Isolada nas moções de rejeição, esquerda acusa PS de se pôr do lado do Governo

Mortágua critica PS por dizer que “não ajuda” o Governo, mas desafiá-lo a pôr uma “moção de confiança”. E Paula Santos diz que o chumbo das moções “deixa claro quem se opõe” e “quem apoia” a direita.

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As bancadas do PS, do BE e do PCP no Parlamento DR
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O chumbo já estava anunciado e acabou por se confirmar: as moções de rejeição ao Programa do Governo do Bloco de Esquerda (BE) e do PCP foram reprovadas com a abstenção do PS, que deixou assim a esquerda isolada. Numa altura em que os bloquistas pedem convergências à esquerda, esta foi mais uma pedra no caminho dos antigos parceiros de "geringonça", já depois do acordo que o PS fez com o PSD para eleger o Presidente da Assembleia da República e do desafio de Pedro Nuno Santos ao Governo para negociar um orçamento rectificativo.

BE e PCP não deixaram de o assinalar no debate sobre o Programa do Governo desta sexta-feira, acusando o PS de "se afastar da esquerda desde 2022" e de "dar a mão" ao PSD. "O PS diz que não ajuda" o Governo, "mas desafia a que coloque uma moção de confiança que teria o mesmo resultado se aprovasse a moção de rejeição", criticou Mariana Mortágua, numa declaração de voto oral, após o chumbo das moções de rejeição.

A líder do BE censurava os "jogos de sombra" instalados, tanto pelos socialistas como pelo PSD, que acusa de querer governar, mas agradecer "se for impedido de o fazer", numa referência ao desafio que Luís Montenegro fez para que a oposição apresentasse uma moção de censura. Mas também pelo Chega, que tanto "quer liderar a oposição", como "quer ir para o Governo", e votou "envergonhado ao lado do PSD", afirmou.

A coordenadora do BE reiterou ainda as críticas ao Programa do Governo, que considera que é "para muito poucos". E colou os socialistas a esse "caminho", em que diz que "não há nada de novo, inovador ou moderno". O PS já fez essa "opção errada e que o levou a afastar-se da esquerda", atirou.

Na mesma linha, a líder parlamentar do PCP considerou que a reprovação da moção "deixa claro" que existem dois lados: o que se "opõe" e o que "apoia e contemporiza com as opções da política de direita" ou "se associa ao retrocesso e ao regresso do tempo da troika". "Por mais que falem com voz grossa, no momento da verdade, lá estão a dar a mão a estas opções", disse.

Defendendo a moção de rejeição do PCP, Paula Santos insistiu ainda que o Programa do Governo "não dá resposta aos problemas do povo e do país, como ainda os agravará" e colocou as bancadas da direita todas no mesmo saco por estarem "sempre disponíveis para favorecer os lucros das grandes empresas, obtidos à custa da apropriação dos salários dos trabalhadores".

A abstenção do PS, que já tinha anunciado que não iria inviabilizar o início da governação da AD, não foi a única nas bancadas mais à esquerda. O Livre votou favoravelmente a ambas, mas vai apresentar uma declaração de voto escrita por não se rever nas matérias que dizem respeito à União Europeia e à guerra na Ucrânia na moção do PCP, sabe o PÚBLICO. E o PAN absteve-se na moção do BE e votou contra a dos comunistas.

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