Discurso de Jonathan Glazer sobre Israel, nos Óscares, gera polémica

Autor do premiado A Zona de Interesse, filme passado em Auschwitz, defendeu que o judaísmo e o Holocausto estão a ser usados como argumento para legitimar “ocupação”.

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A Zona de Interesse valeu a John Glazer o Óscar de Melhor Filme Internacional Carlos Barria/Reuters
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O discurso do realizador Jonathan Glazer nos Óscares, onde o seu filme sobre Auschwitz e o Holocausto A Zona de Interesse colheu, na madrugada de segunda, a estatueta de Melhor Filme Internacional, está a dividir opiniões. Após subir ao palco com o produtor James Wilson para receber o prémio, Glazer, que é judeu, afirmou que ambos reprovam que o judaísmo e o Holocausto estejam a ser utilizados como forma de legitimar uma “ocupação” que tem comprometido gravemente “tantas pessoas inocentes, quer as vítimas da ofensiva de 7 de Outubro, em Israel, quer as do ataque em curso” na Faixa de Gaza. Ao mesmo tempo que a sua tomada de posição está a merecer aplausos, idênticos aos que recebeu da plateia na própria cerimónia, há também quem esteja a condenar veementemente os seus comentários.

É o caso de David Schaecter, presidente da Fundação dos Sobreviventes do Holocausto, nos Estados Unidos. Numa carta aberta publicada esta terça-feira no site da organização, o responsável diz ter assistido com “angústia” enquanto Jonathan Glazer usava “a plataforma dos Óscares para equiparar a brutalidade maníaca do Hamas contra israelitas inocentes à autodefesa difícil, mas necessária de Israel face à barbárie continuada” do mesmo grupo. “Os seus comentários foram factualmente imprecisos e moralmente indefensáveis”, acrescentou Schaecter, que tem 94 anos.

“A ‘ocupação’ de que fala não tem nada que ver com o Holocausto. O direito de o povo judeu viver na terra de Israel antecede o Holocausto em centenas de anos. O cenário político e geográfico dos dias de hoje é o resultado directo de guerras iniciadas por antigos líderes árabes que se recusaram a aceitar o povo judeu como seu vizinho na nossa pátria histórica”, defende o responsável, para quem Glazer “escolheu usar o Holocausto para validar a sua opinião pessoal”. “Você fez um filme sobre o Holocausto e ganhou um Óscar. E é judeu. Bom para si. Mas é vergonhoso que presuma falar em nome dos seis milhões de judeus, incluindo um milhão e meio de crianças, que foram assassinados [durante a II Guerra Mundial] apenas por causa da sua identidade judaica”, escreve.

Contrariamente a David Schaecter, a Breaking the Silence está solidária com Jonathan Glazer. Numa reacção partilhada nas redes sociais, esta organização israelita, criada e composta por soldados veteranos, aplaudiu o realizador por repudiar “a utilização cínica do judaísmo e do Holocausto” para justificar a ocupação da Palestina. “Recusamo-nos a aceitar a facilidade com que o sangue e as vidas de civis são usados como justificação para ideologias políticas, ou então como moeda de troca”, escreveu no X, ex-Twitter, a Breaking the Silence.

Algumas figuras presentes na cerimónia dos Óscares, como Billie Eilish (que, com What was I made for, escrita com o irmão Finneas O’Connell para o filme Barbie, venceu o Óscar de Melhor Canção Original) ou o actor Mark Ruffalo, usaram nas suas roupas um pequeno alfinete vermelho pedindo um cessar-fogo imediato em Gaza.

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