Pequim exige investigação ao ataque terrorista que matou cinco chineses, mas defende aliança com o Paquistão

“Qualquer tentativa de prejudicar a cooperação China-Paquistão nunca será bem-sucedida”, diz o Governo chinês após ataque suicida contra projecto da Nova Rota da Seda no Noroeste paquistanês.

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Reforço policial em Peshawar, nesta quarta-feira EPA/ARSHAD ARBAB
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O Governo da República Popular da China exigiu nesta quarta-feira ao executivo do Paquistão que leve a cabo uma investigação aprofundada ao ataque terrorista da véspera que matou cinco chineses que operavam numa barragem hidroeléctrica de Dasu, na província paquistanesa de Khyber Pakhtunkhwa, no Noroeste do país, financiada ao abrigo do Corredor Económico China-Paquistão (CPEC), um dos eixos da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), o megaprojecto chinês de investimento e infra-estruturas por todo o mundo.

Segundo um comunicado divulgado pelo seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, a “China exige ao Paquistão que investigue rapidamente a verdade por detrás do incidente, que empregue todos os esforços para deter os autores e para os levar à justiça e que tome medidas práticas e eficazes para proteger a segurança dos cidadãos chineses”.

Não obstante, Pequim garante que o “incidente” de terça-feira — o terceiro no prazo de uma semana, depois de ataques que tiveram como alvo uma base militar e um porto estratégico na província do Baluchistão, no Sudoeste do país, onde a China investiu milhares de milhões dólares — não põe em causa a “parceria estratégica” e a “cooperação” entre os países “irmãos”.

“Qualquer tentativa de prejudicar a cooperação China-Paquistão nunca será bem-sucedida”, assegurou o ministério chinês, citado pelo South China Morning Post.

Em resposta, foi aumentado o reforço securitário em localidades onde há projectos financiados por empresas chinesas. Para além disso, segundo a Reuters, o primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, pediu nesta quarta-feira uma “investigação conjunta” das autoridades militares e civis do país ao sucedido e autorizou “a utilização de todos os recursos do Estado” para o efeito.

Na véspera, após uma visita à embaixada da China em Islamabad, Sharif já tinha defendido a “punição severa dos perpetradores” do ataque e afiançado, em linha com Pequim, que o seu Governo “nunca irá permitir que uma conspiração maléfica” possa enfraquecer “a amizade inabalável entre o Paquistão e a China”.

Cinco engenheiros chineses perderam a vida depois de um cidadão de nacionalidade paquistanesa ter conduzido um veículo a toda a velocidade contra eles, fazendo-o explodir de seguida. O condutor e autor do ataque também morreu.

Até ao momento, o ataque terrorista não foi reivindicado por nenhum grupo ou organização. Num país onde operaram milícias islamistas e separatistas, tem sido mais comum serem os segundos a levar a cabo ataques dirigidos especificamente contra cidadãos chineses envolvidos em projectos do CPEC.

Grupos separatistas como o Exército de Libertação do Baluchistão ou o Exército Unido Balúchi, rotulados de “terroristas” pelo Governo do Paquistão, acusam as autoridades paquistanesas de permitirem a exploração de recursos nacionais e o “expansionismo militar” chinês na região histórica do Baluchistão e de contribuírem para a expulsão dos povos indígenas das suas terras.

Em 2018, por exemplo, o Exército de Libertação do Baluchistão reivindicou um ataque armado contra o consulado da República Popular da China em Carachi, que matou quatro pessoas.

Iniciado em 2017, o projecto da barragem hidroeléctrica de Dasu, financiado pela empresa China Gezhouba Group Company Limited, com sede em Wuhan, está integrado na iniciativa de infra-estruturas CPEC.

Segundo a agência noticiosa chinesa Xinhua, até ao final de 2022, o CPEC já tinha aplicado um investimento directo chinês no Paquistão na ordem dos 25,4 mil milhões de dólares (cerca de 23,5 mil milhões de euros).

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