Caraíbas: um paraíso que luta

Todos ouvimos falar das Caraíbas como algo paradisíaco — e por agora é! — mas não ouvimos falar de como é também uma das regiões na linha da frente da crise climática.

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Passei o final de Março num Acampamento por Justiça Climática nas Caraíbas, após meses a organizá-lo em conjunto com organizações locais, regionais e globais.

Cheguei a Sint Maarten a 22 de Março, para os últimos preparativos antes do arranque do evento. De 28 a 31 de Março, 120 activistas de mais de 25 nações da região das Caraíbas juntaram-se nestes que foram quatro dias de partilha, aprendizagem e co-criação de estratégia política para alcançar justiça climática.

Nos passados dois anos, tive o prazer de organizar eventos como este, mas à escala global, na Tunísia e no Líbano. Neste dois anos, conseguimos reunir cerca de mil activistas de mais de 100 países do Sul Global, de forma a criar redes de contacto globais que resultaram em novas iniciativas climáticas por todo o mundo. Nestes eventos, em que o foco está na intersecção entre clima e (in)justiça social, visamos criar uma plataforma na qual jovens das áreas mais afectadas pela crise climática se possam conhecer, partilhar conhecimento e trabalhar em conjunto para travar esta que é uma crise sem fronteiras.

Desta vez, o foco foi numa só região, as Caraíbas. Todos ouvimos falar das Caraíbas como algo paradisíaco — e por agora é! mas não ouvimos falar de como é também uma das regiões na linha da frente da crise climática. Aqui, comunidades enfrentam desafios sociais, de saúde e económicos sem precedentes, enquanto a crise climática agrava ameaças de eventos extremos como ondas de calor e inundações permanentes devido à subida do nível do mar. A região é altamente vulnerável aos impactos da crise climática devido à sua localização geográfica, áreas costeiras de baixa altitude e dependência de recursos naturais para os meios de subsistência. Estes pequenos estados insulares, apesar de constituírem uma das áreas do mundo mais afectadas pela crise climática, não recebem atenção proporcional no palco global.

Ao mesmo tempo, existem inúmeros colectivos que trabalham em áreas desde direitos humanos e descolonização, a justiça social e climática. E foi assim que a ideia surgiu: activistas caribenhos que tinham marcado presença na Tunísia e no Líbano consideraram imprescindível fazer algo à escala regional, de forma a unificar o apelo por acção climática nas várias ilhas.

Durante estes dias, contámos com inúmeros workshops e sessões que tiveram como foco quatro áreas: transição energética, adaptação e resiliência, género e clima, e conservação marinha. Discutiram-se soluções, estabeleceram-se colaborações transfronteiriças e começou-se a trabalhar rumo à SIDS4, a 4.ª Conferência Internacional sobre Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, que acontecerá em Antigua e Barbuda em Maio.

Christine Samwaroo, de Guiana e uma das participantes do acampamento, contou-nos sobre como a maioria dos países das Caraíbas são recentemente independentes, com economias pequenas, infra-estrutura fraca e ainda a enfrentar os efeitos duradouros de um passado colonial violento. Sendo muitas vezes deixados de fora das conversas sobre justiça climática, já está mais do que na hora de vozes caribenhas serem ouvidas.

Numa região onde activistas raramente se conseguem reunir, pelo quão difícil é viajar de ilha em ilha, foi a primeira vez que muitos dos presentes se conheceram e tiveram a oportunidade de descobrir mais do que se passa no contexto único da sua própria região. Nas palavras de Christine, este encontro faz parte da solução radical que precisamos para a crise climática. Afinal de contas, “conseguem imaginar os nossos ancestrais e como eles se devem estar a sentir, ao verem a sua linhagem a voltar a unir-se?”

Para Riddhi Samtani, de Sint Maarten, não se trata apenas de enfrentar a crise climática mas de rescrever a narrativa dos futuros colectivos daquelas ilhas. Esperança, resistência e mudança foram algumas das palavras destacadas nas suas intervenções. Mikaela Loach, autora Jamaicana-Britânica, acrescenta ainda “o nosso povo sobreviveu a ameaças existenciais da escravidão e do colonialismo antes, e é através desse conhecimento ancestral de resistência que vamos conquistar justiça climática.”

O mundo vivido nessa semana é uma pequena amostra daquilo pelo qual, por todo o mundo, estamos a lutar: um mundo em que ninguém é deixado para trás e em que todos vivemos com dignidade. Em emergência climática, perder a luta não é opção. Eventos como este são sobre solidariedade e união global; e uma coisa é certa: quando nos unimos enquanto comunidade, contamos as nossas histórias, partilhamos conhecimento e recursos, e unificamos estratégias políticas, podemos alcançar mudanças reais.

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