Aliado do primeiro-ministro pró-russo vence eleições presidenciais da Eslováquia
Peter Pellegrini, antigo chefe do Governo eslovaco e aliado de Robert Fico, derrotou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e candidato pró-europeu Ivan Korcok.
O antigo primeiro-ministro eslovaco Peter Pellegrini, aliado do actual chefe do Governo, Robert Fico, conhecido pelas suas posições pró-russas, venceu a segunda volta das eleições presidenciais da Eslováquia, realizada no sábado.
Pellegrini, líder do partido Hlas (A Voz) e presidente do Parlamento eslovaco, obteve 53,26% do total de votos, contra os 46,73% do seu opositor, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e candidato pró-europeu nesta eleição, Ivan Korcok. Pellegrini vai substituir Zuzana Caputova, também pró-europeia, que decidiu não se recandidatar.
Apesar de não ter poderes executivos, o Presidente da Eslováquia pode vetar legislação ou enviá-la para o Tribunal Constitucional e tem competências para nomear juízes para aquela instância judicial. Isto pode ter importância especial, diz o site Politico, numa potencial luta sobre reformas que Fico quer levar a cabo para diminuir substancialmente as penas por crimes de corrupção.
Pellegrini foi, em 2018, escolhido por Fico, então primeiro-ministro, para ocupar a chefia do Governo quando o próprio Fico deixou o cargo na sequência de grandes protestos públicos depois do assassínio do jornalista de investigação Jan Kuciak e da sua namorada Martina Kusnirova.
Apesar de ter entretanto saído do partido de Fico e fundado a sua própria formação política, juntou-se ao Governo quando o partido do primeiro-ministro nacionalista de centro-esquerda e simpatizante da Rússia Direcção – Social-democracia (Smer) venceu as últimas eleições legislativas, realizadas em Setembro do ano passado. A coligação incluiu o Smer, de Fico, o Hlas, de Pellegrini, e ainda os ultranacionalistas pró-russos do SNS.
A oposição acusa Pellegrini de, enquanto presidente do Parlamento, não ter feito nada para impedir o que considera um ataque de Fico à Justiça, incluindo o fim de um organismo público estabelecido há 20 anos para investigar casos de corrupção e crimes graves, que tinha acusado vários membros do Smer e estava encarregado da acusação dos potenciais responsáveis pelo assassínio de Kuciak e Kusnirova, segundo a BBC.
O Governo de Fico também apresentou planos para abolir a emissora pública do Estado e substituí-la por outra sob controlo praticamente total do Estado. Esses planos, diz ainda a BBC, foram suspensos quando Pellegrini ficou em segundo lugar na primeira volta das presidenciais há duas semanas.
O medo da oposição é que os planos voltem a ser apresentados agora, e que sejam aprovados com a luz verde do novo Presidente.
No seu discurso de vitória, no sábado à noite, Pellegrini disse que o Governo de Fico podia contar com o seu apoio, em vez de uma “oposição oportunista”.
Mais moderado que Fico, Pellegrini também apostou, no entanto, numa campanha semelhante à do primeiro-ministro para as legislativas, em que Fico prometeu acabar com o apoio militar da Eslováquia ao país invadido pela Rússia. A Eslováquia foi, sob o Governo anterior, uma forte aliada da Ucrânia, enviando sistemas de defesa aérea e toda a sua frota de caças MiG-29 (vários analistas sublinharam que entretanto já não havia muito mais material militar para enviar, pelo que a promessa de Fico não tinha uma enorme relevância).
Na campanha para as presidenciais, Pellegrini acusou o seu opositor de ser um belicista e de querer armar a Ucrânia a todo o custo, chegando mesmo a sugerir que Korkoc pudesse mandar militares eslovacos para combater na Ucrânia, algo que o candidato da oposição negou.
“Farei tudo para que a Eslováquia permaneça sempre do lado da paz e não do lado da guerra”, prometeu Pellegrini, citado pela Reuters.
“É possível ganhar uma campanha retratando o outro como o candidato da guerra. Não esquecerei isto”, disse, por sua vez, Korcok, acrescentando que foram “o medo e o ódio” que decidiram o desfecho da votação.