Anabela Rodrigues é a primeira mulher negra portuguesa eurodeputada no Parlamento Europeu

Artivista e afrodescendente, Anabela Rodrigues foca-se em políticas de imigração e antirracistas. Até às eleições europeias, marcadas para o início de Junho, é eurodeputada do BE em Bruxelas.

Foto
Anabela Rodrigues é eurodeputada do Bloco de Esquerda Anabela Rodrigues
Ouça este artigo
00:00
04:58

É membro do Bloco de Esquerda (BE), uma das vozes na luta contra o racismo e contra a “Europa fortaleza”, mediadora social e cultural, presidente do Grupo do Teatro Oprimido de Lisboa, “artivista” e, na terça-feira, 26 de Março, fez história ao tornar-se na primeira mulher negra portuguesa a ter um lugar no Parlamento Europeu.

Anabela Rodrigues, 47 anos, já concorreu a duas eleições europeias e integrou as listas do BE nas legislativas de 10 de Março, pelo círculo de Lisboa, em 4.º lugar. Ficou fora da Assembleia da República, mas substituiu agora Marisa Matias no Parlamento Europeu, pelo menos até às eleições europeias que se realizam entre 6 e 9 de Junho.

A mudança foi anunciada pela ex-eurodeputada que se senta pela primeira vez na Assembleia da República. “Que orgulho será ouvir a sua voz na Europa”, escreveu, no Instagram, sobre Anabela Rodrigues, que assim se junta ao segundo eurodeputado do BE em Bruxelas, José Gusmão.

A eurodeputada é filha de pais cabo-verdianos, nasceu em Lisboa e cresceu no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, onde ainda vive. Num dos discursos da campanha eleitoral apresentou-se como “filha da Maria, mulher de uma ex-colónia portuguesa, empregada doméstica e de limpeza durante a sua vida em Portugal”, introdução que utilizou para mostrar que a história da mãe, nos anos 1970, ainda espelha a de muitos outros imigrantes que, nos dias de hoje, escolhem o país para viverem. "O interesse em fazer política visível sempre lá esteve porque acho importante a representatividade dos próprios e não estar em representação de. Acredito que devemos falar sobre as nossas dores pela nossa própria voz", diz, ao P3.

Anabela Rodrigues concorreu como independente a um assento no Parlamento Europeu em 2019 e, nas legislativas de 10 de Março, juntou-se ao BE, por ser o partido que mais a "representa": além de ter sido fundado por uma mulher negra, Helena Lopes da Silva, foi o primeiro a recebê-la enquanto activista pró-imigração.

“É uma primeira possibilidade que espero que abra portas para outras", diz, sobre ser a primeira eurodeputada afrodescendente portuguesa. "Já tivemos muitos partidos ao longo do tempo que puderam fazer isto. Mesmo que seja algo simbólico, tem que ver com a nossa representatividade enquanto país. O caminho faz-se caminhando."

Durante a campanha eleitoral, Anabela Rodrigues defendeu uma maior representatividade de deputados negros e imigrantes na Assembleia, uma vez que, salientou, todos têm direito a participar “na tomada de decisões” que os afectam. “Nós não queremos ser folclore, nós queremos estar na construção de um país mais justo. E ser mais justo significa defender os direitos dos negros e das negras em Portugal”, afirmou, em Fevereiro, em entrevista ao Diário de Notícias.

A eurodeputada é dirigente da associação para a defesa dos direitos dos imigrantes (Solim) e fez parte da campanha “Por outra Lei da Nacionalidade”, que reclamava a nacionalidade portuguesa para quem nasce em Portugal, causa que lhe é próxima e em que trabalha há décadas.

"Sentimos sempre isso na pele enquanto migrantes, pessoas não brancas ou negras que nasceram cá. Grande parte dos meus amigos são estrangeiros nascidos em território nacional e alguns tiveram de pagar para voltarem a ser portugueses", afirma.

"Garantir o controlo eficaz das fronteiras externas da UE" e "prosseguir uma política de migração abrangente" está na lista de quatro prioridades na agenda estratégica da União Europeia, cada vez mais permeável a um discurso anti-imigração, sobretudo pelos partidos de extrema-direita. Segundo um inquérito recente do Conselho Europeu de Relações Externas (CERE), duas "tribos de crises" poderão influenciar o resultado das próximas europeias: uma vota a pensar na crise climática e outra na imigração.

Eurodeputados portugueses no Parlamento Europeu

Anabela Rodrigues deverá juntar-se ao grupo na próxima semana para continuar a defender a visibilidade da imigração e "criar um debate" sobre o serviço doméstico, trabalho que, defende, ainda está muito "ligado a mulheres imigrantes e racializadas". Dentro de três meses, quando o mandato terminar, pensa numa possível candidatura às europeias.

Segundo o recente relatório da plataforma de análise sociopolítica EU Matrix, apesar do reduzido número de eurodeputados, Portugal é dos países mais pequenos com maior influência política em Bruxelas.

O estudo, que analisou a participação dos eurodeputados durante a actual legislatura (2019-2024), diz ainda que o país está em terceiro lugar, atrás do Luxemburgo e de Malta.

A delegação da Alemanha é a mais influente na Europa no geral, mas os representantes de Portugal também tiveram um papel determinante em temas como migração, finanças, negócios estrangeiros, agricultura e pescas, energia, saúde e mercado interno.

A par disto, existem sete eurodeputados portugueses no top 100 dos mais influentes da UE. São eles Paulo Rangel (PSD) em 16.º lugar, Pedro Silva Pereira (PS) em 19.º, Pedro Marques e Isabel Santos (PS) em 35.º e 36.º lugar, Isabel Carvalhais (PS) no lugar 64, Maria da Graça Carvalho (PSD) em 71.º e Marisa Matias (BE) em 100.º.

Sugerir correcção
Comentar