive de abandonar os estudos para sustentar financeiramente a minha família. Depois de nos mudarmos para a cidade, estamos a afogar-nos em empréstimos. Estávamos confiantes de que iríamos sobreviver de alguma forma, mas agora estamos cépticos em relação ao futuro", Katravath Santosh, 21 anos, condutor de tuk-tuk Almaas Masood/REUTERS
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"Só estudei até ao 10.º ano e tive de abandonar os estudos para sustentar financeiramente a minha família. Depois de nos mudarmos para a cidade, estamos a afogar-nos em empréstimos. Estávamos confiantes de que iríamos sobreviver de alguma forma, mas agora estamos cépticos em relação ao futuro", Katravath Santosh, 21 anos, condutor de tuk-tuk Almaas Masood/REUTERS

Para Roushan Kumar, um vendedor de flores num mercado do estado de Bengala Ocidental, no Leste da Índia, mais emprego e uma melhor educação são a prioridade. Aos 20 anos, diz que vai votar pela primeira e quer escolher um Governo que lhe ofereça exactamente isso.

As eleições na Índia, que começam na sexta-feira, 19 de Abril, são o maior acto eleitoral do mundo com mais de 18 milhões de pessoas a votar pela primeira vez. Apesar de as sondagens preverem que será o partido BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi, a vencer um terceiro mandato, novos eleitores como Roushan estão determinados a fazerem-se ouvir.

"Vou votar num partido que trabalhe para o desenvolvimento da educação. Vou votar num partido que proporcione empregos para que haja trabalho", confessou o jovem à Reuters, acrescentando que apoia Narendra Modi.

As prioridades de Roushan coincidem com as de muitas outras pessoas da mesma idade. Segundo um inquérito realizado a 1290 eleitores que votaram pela primeira vez, em Nova Deli, o aumento das tensões entre grupos religiosos, a inflação e a falta de emprego foram as principais preocupações que sobressaíram do Governo de Modi ao longo dos últimos dez anos.

Ainda assim, destaca o inquérito do centro de investigação asiático CSDS-Lokniti, quase dois terços da amostra declarou que votaria no Partido Bharatiya Janata de Modi (BJP) pelo forte historial de crescimento económico do Governo e pelo sentimento de orgulho pela construção de um grande templo hindu.

No entanto, e apesar de um crescimento mundialmente impressionante, a economia indiana tem dificuldade em criar postos de trabalho suficientes para a população. E segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho e do Instituto para o Desenvolvimento Humano (ILO, na sigla original), os jovens representam a maior parte da mão-de-obra desempregada do país.

Akansha Majumdar, que tem 20 anos e estuda engenharia, acredita que o Governo do país precisa de erradicar o analfabetismo e garantir emprego. 

"Espero que o ensino básico seja para todos. Há mais bairros de lata nas cidades do que nas aldeias. As crianças com sete ou oito anos são obrigadas a abandonar as escolas e uma educação para encontrar trabalho, para se alimentarem e às famílias. O nosso Governo tem de ajudar a proporcionar educação básica a todos. Ninguém deve ser analfabeto para o resto da vida", acrescentou.

Para aproveitar o desânimo, o Congresso Nacional Indiano, principal partido da oposição, prometeu estágios remunerados [aos mais novos]. Ao mesmo tempo, o programa eleitoral do partido de Modi foca-se na criação de emprego.

Ainda assim, a garantia de trabalho não é a única preocupação actual dos jovens: o aumento dos preços e a harmonia entre diferentes povos religiosos é outra prioridade para muitos eleitores.

Mohammad Ajaz Ansari, por exemplo, que trabalha em reparações de computadores portáteis, relembra que os combates em "nome da religião" estão em todo o lado e defende que não deveriam acontecer. Por pensar assim, o jovem de 19 anos, que vive em Deli, diz que vai votar no Partido Aam Aadmi, um aliado do partido Congresso.

"Temos muitos desempregados. Muitas pessoas na zona onde vivo estão sempre a pedir trabalho, mas não conseguem encontrar nada. Trabalham para empresas privadas por uma magra quantia de 10 mil a 12 mil rupias por mês (112 a 168 euros), o que não é suficiente para uma família sobreviver."

Nos relatórios publicados no ano passado, o Departamento de Estado dos EUA manifestou preocupação com o tratamento dado aos muçulmanos e a outras minorias religiosas na Índia, mas Modi, actual primeiro-ministro do país, nega discriminações.

"Não tenho nenhum partido favorito, mas sim, apoio o BJP (Partido Bharatiya Janata) pelo trabalho que estão a fazer pelo país. Ainda não decidi em quem votar, mas vou procurar o candidato da região onde vivo e decidir em conformidade", Rohit Tiwari, 22 anos e reparador de telemóveis
"Não tenho nenhum partido favorito, mas sim, apoio o BJP (Partido Bharatiya Janata) pelo trabalho que estão a fazer pelo país. Ainda não decidi em quem votar, mas vou procurar o candidato da região onde vivo e decidir em conformidade", Rohit Tiwari, 22 anos e reparador de telemóveis Priyanshu Singh/REUTERS
"Acredito que toda a gente deve ter uma educação e que o analfabetismo deve ser completamente eliminado. Espero que, com uma mudança de Governo, o sistema de castas possa ser abolido. Vejo muitas lutas entre hindus e muçulmanos, não vi esta divisão enquanto crescia. Só nos últimos anos é que se tornou muito frequente", Asma Hamad Shaikh, de 23 anos, é professora
"Acredito que toda a gente deve ter uma educação e que o analfabetismo deve ser completamente eliminado. Espero que, com uma mudança de Governo, o sistema de castas possa ser abolido. Vejo muitas lutas entre hindus e muçulmanos, não vi esta divisão enquanto crescia. Só nos últimos anos é que se tornou muito frequente", Asma Hamad Shaikh, de 23 anos, é professora Francis Mascarenhas/REUTERS
"Estou contente por ir votar desta vez, mas não estou muito entusiasmada. Sou dona de casa e vivo na planície do Yamuna, não estou muito a par da situação actual. Não posso ir contra a minha família e se estiverem a votar num determinado partido ou pessoa, vou votar no mesmo", Poonam, 22 anos
"Estou contente por ir votar desta vez, mas não estou muito entusiasmada. Sou dona de casa e vivo na planície do Yamuna, não estou muito a par da situação actual. Não posso ir contra a minha família e se estiverem a votar num determinado partido ou pessoa, vou votar no mesmo", Poonam, 22 anos Adnan Abidi/REUTERS
"Tenho de ir votar, é a primeira vez que vou votar e vou motivar os meus amigos e vizinhos a votarem também. O nosso país é um país democrático e é por isso que me sinto orgulhoso. Estou a pensar votar no BJP, que tem feito um bom trabalho nas zonas rurais e urbanas depois de ter chegado ao poder", Meet Khatri, 19 anos, estudante
"Tenho de ir votar, é a primeira vez que vou votar e vou motivar os meus amigos e vizinhos a votarem também. O nosso país é um país democrático e é por isso que me sinto orgulhoso. Estou a pensar votar no BJP, que tem feito um bom trabalho nas zonas rurais e urbanas depois de ter chegado ao poder", Meet Khatri, 19 anos, estudante Amit Dave/REUTERS
"Falamos de secularismo por um lado, mas ao mesmo tempo vemos coisas a acontecer e pessoas a serem assassinadas em nome da religião, é muito desanimador ver isto", Sanskar Rai, 21 anos, está a estagiar numa empresa de meios de comunicação digital
"Falamos de secularismo por um lado, mas ao mesmo tempo vemos coisas a acontecer e pessoas a serem assassinadas em nome da religião, é muito desanimador ver isto", Sanskar Rai, 21 anos, está a estagiar numa empresa de meios de comunicação digital Anushree Fadnavis/ REUTERS
"Penso que uma das grandes esperanças para a Índia seria ser mais progressista do ponto de vista social, o que implica uma abordagem mais holística dos problemas económicos e sociais. Quero que o meu país seja global, mas não copie o Ocidente; transcender para uma posição global mais sólida, escrevendo o nosso próprio caminho", Dhriti Jain, 21 anos, estudante
"Penso que uma das grandes esperanças para a Índia seria ser mais progressista do ponto de vista social, o que implica uma abordagem mais holística dos problemas económicos e sociais. Quero que o meu país seja global, mas não copie o Ocidente; transcender para uma posição global mais sólida, escrevendo o nosso próprio caminho", Dhriti Jain, 21 anos, estudante Anushree Fadnavis/ REUTERS
"Há uma enorme diferença e mudança (desde que os meus pais tinham a minha idade). No tempo deles, não havia desenvolvimento. A nossa casa era num bairro de lata e agora todos temos uma casa; não tínhamos água e agora todas as casas têm uma torneira", Roushan Kumar, 20 anos, vendedor de flores
"Há uma enorme diferença e mudança (desde que os meus pais tinham a minha idade). No tempo deles, não havia desenvolvimento. A nossa casa era num bairro de lata e agora todos temos uma casa; não tínhamos água e agora todas as casas têm uma torneira", Roushan Kumar, 20 anos, vendedor de flores Sahiba Chawdhary/REUTERS
"Temos muitos desempregados. Muitas pessoas na zona onde vivo estão sempre a pedir trabalho, mas não conseguem encontrar nada. Trabalham para empresas privadas por uma magra quantia de 10 mil a 12 mil rupias (112 a 168 euros), o que não é suficiente para uma família sobreviver", Mohammad Ajaz Ansari, 19 anos, reparador de portáteis
"Temos muitos desempregados. Muitas pessoas na zona onde vivo estão sempre a pedir trabalho, mas não conseguem encontrar nada. Trabalham para empresas privadas por uma magra quantia de 10 mil a 12 mil rupias (112 a 168 euros), o que não é suficiente para uma família sobreviver", Mohammad Ajaz Ansari, 19 anos, reparador de portáteis Priyanshu Singh/REUTERS
"Tenciono votar no BJP porque o partido tornou as coisas mais cómodas e mais fáceis para mim. A nível tecnológico fizemos progressos significativos e o nosso passaporte tornou-se mais forte. A forma como os indianos são vistos fora do país mudou, tornou-se mais fácil estabelecermo-nos no estrangeiro", Nikhita Donthula, 21 anos, estudante
"Tenciono votar no BJP porque o partido tornou as coisas mais cómodas e mais fáceis para mim. A nível tecnológico fizemos progressos significativos e o nosso passaporte tornou-se mais forte. A forma como os indianos são vistos fora do país mudou, tornou-se mais fácil estabelecermo-nos no estrangeiro", Nikhita Donthula, 21 anos, estudante Almaas Masood/REUTERS
"Acho que devemos votar no Modi. Ele fez muitas coisas e trouxe muitos novos projectos. Antes, não tínhamos qualquer valor nos países estrangeiros, mas agora toda a gente nos trata com respeito", Omprakash Aggarwal, 18 anos
"Acho que devemos votar no Modi. Ele fez muitas coisas e trouxe muitos novos projectos. Antes, não tínhamos qualquer valor nos países estrangeiros, mas agora toda a gente nos trata com respeito", Omprakash Aggarwal, 18 anos Priyanshu Singh/REUTERS
"Votarei no PDP para proteger os direitos dos muçulmanos. Não acho que as coisas estejam normais, especialmente quando o Governo interrompe as orações ou prende líderes. Quero que o partido no poder explique por que razão faz estas coisas e prove que se preocupa com a liberdade de Caxemira", Saima Tabbasum, 22 anos, estudante
"Votarei no PDP para proteger os direitos dos muçulmanos. Não acho que as coisas estejam normais, especialmente quando o Governo interrompe as orações ou prende líderes. Quero que o partido no poder explique por que razão faz estas coisas e prove que se preocupa com a liberdade de Caxemira", Saima Tabbasum, 22 anos, estudante Sharafat Ali/Reuters
"A Índia está a ficar mais rica, mas o fosso entre ricos e pobres está a aumentar. Não gosto da forma como os serviços públicos estão a ser privatizados para obter lucros. Quero um Governo que ajude toda a gente, não apenas os ricos, e que trate toda a gente de forma justa", Abbaas Kashmiri, 23 anos, estudante
"A Índia está a ficar mais rica, mas o fosso entre ricos e pobres está a aumentar. Não gosto da forma como os serviços públicos estão a ser privatizados para obter lucros. Quero um Governo que ajude toda a gente, não apenas os ricos, e que trate toda a gente de forma justa", Abbaas Kashmiri, 23 anos, estudante Sharafat Ali/Reuters
"As instalações médicas precisam de ser melhoradas, especialmente nas cidades mais pequenas e subdesenvolvidas da Índia. Há pessoas que estão a morrer de doenças comuns porque não têm acesso a medicamentos ou hospitais adequados", Saneja Wangjan, 20 anos, estudante
"As instalações médicas precisam de ser melhoradas, especialmente nas cidades mais pequenas e subdesenvolvidas da Índia. Há pessoas que estão a morrer de doenças comuns porque não têm acesso a medicamentos ou hospitais adequados", Saneja Wangjan, 20 anos, estudante Francis Mascarenhas/REUTERS
"Tenciono votar no BJP porque vejo que a mudança está a chegar. Estamos a desenvolver-nos como nação e como superpotência à escala mundial", Sayed Ali, 24 anos, trabalha como gestor de marcas
"Tenciono votar no BJP porque vejo que a mudança está a chegar. Estamos a desenvolver-nos como nação e como superpotência à escala mundial", Sayed Ali, 24 anos, trabalha como gestor de marcas Francis Mascarenhas/REUTERS
"Espero que o ensino básico seja para todos. As crianças são obrigadas a abandonar as escolas e a sua educação para encontrar trabalho para se alimentarem a si e às suas famílias. Ninguém deve ser analfabeto para o resto da vida", Akansha Majumdar, 20 anos, estudante
"Espero que o ensino básico seja para todos. As crianças são obrigadas a abandonar as escolas e a sua educação para encontrar trabalho para se alimentarem a si e às suas famílias. Ninguém deve ser analfabeto para o resto da vida", Akansha Majumdar, 20 anos, estudante Sahiba Chawdhary/REUTERS