Mitsubishi Colt, menos potência para mais economia
A nova geração Colt é, basicamente, o rebadge do Renault Clio, mas o utilitário japonês arrisca num trunfo diferente: o motor mil a gasolina mais acessível, que o gémeo francês não tem em Portugal.
Não há enganos: o rebranding é assumido sem artifícios. Afinal, depois de um intempestivo anúncio de que estaria de saída da Europa, uma vez que não tinha gama adequada aos regulamentos locais, a Mitsubishi decidiu manter o negócio em solo europeu, recorrendo às sinergias da Aliança. Ou seja, pegando em modelos Renault e colando-lhes o seu logótipo e detalhes do seu ADN. Mas não o suficiente para que alguém deixe de identificar um Captur num ASX ou um Clio num Colt. Não é a situação ideal, mas antes uma maneira de prosseguir o “business as usual” até à chegada das novas gerações dos modelos de base nipónica (e a primeira novidade chega ainda este ano, com um novo Outlander, que já conduzimos e sobre o qual falaremos em breve).
Também não se pode falar de uma má decisão: os Renault são modelos bem-sucedidos e, no caso específico do Colt, a última renovação do Clio trouxe mais tecnologia, equipamento e eficiência, além de se apresentar como um bom compromisso em todos os aspectos, da funcionalidade à dinâmica, do conforto à agilidade. E, com a nova mecânica híbrida de 145cv, foi recentemente coroado Citadino do Ano em Portugal.
A Mitsubishi, porém, não se ficou pela gama com que o Clio é proposto em território nacional e decidiu, além de adoptar uma mecânica tricilíndrica de 90cv, também disponível com o Renault, apostar num bloco a gasolina de 1.0 litros e injecção multiponto de três cilindros, associada a uma caixa manual de cinco velocidades, a debitar 65cv de potência e 95 Nm de binário.
A decisão permitiu criar propostas comerciais que arrancam nos 18.490 euros (17.690€, com campanha a pronto pagamento, ou 16.540€, com campanha que inclui financiamento) e que fazem com que, entre o segmento B, seja um dos mais baratos.
E apesar de haver quem torça o nariz aos 65cv, argumentando tratar-se de pouca potência para as exigências do quotidiano dos tempos actuais, a experiência provou o contrário. É certo que a ficha técnica atesta que não faz acelerações relâmpago (são precisos 17,1 segundos para ir de 0 a 100 km/h), e a velocidade máxima é apenas de 160 km/h, mas a mecânica ainda se presta a ser trabalhada e parece desejosa que lhe abram a alma. Carece de alguma paciência e bom jogo de pés (não será a escolha ideal para quem não gosta de conduzir ou para quem vê as caixas manuais como uma tortura), mas ao fim de pouco tempo, e com a maior parte dos percursos feitos em terreno urbano, já nos esquecemos por completo das suas limitadas prestações. Até porque, com as vias nacionais pejadas de radares, não andar muito depressa até pode ser uma bênção para a carteira (e para a carta de condução!).
A coisa muda de figura quando se abraça a estrada, onde o Colt 1.0 MPI deverá ser conduzido com atenção aos seus limites. Sem ninguém à frente, até pode ser divertido (em subida, precisará frequentemente de algum ânimo, reduzindo a posição da transmissão), mas se uma ultrapassagem se revelar necessária é bom que haja espaço suficiente para que se consiga executá-la em segurança. Em auto-estrada, basta não haver pressa para que a viagem se realize de forma tranquila. Isso e embalar o carro antes de enfrentar uma longa subida.
De resto, o que depressa se percebe é que este é um automóvel sem grandes pretensões, mas capaz de cumprir a sua missão primordial: levar-nos do ponto A ao ponto B sem quaisquer dificuldades – e até com uma benesse: os seus 65cv não são famintos e facilmente se coloca os consumos médios na casa dos cinco litros (a homologação WLTP é de 5,2 l/100 km, com emissões de CO₂ na ordem dos 118 g/km).
Igual, mas diferente
O nome Colt já contabiliza mais de 60 anos de história, ainda que a Portugal tenha chegado apenas no fim da década de 1980. E foi determinante para o sucesso da Mitsubishi no “campeonato” dos ligeiros de passageiros (e também no desporto motorizado). Com a carreira interrompida em 2013, a Mitsubishi recupera agora o Colt, sabendo da importância do segmento B num mercado como a Europa. E, apesar da partilha de praticamente todos os componentes que também fazem o Clio, o foco foi para criar distinções que os tornassem menos gémeos.
O Colt, por exemplo, integra o Dynamic Shield, com o símbolo formado pelos três diamantes da Mitsubishi, e apresenta um design específico de luzes de circulação diurna, em LED, que cortam as laterais da frente na horizontal. Na traseira, o lettering Mitsubishi surge a rasgar o carro de ponta a ponta, o que transforma a percepção da sua largura (parece efectivamente mais largo do que é), enquanto, mesmo na versão mais despida, com jantes de aço de 15 polegadas, se optou por umas estilizadas que tornam a presença em estrada mais sofisticada.
No interior, o destaque vai para o foco na conectividade, com um sistema compatível com Apple CarPlay e Android Auto. E, na versão de entrada, Kyoto, que se casa com o modelo de 65cv, a lista de equipamento revela-se abrangente, com espelhos com rebatimento eléctrico, ar condicionado automático, volante forrado a couro, câmara traseira com sensores de estacionamento e cruise control.
Com um comprimento de 4053mm e uma distância entre eixos de 2583mm, a vida a bordo será sempre mais acolhedora para quem se senta à frente. Os lugares traseiros conseguem acomodar três adultos, é certo, mas com sacrifício do conforto, nomeadamente no espaço para pernas — e, por isso, serão mais adequados a transportar crianças (adultos são bem-vindos, mas desde que os trajectos sejam curtos).
A arrumação na mala de 340 litros consegue ser razoável para um utilitário e há espaços espalhados pelo carro para guardar a carteira, poisar o telemóvel, as chaves e outros pequenos objectos. Não é excelente, como de resto em quase todas as suas valências, mas arriscamo-nos a declarar que o razoável pode ser um muito bom compromisso.