Oposição vence legislativas na Coreia do Sul e deixa o Presidente Yoon em maus lençóis
PD e os seus aliados aumentam maioria, mas a oposição ao PPP não deve chegar, em conjunto, a dois terços do Parlamento – nesse cenário, teria deputados suficientes para destituir o chefe de Estado.
O Presidente da Coreia do Sul, o conservador Yoon Suk-yeol, sofreu um duro golpe, depois de o Partido Democrático (PD, liberal), na oposição, ter conseguido renovar (e ampliar) a sua maioria na Assembleia Nacional após as eleições legislativas realizadas esta quarta-feira.
Segundo a agência noticiosa sul-coreana Yonhap, com mais de 90% dos votos contabilizados nos 254 círculos eleitorais do país, o PD estava à frente em 160, incluindo em vários da área metropolitana de Seul, enquanto o Partido do Poder Popular (PPP, conservador), de Yoon, só liderava em 91 – deve, no entanto, chegar aos 110 deputados.
Numa eleição que foi vista por muitos analistas como um verdadeiro “referendo” a Yoon, eleito há apenas dois anos, a única boa notícia para ele é a de que toda a oposição, em conjunto, não deve conseguir eleger dois terços dos 300 deputados da Assembleia, como chegou a ser sugerido pelas sondagens à boca das urnas reveladas pelas principais emissoras sul-coreanas.
Nesse cenário, a oposição teria deputados suficientes para alterar a Constituição, para ultrapassar vetos presidenciais e, mais relevante, para lançar um processo de destituição ao chefe de Estado.
O Partido da Reconstrução da Coreia (PRC, progressista), fundado há um mês pelo ex-ministro da Justiça Cho Kuk, está a caminho de eleger até 15 deputados, mas não deve conseguir ajudar a oposição a chegar à meta dos dois terços (200 deputados).
Estas contas incluem tanto os 254 deputados eleitos nos respectivos círculos eleitorais, como os 36 deputados escolhidos através do método de distribuição proporcional dos votos pelos partidos – o PRC, por exemplo, só concorreu nesta segunda votação.
Os resultados finais só devem ser conhecidos quinta-feira de manhã (final da noite desta quarta-feira ou madrugada de quinta-feira em Portugal continental).
Mesmo não alcançando os dois terços da Assembleia Nacional, a oposição sul-coreana terá, ainda assim, capacidade para continuar a travar a maior parte das leis e reformas propostas e prometidas por Yoon Suk-yeol quando foi eleito Presidente, em 2022.
Não podendo recandidatar-se em 2027 – a Constituição do país asiático só permite um único mandato presidencial, de cinco anos –, o Presidente arrisca seriamente ficar mais três anos sem conseguir implementar o seu programa e, consequentemente, sem deixar um legado político digno de nota.
“O PPP fez o seu melhor para fazer políticas que defendam a vontade do povo, mas os resultados das projecções são decepcionantes”, admitiu Han Dong-hoon, líder do PPP, citado pela Yonhap.
Até ao final do mandato, é expectável que Yoon se foque na política internacional, nomeadamente no reforço da aliança estratégica com os Estados Unidos e na continuação da política de tolerância zero com as ameaças da vizinha Coreia do Norte.
De acordo com a Comissão Eleitoral Nacional, 67% dos eleitores registados (quase 29,7 milhões de pessoas) participaram nas eleições desta quarta-feira, dados que fazem destas legislativas as mais participadas de sempre na Coreia do Sul.
Em desaceleração económica e numa profunda crise demográfica, a quarta maior economia da Ásia vive um período de inflação e de aumento significativo do custo de vida da população, que, somado a alguns escândalos que envolveram a mulher do Presidente e alguns antigos membros do Governo, atiraram a popularidade de Yoon para níveis mínimos.
Antigo procurador que prometeu lutar conta a corrupção, baixar os impostos e levar a cabo reformas estruturais no sistema de saúde, na segurança social e na legislação laboral, Yoon foi eleito em 2022 com apenas mais 0,73% dos votos que o seu adversário, o actual líder do PD, Lee Jae-myung.
Envolvido num caso de alegado suborno e corrupção, Lee conseguiu, ainda assim, guiar o partido a uma nova vitória, nesta quarta-feira, reforçando, dessa forma, a sua candidatura para as próximas eleições presidenciais.