Como extensão de um doce lar, uma padaria Azeda em São João da Madeira
António e Bárbara conheceram-se em Londres, mas regressaram a Portugal para criar os filhos com menos bulício e mais natureza. Agora criam pão e bolos de massa-mãe, entre móveis antigos e artesanato.
António era de Lisboa, Bárbara de São João da Madeira e, sem se conhecerem, ambos rumaram a Londres para ali trabalharem como chefs. Na metrópole britânica, apaixonaram-se e traçaram os seus planos de futuro: constituir família e, então, regressar a casa, para, em Portugal, criarem os filhos sob menos azáfama e pressão, entre mais família e natureza.
Com sete anos de experiência na bagagem, despediram-se do Reino Unido em 2018 e instalaram-se numa quinta de Milheirós de Poiares, no município de Santa Maria da Feira, onde equacionaram abrir um restaurante, mas, conscientes de toda a máquina humana e técnica que isso exigia, preferiram optar por um alojamento local. Bárbara recorda esses tempos como “muito românticos”, mas pouco práticos: “Tínhamos uma horta e queríamos criar as nossas próprias coisinhas, fazer o nosso pão e servi-lo em mesas comunitárias, mas fizemos um reality check e percebemos que, naquele local, não ia funcionar, porque um conceito assim só tinha retorno no Porto ou em Lisboa.”
A solução foi substituir o sonho de um restaurante com o seu próprio pão pelo de uma padaria com as suas próprias refeições. Assim nasceu a marca Azeda, que, em plena pandemia, começou por vender os seus pães de massa-mãe apenas nas redes sociais e gradualmente conquistou uma clientela que se fez leal a essas criações de travo mais amargo, textura densa e validade prolongada. E quando a cozinha de casa se mostrou pequena para os anseios culinários dos dois chefs, foi então que Bárbara e António começaram a procurar um espaço onde as suas criações pudessem ter plateia ao vivo.
“Escolhemos esta loja em São João da Madeira sobretudo por um motivo”, conta António, ao balcão da padaria Azeda: “De tudo o que vendíamos no Instagram, só 1% era para São João, mas, quando fomos a ver, três clientes eram mesmo aqui desta rua, a Alão de Morais.” Uma dessas freguesas falou-lhes de um estabelecimento vago, sucederam-se as negociações com a senhoria e foi assim que, num prédio antigo, daqueles com áreas grandes, pé direito alto e ainda com a porta original em ferro, o casal criou então uma extensão de sua casa.
À entrada, do lado direito, há fotografias dos miúdos seguras por molas da roupa, entre desenhos e bordados; logo depois, estende-se um balcão virado para a parede, com vista para ilustrações de frutas e legumes; a seguir, outro balcão encara a cozinha e o cenário real da sua lida quotidiana; pelo meio da sala, as mesas dispõem-se sob vasos de plantas naturais, suspensas do tecto por macramé; mais à esquerda, um móvel amarelo que Bárbara resgatou da drogaria do avô guarda livros de culinária bem manuseados; e, ao lado, os cestos que acomodam grandes pães, de trigo e centeio, de sementes, de azeitona, de passas e nozes, etc.. É verdade que, em certas tardes, esses tabuleiros estão vazios, porque o stock tem tendência a esgotar-se de manhã e, para evitar desperdício, a gerência só aumenta a produção sob encomenda prévia. Mas, em compensação, a fechar o círculo do mobiliário há sempre o consolo da vitrina que exibe grandes cookies de amendoim, palmiers bem espessos, folhados altos de chocolate negro e outros bolos de dimensão generosa – além de produtos de fabrico próprio como sal de citrinos e alecrim, ou pão ralado, croutons e granola, todos elaborados por via da fermentação lenta.
Enquanto os clientes saboreiam kombucha ou lattes de bebida vegetal, barram torradas com compota ou ovos mexidos, ou misturam mel e cereais no seu iogurte, na cozinha, à vista de todos, tanto se pode estar a confeccionar croissants e brioches para abastecer hotéis de Aveiro como a cozinhar os pratos do almoço, de acordo com uma ementa semanal divulgada à terça-feira de manhã. “Temos sempre um prato vegetariano e outro de carne ou peixe, e tanto podemos fazer ramen como pizza de massa-mãe, panquecas de kimchi ou rabanada de cogumelos ou frango”, revela Bárbara. Para sobremesa, há sobretudo os doces da padaria, mas a chef admite que, em dias mais folgados, a Azeda pode servir mimos adicionais como tiramisu ou mousse de chocolate com amendoim.
Já o café, a rematar a refeição, é 100% arábica, moído no local e servido em louças catitas. Na escolha desses materiais, há o cuidado de privilegiar artesanato e design de autor, o que, aliás, é transversal a toda a decoração da casa, de espírito colaborativo: as cerâmicas são Golden Byrd, os vimes da Maria das Cestas, os arranjos naturais da Pé de Flor, os macramés da CordDesign. “Queremos que tudo seja autêntico”, realça António. “Isso ajuda o cliente a interiorizar que, aqui, tudo é artesanal e o mais natural possível.”