Coimbra defende urgência para preservar lampreia no Mondego

A região de Coimbra pede medidas urgentes para garantir a continuidade da lampreia. A preservação da “espécie emblemática do Rio Mondego” pode estar em risco.

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Nelson Garrido
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A Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra defendeu nesta segunda-feira uma tomada "urgente" de medidas para inverter o declínio da população da lampreia no rio Mondego.

A CIM da Região de Coimbra apelou "à urgente tomada de medidas por parte das entidades competentes para inverter o declínio da população de lampreias no rio Mondego", em comunicado enviado à agência Lusa. Segundo a mesma nota, a CIM manifestou a sua "profunda preocupação" com a redução acentuada de lampreias naquele rio, na última reunião do conselho intermunicipal, que decorreu a 22 de Março.

Para a Região de Coimbra, a redução drástica que se tem verificado nos últimos anos "coloca em risco a preservação desta espécie emblemática do rio Mondego, com graves impactos no ecossistema e na economia local".

Em Fevereiro, a Câmara de Penacova decidiu cancelar o Festival da Lampreia, face à escassez daquele peixe; já a Câmara de Montemor-o-Velho, cujo presidente lidera a CIM da Região de Coimbra, decidiu à mesma avançar com o certame, que decorreu em Março.

De acordo com a nota da CIM, o director do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), Pedro Raposo, marcou presença no último conselho intermunicipal, onde abordou a escassez de lampreia no Mondego.

Em Fevereiro, o especialista em peixes anádromos (espécies que, como a lampreia, se reproduzem em água doce, mas que se desenvolvem no mar) defendeu a proibição da pesca daquele peixe para garantir a sua recuperação, em declarações à Lusa.

"A situação piorou. É uma sucessão de anos maus. 2017, 2019, 2022 e 2023 foram anos maus, motivados pela seca e por outras situações que ainda não se consegue explicar, visto que há um desconhecimento do que acontece com a espécie no mar, em que pode haver mais mortalidade", disse, na altura, Pedro Raposo.

O investigador explicava que a situação não era exclusiva de Portugal, mas que o país conta com a agravante de ser o limite sul de distribuição da espécie.

Se, no passado, a seca e consequente redução do caudal dos rios poderia explicar as quebras da população que sobe os rios, este ano "os caudais não são maus", mas a situação não melhorou e "tudo leva a crer que possa ser o pior ano" desde que a equipa regista a passagem da lampreia no açude-ponte de Coimbra.

Naquela passagem pelo Mondego, rio onde a pesca de lampreia é uma tradição ancestral, registaram-se apenas 295 espécimes em 2017, 717 em 2019, 1328 espécimes em 2020, 832 em 2022, e 1508 em 2023, registos muito distantes dos valores máximos (mais de 20 mil em 2014 e cerca de 11 mil em 2018).

"Se fôssemos coerentes, deveríamos fechar a pesca. A qualquer animal deveria ser dada a oportunidade para se reproduzir, se não daqui a sete anos [ciclo de vida da lampreia] será ainda pior", defendeu, na altura, o director do MARE.