Oficiais de justiça em vigília esperam que Governo “finalmente dê atenção à Justiça”
“Faltam cerca de 1500 a 1800 oficiais de justiça nos tribunais”, alertou Valter Figueiredo, um dos organizadores do movimento espontâneo da classe.
Os oficiais de justiça “estão exaustos” e com a falta de recursos humanos que existe, há risco de “ruptura na Justiça”, alertou Valter Figueiredo, um dos organizadores do movimento espontâneo da classe e da vigília que se realizou em frente à Assembleia da República. “Temos a expectativa que seja este o Governo que finalmente dê atenção à justiça”, disse.
Ao contrário da concentração que fizeram em Fevereiro deste ano – que se realizou em simultâneo em Lisboa, Porto, Faro e nas ilhas —, a concentração dos últimos dois dias, e que terminou esta sexta-feira, não saiu da frente do Parlamento, onde se debateu e votou o programa do novo Governo. Valter Figueiredo estima que por ali passaram cerca de 70 colegas, alguns dos quais estiveram naquele local nos dois dias.
Disse terem comunicado a todos os grupos parlamentares que estariam ali em vigília, pedindo melhores condições de trabalho e mais recursos humanos. “Alguns deputados vieram ter connosco, do Chega e do Livre. Explicámos que estamos na mesma situação há 20 anos. Perceberam a situação e disseram que iam interceder pela resolução dos problemas que afectam a justiça”, contou a PÚBLICO.
Valter Figueiredo explicou que há três pontos que gostariam de ver resolvidos no espaço de um mês ou o mais tardar até às férias judiciais. A começar pela “integração do suplemento de recuperação processual no vencimento”.
Outro “é o pagamento das horas extraordinárias”. “Não é preciso nenhuma alteração de estatutos, está em todas as leis. Ou que seja compensado de outra forma”, disse, apontando de seguida o terceiro ponto essencial a resolver: “A abertura de procedimentos concursais para a contratação de mais oficiais de justiça.”
“Faltam cerca de 1500 a 1800 oficiais de justiça nos tribunais. No último concurso, dos 200 que entraram quase metade desistiram. Para fixar as pessoas tem de haver salários condignos”, apontou Valter Figueiredo, ilustrando as dificuldades que sentem com o relatório de uma oficial de justiça que esteve na vigília.
Foi colocada no último concurso e teve de vir viver para Lisboa. "Paga cerca de 500 euros por um quarto. Recebe de ordenado líquido 851 euros. É uma licenciada numa carreira especial com dever de permanência”, apontou Valter Figueiredo, referindo que a continuar nesta situação, a solução será deixar a profissão.
Este retrato, igual a tantos outros, faz o oficial de justiça sugerir que “o subsidio de residência ou de fixação, que já existe para o Algarve e para as ilhas, possa ser alargado a outros locais onde o custo da habitação é alto”.
E a situação da falta de recursos humanos pode agravar-se, alertou, com as aposentações previstas para este ano, elevando para "perto de 2000" a falta de oficiais de justiça. “Estamos em luta não só por nós. Continuamo-nos a esforçar para que não haja uma ruptura a pensar nos cidadãos, para que haja uma justiça célere e próxima das pessoas”, disse.