Estudantes pediram a palavra para falar da Palestina — e Marcelo deu

Há 55 anos, Alberto Martins pediu a palavra e deu início à Crise Académica. Esta quarta-feira, estudantes de Coimbra imitaram o gesto para exigir um cessar-fogo “imediato e permanente” na Palestina.

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"Pedimos a palavra porque o silêncio é ensurdecedor", lia-se na tarja erguida pelo movimento Coimbra pela Palestina PAULO NOVAIS / LUSA
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Estudantes de Coimbra aproveitaram, esta quarta-feira, 17 de Abril, a cerimónia de celebração dos 55 anos da Crise Académica de 1969 para pedir a palavra, desta vez para falar da Palestina, e Marcelo Rebelo de Sousa, presente na iniciativa, concedeu-lhes a oportunidade. Pouco antes de o Presidente da República discursar na cerimónia de homenagem à Crise Académica de 1969 e a Alberto Martins, presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) naquele ano, alguns estudantes envergaram uma tarja com as cores da bandeira da Palestina, onde se lia: "Pedimos a palavra porque o silêncio é ensurdecedor".

"Queremos falar, queremos falar", pediam os estudantes, imitando o gesto protagonizado por Alberto Martins durante o Estado Novo, a 17 de Abril de 1969, e que marcou o início da Crise Académica.

Depois de os pedidos serem ignorados pela dirigente da AAC que fazia as notas introdutórias de cada um dos oradores, Marcelo Rebelo de Sousa deu nota do protesto, constatando de que haveria quem quisesse falar. "Aproximem-se os que querem falar. Venham, venham", pediu o Presidente da República.

A estudante de Biologia da Universidade de Coimbra Joana Coelho avançou, tomou a palavra e chamou a atenção para "um assunto que toda a gente está a ignorar", realçando que já morreram "mais de 30 mil pessoas" na Faixa de Gaza, desde Outubro de 2023. "Temos de falar sobre isto. Está a acontecer um genocídio. Os nossos colegas têm as universidades bombardeadas. Nós temos de falar sobre isso", vincou. Joana Coelho defendeu, numa intervenção curta, "o reconhecimento do Estado da Palestina independente" e um cessar-fogo "imediato e permanente".

No início do seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que Portugal sempre defendeu o direito da Palestina "a um Estado independente".

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, escuta o discurso da estudante da Universidade de Coimbra e membro do movimento Coimbra pela Palestina, Joana Coelho, que pediu a palavra e falou Paulo Novais/Lusa

Em declarações à agência Lusa, Joana Coelho, do movimento Coimbra pela Palestina, explicou que os estudantes recolheram no passado assinaturas para convocar uma assembleia magna para discutir o assunto, mas que a mesma reunião de estudantes foi marcada para um período não lectivo e acabou interrompida por "falta de quórum". A estudante acusa a actual direcção-geral da AAC de tentar demover o assunto e silenciar essa mesma luta.

Questionado pela Lusa, o presidente da AAC, Renato Daniel, disse que a posição da actual direcção-geral "é muito clara, da existência de paz e da existência de soberania de todos os estados". "Já apresentámos a nossa moção e agora está em período de auscultação com estes colegas para a submissão de propostas de alteração que esperemos que tenha espaço numa futura magna", disse. O presidente recusou ainda qualquer tentativa de silenciamento da causa, referindo que os estudantes têm de respeitar a ordem de trabalhos das magnas e que, numa situação, isso não aconteceu.

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Presidente da República assinalou os 55 anos da Crise Académica de 1969 Paulo Novais/Lusa

Na assembleia magna de Março, a presidente daquele órgão ameaçou com a chamada de segurança quando Joana Coelho fez uma intervenção sobre a Palestina, segundo vídeo da TvAAC. "É assim que a mesa decidiu, é assim que vai ser", disse a responsável da magna, que mais tarde viria a adiar a discussão de uma moção sobre a Palestina por não haver quórum.

Na acta da assembleia magna de Janeiro, é referido que Renato Daniel se recusa a fazer uma distinção de vidas humanas, defendendo uma posição genérica que manifeste o pesar "pelos milhares de vidas perdidas na Palestina e Israel".