Colapso da FTX: Sam Bankman-Fried condenado a 25 anos de prisão

A acusação pedia uma pena de 40 a 50 anos de prisão para Sam Bankman-Fried, fundador da FTX que foi considerado culpado de sete crimes que levaram ao colapso da plataforma de criptomoedas.

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Sam Bankman-Fried foi considerado culpado de sete crimes Reuters/ANDREW KELLY
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Sam Bankman-Fried foi condenado a uma pena de prisão de 25 anos pelos crimes que se provou ter cometido e que levaram ao colapso da FTX, avança a imprensa internacional. O fundador da plataforma de criptomoedas agora falida foi declarado culpado, em Novembro do ano passado, dos sete crimes de fraude, desvio de fundos e lavagem de dinheiro de que havia sido acusado.

A decisão foi conhecida nesta quinta-feira, depois de, no final do ano passado, o júri que acompanhou o caso ter considerado que o antigo multimilionário, hoje com 32 anos, foi responsável pelo desvio de oito mil milhões de dólares pertencentes aos clientes da FTX, que declarou insolvência em Novembro de 2022. Durante o julgamento, ficou provado que Sam Bankman-Fried não só tinha conhecimento da natureza fraudulenta da FTX, semelhante a um esquema em pirâmide, como utilizou os fundos dos seus clientes em benefício próprio.

Agora, mais de quatro meses depois de o fundador da FTX ter sido considerado culpado, o juiz Lewis Kaplan deu a conhecer a sentença, rejeitando o argumento de Sam Bankman-Fried de que os clientes da FTX não perderam, efectivamente, qualquer dinheiro e acusando-o de mentir durante o julgamento. "Ele sabia que era errado. Ele sabia que era crime. Ele arrepende-se de ter feito uma uma aposta muito má quanto à probabilidade de ser apanhado. Mas não vai admitir nada, como é o seu direito", disse o juiz, citado pela Reuters. "A sua declaração de que os clientes e credores da FTX serão ressarcidos na totalidade é enganadora e, obviamente, tem falhas, é especulativa. Um ladrão que leva o seu saque para Las Vegas e aposta com sucesso o dinheiro roubado não tem direito a um desconto na sentença por usar os ganhos de Las Vegas para pagar o que roubou", disse ainda.​

Os crimes de que Sam Bankman-Fried foi declarado culpado poderiam ter dado lugar a uma pena máxima de 110 anos de prisão. Do lado da acusação, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos pedia uma sentença de 40 a 50 anos, uma proposta que a defesa de Sam Bankman-Fried classificou como "perturbadora" e "medieval", tendo contraproposto uma sentença de 63 a 78 meses de prisão (ou seja, um máximo de seis anos e meio).

A acusação argumentou que "milhares de pessoas comuns confiaram o seu dinheiro à FTX" e que Bankman-Fried se recusa "a admitir que o que fez foi errado", ainda hoje. "A sua vida nos anos recentes foi de ganância e arrogância sem paralelo, de ambição e racionalização, de correr riscos e apostar com o dinheiro de outras pessoas", escreveu a acusação num documento entregue em tribunal. A defesa, por seu lado, lembrou que o seu cliente é um "infractor não violento", que cometeu crimes pela primeira vez e que os crimes de que é acusado têm "pelo menos outros quatro indivíduos considerados culpados". A isso, acrescentaram o facto de se esperar que os lesados venham a recuperar a quase totalidade do dinheiro perdido — um argumento que não corresponde inteiramente à realidade, dado que não tem em conta o que deixaram de potencialmente ganhar por terem investido na FTX e não noutros activos.

S.B.F. pede desculpa, vítimas testemunham

Na sessão desta quinta-feira, antes de ouvir a sentença, Sam Bankman-Fried fez uma declaração perante o juiz Lewis Kaplan em que pediu desculpa pelas suas acções, que admitiu terem sido "egoístas".

"Os meus colegas deram muito de si, construíram algo muito bonito e eu deitei tudo isso a perder. Isso atormenta-me todos os dias. Peço desculpa por isso. Lamento tudo o que aconteceu em cada etapa: as coisas que devia ter dito e feito, as coisas que não devia ter dito e feito", afirmou aquele que chegou a ser um dos mais proeminentes empreendedores do universo "cripto", citado pela Reuters.

O fundador da FTX demonstrou, ainda, remorsos pelo impacto sobre os clientes da plataforma. "Tem sido excruciante ver tudo isto a desenrolar-se. Os clientes não merecem este nível de dor. Eu era o presidente executivo da FTX e eu era responsável."

Bankman-Fried não foi, contudo, o único a prestar declarações antes da leitura da sentença. Na sessão desta quinta-feira, também algumas vítimas do colapso da FTX testemunharam perante o juiz, contrariando aquele que tem sido um dos principais pontos da defesa: o de que, na prática, não haverá perdas para as vítimas da fraude e desvio de dinheiro, uma vez que os fundos serão recuperados e restituídos.

Outros entregaram testemunhos escritos. Um destes clientes escreve, numa carta enviada ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, citada pela CNBC, que perdeu quatro milhões de dólares, o montante que arrecadou ao longo de 30 anos de poupanças. "Toda a minha vida ficou destruída. Tenho duas crianças pequenas, uma nascida logo após o colapso. Para além do dinheiro, perdi o desejo de continuar a viver. A minha esposa está deprimida", lê-se na carta.

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