China deu nomes a 30 lugares na fronteira disputada dos Himalaias. Índia rejeita gesto “insensato”
Governo indiano diz que “a atribuição de nomes inventados não altera a realidade de que o Arunachal Pradesh é, foi e será sempre uma parte integrante e inalienável da Índia”. Disputa vem de 1959.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia reagiu esta terça-feira ao anúncio do fim-de-semana do Ministério dos Assuntos Civis da República Popular da China, relativo à atribuição de nomes chineses a 30 pontos geográficos situados na região fronteiriça dos Himalaias que é disputada entre os dois países há mais de 60 anos, rotulando o gesto de “insensato” e criticando Pequim.
“A China tem insistido nas suas tentativas insensatas de renomear lugares no estado indiano de Arunachal Pradesh. Rejeitamos firmemente tais tentativas”, declarou o ministério num comunicado, citado pelo jornal Hindustian Times. “A atribuição de nomes inventados não altera a realidade de que o Arunachal Pradesh é, foi e será sempre uma parte integrante e inalienável da Índia.”
Na véspera, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, já tinha dito aos jornalistas que a China “não ganhava nada em mudar os nomes” dos lugares em causa.
“Se eu mudar o nome da vossa casa, ela passa a ser minha?”, questionou, citado pela Reuters. “Arunachal Pradesh era um Estado indiano, é um Estado indiano e continuará a sê-lo no futuro.”
No domingo, a imprensa estatal chinesa noticiou que o Ministério dos Assuntos Civis tinha adicionado na véspera 30 novos nomes no mapa da região a que chama Zangnan e que diz fazer parte da zona Sul da região autónoma do Tibete.
O South China Morning Post, jornal de Hong Kong, explicou mais tarde que foram atribuídos nomes a 11 áreas residenciais, 12 montanhas, quatro rios, um lago, um desfiladeiro e um terreno. Nomes que já constam no mapa actualizado no site do ministério.
“Em conformidade com as disposições relevantes do Conselho Estatal [Governo] sobre a gestão dos nomes geográficos, nós, em conjunto com os departamentos competentes, padronizámos alguns nomes geográficos em Zangnan da China”, anunciou o Ministério dos Assuntos Civis, citado pelo Post.
Disputa histórica
A disputa entre os dois gigantes asiáticos na região dos Himalaias começou em 1959, na sequência da descolonização britânica do território indiano. China e Índia reivindicam vários territórios numa fronteira com quase quatro mil quilómetros e que percorre cinco estados indianos; e entraram em guerra por eles, em 1962.
Dos acordos de cessar-fogo que puseram fim à guerra sino-indiana resultou a demarcação de uma linha de separação conhecida por Linha de Controlo Real (LAC, na sigla em inglês), em redor do qual, nas décadas seguintes, os dois Exércitos construíram estradas, pistas de aterragem e quartéis, militarizando a região.
A tensão e a situação securitária agravaram-se significativamente em Junho de 2020, na sequência de confrontos entre soldados de ambos os lados no vale Galwan, na região de Ladakh, no Noroeste da Índia, que faz fronteira com Aksai Chin – um território reivindicado pelos indianos, mas controlado pela China desde 1962. Mais de 20 soldados indianos morreram, não havendo registo do número de vítimas do lado chinês.
Foi o confronto mais mortífero nos territórios disputados em mais de quatro décadas e tanto Pequim como Nova Deli acusaram-se de “provocações”, de “violação dos compromissos históricos” e de “responsabilidade” pela invasão de território alheio.
Os últimos confrontos, que, segundo o Governo indiano, fizeram “feridos de ambos os lados”, aconteceram no final de 2022, junto à fronteira disputada entre o Arunachal Pradesh e o Tibete chinês, com a Índia a acusar a China de “tentativa de alteração unilateral do statu quo”.
O Governo de Narendra Modi já tinha dado conta da sua indignação com as autoridades chinesas quando estas actualizaram o mapa oficial da China, no final de Agosto do ano passado, incluindo nele territórios disputados com a Índia, com as Filipinas, com a Malásia, com o Vietname, com a Rússia, com o Nepal e com Taiwan, atribuindo, por exemplo, 90% da soberania do mar do Sul da China ao Estado chinês.