Pesquisas no Google sobre dores oculares disparam. Qual é a relação com o eclipse?
Google registou um aumento das pesquisas sobre dores de olhos durante o eclipse do Sol. Oftamologistas têm avisado que olhar directamente para o Sol pode queimar a retina.
O eclipse total do Sol que foi observado durante a tarde entre o México, os Estados Unidos e o Canadá não foi o único evento raro a registar-se nas últimas horas. Quase ao mesmo tempo que milhões de pessoas voltavam os olhos para o céu para testemunhar o momento em que a Lua cobriu o Sol, a Google registava um outro fenómeno no seu motor de busca: as pesquisas relacionadas com dores nos olhos começaram a disparar e atingiram um pico entre as 19h e as 20h de Portugal Continental — precisamente no intervalo temporal em que se deu o momento alto do eclipse.
O resultado é sempre o mesmo, independentemente da combinação de expressões que se teste no Google Trends, a ferramenta da gigante tecnológica que permite analisar a evolução das pesquisas na Internet. A origem dessas pesquisas não deixa margem para erros: embora a tendência tenha acontecido a nível mundial, a esmagadora maioria delas vem precisamente dos países onde o eclipse solar total foi observado com maior intensidade — México, Estados Unidos e Canadá.
Enunciados como "eyes hurt" (em português literal, "olhos doem"), "why do my eyes hurt" ("porque é que me doem os olhos") ou "eyes hurt eclipse" (traduzido para "olhos doem eclipse") — todos registaram um aumento de popularidade à medida que o fenómeno astronómico se intensificava durante a noite de segunda-feira. E as pesquisas prolongaram-se durante horas ao longo desta terça-feira.
Os motivos parecem fáceis de deslindar: apesar dos apelos dos oftalmologistas para não se olhar directamente para o Sol — apelos esses que foram persistentes na América nas semanas anteriores ao eclipse — alguns curiosos podem ter arriscado a observação do eclipse sem materiais seguros para a visão. São raros os casos de doenças prolongadas ou crónicas causadas por exposições rápidas à luz solar directa, mas o Observatório Astronómico de Lisboa já alertou que "uma má utilização dos filtros solares ou de aparelhos de observação, assim como a observação directa, podem causar cegueira instantânea ou gradual sem regressão".
Os especialistas consideram mesmo "absolutamente imperiosa" a utilização de filtros solares adequados porque eles reduzem a exposição à radiação solar que pode prejudicar a visão — a ultravioleta, visível e infravermelha. Essa radiação pode queimar as células da retina, que "pode literalmente ficar cozida por este efeito", diz também o Observatório Astronómico de Lisboa.
Esse efeito é indolor, mas pode causar visão enevoada, o aparecimento de uma área negra à frente do olho e o surgimento persistente de uma imagem que parece como que "gravada" nos olhos muito depois da observação. "O resultado final é a diminuição de acuidade visual, que nos seis meses seguintes pode ou não melhorar", diz o observatório.
Há, por isso, uma lista de seis regras para ser observar a estrela mais próxima da Terra, durante um eclipse ou não, em segurança: "Nunca observar o Sol directamente sem filtros solares oculares", "nunca usar óculos escuros ou radiografias", "nunca usar os filtros solares oculares" em combinação com "telescópios" ou "câmaras fotográficas", "nunca fazer uso dos filtros solares oculares já utilizados" ou antigos e "nunca exceder a observação contínua com óculos de protecção especial por períodos de mais 30 segundos, fazendo sempre intervalos de 3 minutos de descanso".
São dicas que deve manter em mente porque não tardará até que Portugal esteja na rota de um novo eclipse solar. A 29 de Março de 2025 será possível observar um eclipse parcial do Sol no continente e nas ilhas (que também puderam assistir ao fenómeno esta segunda-feira). No ano seguinte, a 12 de Agosto de 2026, Bragança estará no estreito corredor de um eclipse total do Sol — que, no resto do país, será parcial, mas com a Lua a tapar bem mais do que 90% da estrela mais próxima da Terra.