É a primeira deputada com síndrome de Down a integrar o Parlamento regional de Valência e a segunda a exercer um cargo político em Espanha. María del Mar Galcerán, 45 anos, é membro do Partido Popular (PP) há pelo menos 20 e juntou-se por um motivo: garantir que todas as pessoas possam fazer parte da vida política.
Começou no partido conservador aos 18 anos e foi subindo na hierarquia até ser incluída na lista de 20 candidatos do PP às eleições regionais de Valência, em Maio de 2023.
A 20 de Setembro, o partido de Carlos Mazón venceu as regionais. Nessa altura, Ernesto Fernández Pardo, o último nome da lista de deputados tornou-se presidente de uma instituição pública, posição que não podia acumular com a de deputado. Mar Galcerán ocupou a última cadeira.
“Quero aprender a fazê-lo bem pelos valencianos e, mais importante, por aqueles que têm capacidades diferentes. Quero que as pessoas me vejam como pessoa, não apenas pela minha deficiência”, declarou a deputada do PP citada pelo Guardian, após o resultado das eleições.
Além de deputada no Parlamento regional, é a segunda pessoa com síndrome de Down a exercer um cargo político no país. Ángela Bachille foi a primeira quando, em Julho de 2013, se tornou vereadora da autarquia de Valladolid, no norte do país.
Segundo a federação espanhola de síndrome de Down, a militante do PP é também a primeira na Europa a integrar um Parlamento regional, um gesto "de verdadeira inclusão".
“O meu papel como deputada é servir a sociedade”
Segundo o jornal El Mundo, Mar Galcerán é uma “aposta pessoal” e já antiga de Carlos Mazón. Antes de acompanhar o líder do partido na campanha eleitoral, trabalhou como auxiliar de Jardim de Infância, área que estudou. No PP, começou por exercer funções como Secretária da Área de Atendimento às Pessoas com Deficiência e, a partir de 2010, foi funcionária nos Ministérios da Assistência Social, Igualdade de Políticas Inclusivas e Saúde, funções que conciliou com quatro anos de presidência da Asindown, associação em Valência que ajuda famílias com crianças com síndrome de Down.
Em 2017, em entrevista à Fundação Iberoamericana Down21, explicou que o associativismo surgiu porque a mãe a incentivou e que o dia de trabalho no Parlamento regional começava às 6h, para que às 15h se pudesse dedicar à Asindown.
Em Novembro, num discurso que fez na Assembleia de Valência, comprometeu-se a “servir a sociedade”, mas não esqueceu as pessoas com síndrome de Down a quem disse continuarem a faltar oportunidades, algo que espera ver mudado com a sua presença no Parlamento.
“Acredito que pessoas como eu têm o direito a nascer, estudar, trabalhar e terem uma vida mais autónoma possível. Nós, pessoas com incapacidade, gostamos que digam que temos capacidades diferentes, mas a sociedade não nos soube proteger assim e isso revela-se na falta de confiança que têm em nós. Mas não foi o meu caso e acredito que com apoio, oportunidades e se acreditarmos que todos temos capacidades diferentes podemos ter autonomia suficiente para que pessoas como eu se sintam parte da sociedade”, defendeu.
Além de Mar Galcerán e Ángela Bachiller, em 2020, Éléonore Lalou, tornou-se vereadora da autarquia de Arras, em França.