António Morgado faz história em Volta a Flandres dominada por Van der Poel
O “Bigode Voador” foi quinto classificado, o melhor resultado de sempre de um português na sua estreia em “Monumentos”. Campeão do mundo Van der Poel iguala máximo de vitórias na prova.
Mathieu Van der Poel venceu pela terceira vez a Volta a Flandres, mas para os portugueses a história do dia é outra: António Morgado foi quinto classificado, alcançando o melhor resultado luso de sempre no "Monumento" belga.
Na sua estreia nas provas-rainha do calendário de clássicas, o ciclista de 20 anos tornou-se apenas o terceiro português a conseguir um resultado nos cinco primeiros lugares de um dos cinco "Monumentos" do calendário, depois de Acácio da Silva (quinto na Liège-Bastogne-Liège e quinto na Volta a Lombardia) e de Rui Costa (terceiro na Volta a Lombardia e terceiro e quarto em duas edições consecutivas da Liège-Bastogne-Liège). Foi também o terceiro ciclista mais jovem desde 1945 a terminar um "Monumento" no top 10.
Voltemos a Mathieu Van der Poel. O neerlandês da Alpecin-Deceuninck voltou a mostrar ser o classicómano em melhor forma nesta temporada de clássicas de "pavé". Vindo de um triunfo na E3 construído num histórico ataque solitário a 40 quilómetros do fim da corrida e de um segundo lugar na Gent-Wevelgem, o campeão do mundo entrou na "De Ronde" como grande favorito – mais ainda devido à ausência de Tadej Pogacar, vencedor da edição de 2023, e do eterno rival, Wout Van Aert.
Como já é regra na actual era do ciclismo, a corrida foi lançada a todo o gás e os ataques começaram bem longe da meta, já depois de formada uma fuga que esteve sempre controlada. A cem quilómetros, Mads Pedersen, Stefen Kung, Julian Alaphilippe e outros do lote de candidatos abriram as hostilidades. Mathieu Van der Poel ainda esboçou algumas acelerações, mas, isolado de colegas de equipa, manteve a frieza e evitou responder às primeiras movimentações, deixando que o caos instalado tratasse de segurar quem se aventurava em ataques.
Da primeira ronda de embates saiu o ex-campeão do mundo Mads Pedersen. O dinamarquês da Lidl-Trek manteve-se na dianteira da prova cerca de trinta quilómetros, até ao Kwaremont, a primeira das principais dificuldades reservadas para a fase final da prova.
A estrada trata de pôr todos os ciclistas no devido lugar, e colocou Van der Poel no comando minutos mais tarde. A 45 quilómetros da meta, o campeão do mundo e bicampeão da Volta a Flandres entrou no mítico Koppenberg na frente do grupo principal, ultrapassou o escapado Iván García Cortina e não mais voltou a ser apanhado. Perto de si, só Matteo Jorgenson, da Visma-Lease a Bike, e Mads Pedersen, os únicos adversários que conseguiram passar a subida sem sair da bicicleta. Mathieu Van der Poel não se deixou alcançar pelos dois, que pagaram caro o esforço realizado para tentar fechar o espaço e acabaram por fechar o dia fora dos vinte melhores.
???????????? ???? ???????? ??
— Eurosport (@eurosport) March 31, 2024
Riders push their bikes up the Koppenberg as Mathieu Van der Poel powers away with only Matteo Jorgensen being able to follow ?????#FLCS pic.twitter.com/WCDgzhlS4C
Por esta altura, António Morgado, que nos primeiros quilómetros da prova chegou a tentar entrar em fugas, ainda passava despercebido nos grupos que a subida definia. O "Bigode Voador" fez o seu primeiro "Monumento" em crescendo, e chegou ao momento das decisões no segundo grupo perseguidor, à procura de apanhar Alberto Bettiol e Dylan Teuns, escapados na terra de ninguém em busca do pódio.
A vantagem do neto de Raymond Poulidor foi aumentando gradualmente e chegou a ser superior a um minuto e meio. Van der Poel cruzou a meta em Oudenaarde com um minuto de avanço para os adversários. Um triunfo que deixou o próprio incrédulo.
"A minha época já é um sucesso. Ganhar na Flandres como campeão do mundo é muito especial. É algo que tenho de assimilar", resumiu o vencedor, que considerou esta edição a mais dura que disputou, devido às condições meteorológicas.
O grupo de António Morgado acabou por apanhar os dois aventurados (com bastante trabalho do português) e a decisão do melhor dos restantes foi em sprint num grupo de nove elementos. Luca Mozzato e Nils Politt (colega de Morgado) fecharam o pódio, com o português a cerrar os dentes e a conseguir o histórico quinto lugar.
Com a vitória este domingo, Mathieu Van der Poel volta a marcar o ponto na história do ciclismo. Aos 29 anos, é o sétimo a vencer três vezes a "De Ronde", somando agora cinco "Monumentos". Terá no próximo domingo mais uma oportunidade para ampliar o palmarés, com a Paris-Roubaix uma prova em que ainda não quer pensar, depois de ter chegado “esgotado” à meta. António Morgado também vai estar no "Inferno do Norte", onde o colega de equipa Rui Oliveira conseguiu em 2023 o melhor resultado de um português: foi 52º.