Maria do Céu Gonçalves tinha adiantado em primeira mão ao PÚBLICO há coisa de um ano: o grupo Terras & Terroir, nascido do investimento feito na Quinta da Pacheca (Douro) há pouco mais de dez anos, estava já a explorar uma propriedade em Valpaços, cujos primeiros vinhos chegariam em breve ao mercado. Desde que comprara no concelho a Quinta Dona Adelaide, onde construíram o Olive Nature Hotel & Spa, que a pergunta se repetia: e vinhos em Trás-os-Montes, vão querer produzir?
A propriedade onde ergueram o hotel, e onde têm também a componente de eventos, tal e qual acontece na Pacheca, não tinha vinha, mas o grupo liderado pela empresária tem privilegiado o dois em um nos seus investimentos: produção de vinho, preferencialmente já a funcionar, com adega, equipas e tudo o mais pronto a pegar, e enoturismo ou possibilidade de o instalar.
Em comunicado, enviado às redacções esta quinta-feira, o grupo vem confirmar a sua entrada na região vitivinícola de Trás-os-Montes, através da aquisição da marca Valle de Passos, precisamente de Valpaços, onde o PÚBLICO sabe que a Terras & Terroir encontrou há já algum tempo uma oportunidade para, numa primeira abordagem, começar por explorar as vinhas de uma transmontana emigrante, que as herdou recentemente.
A marca Valle de Passos tem já "referências de vinhos tintos, brancos e rosés de grande qualidade" e enologia de Francisco Gonçalves, refere a administração na tal nota, acrescentando que os vinhos são sobretudo para exportação e estão já presentes em mercados como os EUA, Canadá ou Brasil, para além dos destinos tradicionais na Europa.
“A região de Trás-os-Montes é a região sensação na forma como tem vindo a fazer vinhos de qualidade. É das denominações de origem mais recentes, mas a cultura vínica é milenar”, nota a administração, no comunicado enviado. "É esta história que queremos carregar e que está em linha com o espírito de criação deste grupo económico, de valorizar e preservar o que de melhor se faz em cada uma das regiões vitivinícolas”. Curiosamente Trás-os-Montes é a terra de Maria do Céu Gonçalves, que tem como sócios Álvaro Lopes e Paulo Pereira.
Em Fevereiro de 2023, a empresária dava conta da estratégia a três anos: estar em sete regiões vinícolas. O império fundado por dois portugueses que cresceram e se fizeram empresários em França, hoje gerido a seis mãos, já estava no Douro, no Dão, na Bairrada e no Alentejo. Chega agora a Trás-os-Montes. E tem na mira as regiões dos Vinhos Verdes e do Algarve, região onde já terá estado mais longe de produzir vinho, sabe o PÚBLICO.
Sem contar com Trás-os-Montes, eram já de 300 hectares a área de vinha que o grupo trabalhava e 200 os seus colaboradores, só em Portugal. Só Ribafreixo Wines, comprada em Setembro de 2022, trazia para a operação 114 hectares de vinha na Vidigueira, no Alentejo.
O grupo tem uma mão-cheia de hotéis na calha, para erguer nos próximos anos. O mais próximo de ser inaugurado será o Quinta do Barrilário, no Douro, muito perto da Quinta da Pacheca e do seu The Wine House Hotel. No site do projecto, já é possível fazer reservas. Para este ano ainda, estava prevista a reabertura de outro hotel em Lamego, junto ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, e que estava fechado há mais de uma década, depois de os donos da Pacheca terem firmado um contrato de exploração durante 50 anos. Terá 35 quartos.
No Douro, a Terras & Terroir já tinha as Vila Marim Country Houses, em Mesão Frio, e o Folgosa Douro Hotel, em Armamar.
Para lá de 2025, a expectativa é poder abrir também uma unidade hoteleira no Dão, na propriedade dos Caminhos Cruzados. Esse hotel estará em fase de estudo de arquitectura.