Oposição venezuelana consegue inscrever candidato provisório
O diplomata Edmundo González Urrutia foi formalizado como candidato, mas ainda poderá haver alterações. Países da região dizem estar preocupados com obstáculos criados pelo regime junto da oposição.
Continuam as reviravoltas no processo eleitoral venezuelano, à medida que crescem os avisos da comunidade internacional para que as eleições presidenciais de Julho decorram de forma livre e justa. Depois de ver vedada a inscrição da candidata alternativa, a oposição anti-chavista logrou inscrever um candidato já depois do fim do prazo.
Graças a uma extensão do prazo para a inscrição de candidaturas às eleições presidenciais de 28 de Julho, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), um dos maiores partidos que integra a coligação opositora, formalizou a candidatura do diplomata Edmundo González Urrutia, ex-embaixador na Argélia e na Argentina.
O partido explicou que a candidatura de Urrutia é “provisória” e irá ser substituída assim que haja um consenso entre os partidos de oposição em torno de um candidato de unidade. A Plataforma de Unidade Democrática (PUD), que junta os partidos anti-chavistas, disse que a decisão tem o objectivo de “garantir a inscrição da dita candidatura para que nos mantenhamos dentro da rota eleitoral”.
A escolha de Urrutia é apenas a mais recente tentativa por parte da oposição de contornar a sucessão de obstáculos que o regime de Nicolás Maduro tem posto no caminho rumo às eleições. Sem poder formalizar a candidatura de María Corina Machado, eleita com dois milhões de votos nas primárias de Outubro, a oposição optou na semana passada pela académica Corina Yoris, uma escolha aparentemente segura por se tratar de alguém pouco conhecido e sem passado em cargos públicos.
No entanto, o prazo de inscrição terminou na terça-feira sem que a candidatura de Yoris pudesse dar entrada no sistema, alegadamente por “falhas técnicas”, segundo as autoridades eleitorais controladas pelo regime. Machado denunciou a manobra do chavismo e garantiu que Yoris será a candidata da coligação opositora.
A lei eleitoral permite que os candidatos sejam substituídos no máximo até dez dias antes das eleições, embora o seu nome não venha a figurar nos boletins de voto se a mudança acontecer menos de três meses antes do dia das eleições. Essa parece ser a estratégia da PUD, embora não haja ainda garantias de que Yoris se poderá candidatar.
A oposição corre ainda o risco de aparecer dividida, enfraquecendo as suas hipóteses de derrotar Maduro. No último dia de inscrições, foram formalizadas as candidaturas de Enrique Márquez, ex-presidente do Conselho Nacional Eleitoral, e de Manuel Rosales, governador do estado de Zulia, ambos ligados a partidos da oposição, mas que não têm o apoio de Machado. Esta quarta-feira, Rosales mostrou disponibilidade para abrir mão da sua candidatura em favor de um candidato de unidade.
A expectativa de que as eleições presidenciais deste ano decorressem de forma justa e com garantias de uma competição real parece estar cada vez mais gorada. Nas últimas semanas, vários membros da equipa de campanha de Machado foram detidos ou receberam mandados de detenção.
O Governo argentino revelou que vários políticos da oposição procuraram refúgio na sua embaixada em Caracas e manifestou preocupação com os “actos de intimidação e perseguição contra figuras políticas na Venezuela”.
Maduro, por seu turno, tem endurecido o discurso contra os seus adversários políticos, acusando-os de serem marionetas ao serviço dos EUA e de planearem o seu assassínio. A situação é radicalmente diferente do ambiente menos tenso criado pelas negociações entre Governo e oposição que há poucos meses tinham lançado as bases para uma saída da crise política e institucional que se arrasta na Venezuela há quase uma década.
A ofensiva de Maduro contra a oposição está a causar preocupação entre vários países da região, incluindo em governos como o brasileiro que até há bem pouco tempo defendiam uma normalização diplomática com Caracas. Numa carta subscrita por vários líderes do continente americano é realçada a “grave preocupação” perante os “persistentes impedimentos” na inscrição de candidaturas nas eleições presidenciais.