Não será caso para dizer que os espumantes estão a dar a volta à cabeça dos espanhóis, mas a verdade é que estão cada vez mais adeptos das borbulhas. Pelo menos das melhores, já que subiu no ano passado o valor da importação de vinhos e os especialistas dizem que isso se deve à compra de espumantes. Ganha sobretudo a França, como sempre, mas Portugal parece estar também no bom caminho.
Mesmo sendo o maior exportador mundial (e terceiro produtor, depois de França e Itália), o país vizinho gastou no ano passado quase 380 milhões de euros com a importação de vinhos. Os números foram agora analisados pelo Observatório Espanhol do Mercado do Vinho – a partir dos dados da administração tributária – e apontam maioritariamente para o crescimento da importação de espumantes com Denominação de Origem. Cada vez mais caros, já que ao acréscimo de valor das importações (4,1%) correspondeu um decréscimo em volume (-13,2%).
Num contexto dominado por França e Itália (74%), os compradores espanhóis parecem estar também a valorizar os vinhos portugueses. Portugal é o seu terceiro maior fornecedor e o valor médio por litro (2,85€) representa um salto de 31,3% no ano passado, e é já superior ao dos vinhos italianos (2,60€). No caso de França, entramos num outro mundo. O relatório indica um aumento de 13,3% das importações e um preço médio de 16,28€ por litro, que atribui essencialmente aos vinhos de Champanhe, enquanto os Prosecco representam o grosso das importações de Itália.
Para o incremento do preço dos vinhos portugueses não é apontada qualquer razão especial, não sendo plausível que tenha a ver com a compra de espumantes. Talvez, no futuro, caso os espanhóis venham a descobrir os espumantes da Bairrada. Basta ver o que acontece com a Quinta das Bágeiras, que tem já na Galiza um dos seus melhores mercados. E mais houvesse que mais consumiriam, pelo que a questão é mesmo saber o que acontecerá se os espanhóis descobrem os espumantes da Bairrada.
Pela longa tradição e conhecimento instalados na região, mas sobretudo pelo carácter fresco e marcadamente gastronómico, os espumantes bairradinos, principalmente os Baga Bairrada, prenunciam um casamento de sucesso com o estilo de consumo de nuestros hermanos. A diversidade de tapas, pinchos, presunto e frituras crocantes, estão mesmo a pedi-los.
E a prova de que os consumidores espanhóis estão cada vez mais adeptos dos espumantes é que este crescimento das importações acontece ao mesmo tempo que também os seus Cava recuperam o mercado interno. Embrulhados na trapalhada política com as reivindicações de independência, os espumantes da Catalunha acabaram por sofre uma espécie de boicote por parte do resto dos espanhóis, num movimento que fez florescer o nascimento de espumantes por todas as outras regiões, mas de qualidade embrionária que não terá sido também alheia ao crescimento das importações.
Passada a turbulência geopolítica, os Cava acabam de anunciar que foram os espumosos que mais cresceram em Espanha em 2023, representando 87,7% do mercado. Ao todo, venderam 252 milhões de garrafas, mais 2,7 milhões que em 2022. Números gigantescos face não só aos da Bairrada mas de toda a produção nacional.
Praticamente concentrada em duas regiões - Bairrada e em Távora-Varosa -, que respondem por mais de três quartos do total, o engarrafamento de espumantes DOC não deverá andar longe dos 5 milhões de garrafas. Os números do ano passado não são ainda conhecidos, mas em 2022 a Bairrada certificou à volta de 3,3 milhões de garrafas, enquanto em Távora-Varosa se reivindicava 35% da certificação nacional. Toda com espumantes de qualidade, ou seja, com espumantização em garrafa, pelo método clássico, e um tempo mínimo de estágio antes da entrada no mercado.
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