No que seriam as melhores férias de sempre, três melhores amigas viajam para a Grécia com um único propósito: celebrar, beber, e fazer o expectável — sexo. Tara, protagonizada por Mia McKenna-Bruce, tem dezasseis anos e é a única das suas amigas que ainda é virgem. É a expectativa de estar longe de casa, ser adolescente, ingénua e inocente, que leva as três amigas britânicas a envolverem-se com o grupo de rapazes da casa ao lado. A pressão do grupo de adolescentes leva a que Tara e Paddy, protagonizado por Samuel Bottomley, desenvolvam uma relação que inicialmente parecia desejada pelos dois, mas onde o desejo se transforma em hostilidade. Ninguém parece notar a mudança de atitude de Tara no desenrolar da viagem. O retorno a casa é quase um momento de libertação da ansiedade, frustração e longos silêncios que tudo disseram ao longo do filme de Molly Manning Walker.
Este filme, distinguido internacionalmente, mostra-nos as diferentes faces da inocência adolescente, mas também as mais perversas. Todas as personagens estão representadas de acordo com a realidade. Paddy é a figura masculina, popular, womanizer. A figura que representa muitos adolescentes, e o que muitos ambicionam ser. E Tara, não é exceção. Tara representa muitas adolescentes, representa mulheres, jovens, que estão a descobrir a sua sexualidade — que estão a descobrir-se — e que, de um momento para o outro, lhes vêem ser retirada a autonomia dessa descoberta. A pressão das amigas e os acontecimentos do filme têm impacto em Tara, e vemos a brilhante performance de McKenna-Bruce a contrair-se, isolar-se, a silenciar a sua própria experiência. Uma experiência sem gosto, sem liberdade, sem um “sim”.
A ideia de consentimento, e do “sim” entusiástico (relembro a bela série Sex Education), parece apenas uma perspetiva, “um ponto de vista”. Quando, na realidade, não o é. O consentimento tem de existir sempre, para todas as partes. E temos de ensinar as crianças desde pequenas a frase mais absurdamente necessária — “não é não” — para que não haja dúvidas ou ilações retiradas. A educação sexual deverá ser um espaço para esse tipo de aprendizagens, juntamente com profissionais devidamente formados nesta área, como sexólogos e psicólogos. Porque é que as ações de Paddy poderão ser vistas como uma não-agressão? Porque não foram agressivas, como os media gostam de normalizar e romantizar. Foram forçadas, subtis, quase nos fazem crer que Tara as queria. As suas atitudes fazem-nos crer isso mesmo. Mas é possível que estejamos com as lentes de Paddy? Pois, as lentes do agressor serão sempre as mais limpas. Já as da vítima, conseguimos vê-las no último ato, na sua expressão facial, nos gestos retraídos, no adeus silencioso. Em todos os momentos, Tara está em silêncio. Mas há tanto ruído, tanto por dizer, tantas palavras silenciadas pelas emoções que lhe incutiram. Tara só queria divertir-se, ter as melhores férias de sempre, mas tudo o que queria, no fim de contas, era voltar a casa.
How to Have Sex - A Primeira Vez estará nos cinemas portugueses a partir do dia 28 de março de 2024 e é um filme a não perder, uma viagem ruidosa merecedora do nosso silêncio.