151 criativos judeus assinam carta aberta de apoio às declarações de Jonathan Glazer nos Óscares

Joaquin Phoenix, Tom Stoppard ou Debra Winger consideram ataques a Glazer uma “perigosa distração” da escalada militar em Gaza e denunciam o seu “efeito silenciador” na indústria cinematográfica.

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Ao ser distinguido com a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro por Zona de Interesse, Glazer reprovou o que considera a utilização do judaísmo e do Holocausto para legitimar a ocupação israelita de Gaza Arturo Holmes/Getty Images
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Em Zona de Interesse, Jonathan Glazer filma o dia a dia na casa idílica do comandante de Auschwitz, paredes-meias com o campo de concentração DR
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Joaquin Phoenix, Joel Coen, Todd Haynes, Debra Winger, Tom Stoppard, Mike Leigh e Ira Sachs são alguns dos actores, artistas e criativos judeus entre os 151 signatários de uma carta aberta de apoio a Jonathan Glazer, o realizador britânico, também ele judeu, que tem sido acusado de promover o anti-semitismo depois de, na mais recente cerimónia dos Óscares, onde foi distinguido com a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro por Zona de Interesse, ter dado conta da sua reprovação do que considera a utilização do judaísmo e do Holocausto para legitimar a ocupação israelita de Gaza, “que conduziu a um conflito que afecta tantos inocentes”.

“Ficámos alarmados ao ver alguns dos nossos colegas da indústria descaracterizarem e denunciarem as suas observações", lê-se na carta aberta revelada esta sexta-feira na revista norte-americana Variety, “Os seus ataques a Glazer são uma perigosa distracção da escalada da campanha militar de Israel, que já matou mais de 32 mil palestinianos em Gaza e levou centenas de milhares à beira da fome”.

Manifestando-se de luto por todos os mortos “na Palestina e em Israel” no decorrer das longas décadas de conflito, “incluindo os 1200 israelitas mortos nos ataques do Hamas em 7 de Outubro e os 253 reféns feitos", os signatários denunciam o “efeito silenciador” que os ataques a Glazer têm na indústria cinematográfica, “contribuindo para um clima mais amplo de supressão da liberdade de expressão e da discordância, precisamente as qualidades que o nosso meio deveria prezar”.

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Glazer durante o seu discurso nos Óscares Frank Micelotta/Disney via Getty Images

Após o discurso na cerimónia dos Óscares do mês passado, aplaudido pela plateia no Dolby Theatre, em Los Angeles, Jonathan Glazer, cujo filme oscarizado, Zona de Interesse, se coloca no coração do terror anti-semita, ou seja, na casa de família idílica do comandante nazi de Auschwitz, Rudolph Höss, paredes-meias com o campo de concentração, foi alvo de várias críticas. Numa carta aberta publicada no site da Fundação dos Sobreviventes do Holocausto, David Schaecter, presidente da instituição americana, 94 anos, acusou o realizador de usar “a plataforma dos Óscares para equiparar a brutalidade maníaca do Hamas contra israelitas inocentes à autodefesa difícil, mas necessária, de Israel”. Classificou os comentários de Glazer como "factualmente imprecisos e moralmente indefensáveis”.

Noutra carta aberta publicada pouco após os Óscares, centenas de criativos judeus de Hollywood, entre os quais Eli Roth, Jennifer Jason Leigh ou Julianna Marguiles, defenderam que, com as suas declarações, Glazer estabelecera uma “equivalência moral entre um regime nazi que tentou exterminar um povo e uma nação israelita que procura evitar o seu próprio extermínio”. Também o realizador húngaro judeu Lászlo Nemes, autor de Filho de Saul, que segue um sonderkommando, ou seja, os prisioneiros responsáveis por acompanhar os recém-chegados às câmaras de gás e retirá-los das mesmas após o seu assassinato, deu conta do seu desagrado. Em declarações ao britânico Guardian, afirma que o realizador britânico "devia ter ficado em silêncio em vez de revelar que não compreende a história e as forças que destroem a civilização, antes ou depois do Holocausto".

Em sentido contrário, Piotr Cywinnski, director do Museu de Auschwitz, defendeu Glazer, considerando que este “emitiu um alerta moral universal contra a desumanização”. Tony Kushner, argumentista de Spielberg em Munique ou Lincoln, considerou o discurso de Glazer “irrefutável”: "o que ele está a dizer é que a identidade judaica e a nossa história, a história do Holocausto e o sofrimento, não podem ser usados como uma campanha que visa desumanizar ou massacrar os outros", afirmou ao diário israelita Haaretz.

Na carta aberta agora publicada, os signatários, que se definem como “orgulhosamente judeus”, denunciam “o armamento da identidade judaica e da memória do Holocausto para justificar o que muitos especialistas em direito internacional, incluindo os principais estudiosos do Holocausto, identificaram como um ‘genocídio em construção’". Declaram: "Rejeitamos a falsa escolha entre a segurança dos judeus e a liberdade dos palestinianos".

Também Ken Loach saíra esta semana em defesa de Jonathan Glazer. Em entrevista à Variety publicada esta terça-feira, o veterano realizador inglês defendeu a utilidade do discurso do seu compatriota, por quebrar “o estereótipo de que todos os judeus apoiam o que Israel está a fazer, o que não é claramente o caso”.

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