Ao fim de 25 anos, Pierpaolo Piccioli está de saída da Valentino e deixa um legado de “beleza”

O criador italiano foi contratado pelo próprio Valentino Garavani, em 1999, para integrar a equipa de acessórios. Desde 2016 que era o director criativo da casa de moda, que tornou mais contemporânea.

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Pierpaolo Piccioli fazia-se sempre acompanhar pela equipa do atelier no final do desfile de alta-costura Sarah Meyssonnier/Reuters
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Apresentação da colecção masculina em Junho de 2023, em Milão Reuters/Claudia Greco
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Pierpaolo Piccioli tem 56 anos Reuters/Claudia Greco
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“Nem todas as histórias têm começo e fim, algumas vivem uma espécie de presente eterno.” É assim que Pierpaolo Piccioli inicia o comunicado com o qual se despede da Valentino. Há oito anos à frente da direcção criativa da casa italiana e há 25 na etiqueta, o criador está de saída por “decisão mútua”, anunciam nesta sexta-feira. Em breve, diz o Business of Fashion, será anunciada a nova liderança.

“Estou grato a Pierpaolo pelo papel como director criativo e pela sua visão, empenho e criatividade que levaram a Maison Valentino ao que representa hoje”, declarou o presidente da marca, Jacopo Venturini.

“Agradecemos profundamente a Pierpaolo por ter escrito um capítulo importante na história da Maison Valentino”, diz, por sua vez, Rachid Mohamed Rachid, presidente e proprietário do fundo de investimento Mayhoola do Qatar, que controla marcas como a Valentino ou a Balmain.

O anúncio surge num período de alguma instabilidade para a Valentino (e na mesma semana em que Dries van Noten anunciou estar de partida da marca homónima). No ano passado, a casa italiana passou a ser também propriedade do conglomerado francês Kering. O grupo de François-Henri Pinault comprou 30% do negócio por 1,7 mil milhões de euros, assinando um acordo a determinar que pretendem comprar 100% da maison até 2028.

Não é sobre o negócio que Pierpaolo Piccioli fala no comunicado de despedida, mas de todas as pessoas que “teceram” com ele “os enredos desta história”. E escreve: “Tudo existiu e existe por causa das pessoas que conheci, trabalhei, partilhei sonhos e criei beleza. Construí algo que pertence a todos e permanece inalterado e tangível. Essa herança, de amor, sonhos, beleza e humanidade, levo comigo, hoje e sempre.”

Deixa ainda uma mensagem de agradecimento a Valentino Garavani e ao empresário Giancarlo Giammetti. “Deram-me os meus sonhos”, assevera. Num tom mais pessoal, termina com uma dedicatória à filha, Stella, que “tinha 2 anos quando veio ver o primeiro desfile de moda” e agora “está prestes a fazer 18 anos”. “No outro dia, perguntou-me: ‘como te sentes?’. ‘Jovem e livre’, respondi eu.” E conclui: “E cheio de sonhos. Sempre.”

Pierpaolo Piccioli não desvenda qual será o seu destino na moda: se rumar a outra marca ou lançar uma etiqueta em nome próprio, quem sabe. “Que extraordinária Valentino tu fizeste. Que presente para todos os que lá estiveram”, escreve o designer Marc Jacobs, nos comentários da publicação. Edward Enninful, consultor criativo da Condé Nast, que publica a revista Vogue, também o elogia: “És um verdadeiro génio em todos os sentidos da palavra.”

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O fundador, Valentino Garavani, com o clássico vermelho da marca ALESSANDRO BIANCHI/Reuters

Dos acessórios à liderança

O criador italiano, de 56 anos, estava na direcção criativa a solo desde Julho de 2016. Mas a história de Pierpaolo Piccioli com a Valentino recua até 1999, quando o próprio Valentino Garavani o contratou, “roubando-o” à Fendi, para trabalhar no departamento de acessórios.

Entre 2008 e 2016, assinou as colecções principais em dueto com Maria Grazia Chiuri, agora directora criativa da Dior. Ambos sucederam a Alessandra Facchinetti e a Valentino Garavani, que, em 2007, se afastou da marca que fundou.

Foi com Piccioli que a Valentino, criada em 1960, se tornou verdadeiramente contemporânea, através de uma incursão no vestuário mais urbano, mantendo a assinatura feminina, mas “distanciando-se do universo do jet set”, escreve a revista Women’s Wear Daily. Aliás, o criador é conhecido por manter a discrição e continuar a viver com a mulher, Simona, e os três filhos, em Nettuno, a 70 quilómetros de Roma, a cidade onde nasceu.

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O desfile do Pink PP em 2022 PIROSCHKA VAN DE WOUW/Reuters
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Alta-costura em 2023 Sarah Meyssonnier/Reuters

Graças a ele, a clássica casa italiana foi além do vermelho e tornou o cor-de-rosa no seu novo apanágio. O criador até registou a cor Rosa PP (com as suas iniciais) na Pantone — em 2022, apresentou uma colecção apenas nesta tonalidade, tendo como rosto da marca a actriz Zendaya. Mais recentemente, aliou-se também a Florence Pugh, que veste frequentemente com os grandes volumes que Pierpaolo foi tornando a sua assinatura.

A alta-costura da maison ganhou também novo fôlego com Piccioli, que surgia sempre, no final de cada desfile, em Paris, acompanhado da equipa do atelier. Em Julho de 2023, a colecção de alta-costura foi uma das mais faladas da temporada, em especial pela minúcia do trabalho artesanal — até gerou uma ilusão: o que pareciam ser umas calças de ganga eram afinal milhares de missangas bordadas.

Resta saber qual é o próximo capítulo para a marca, com os especialistas em moda já a especular que o sucessor de Piccioli possa ser Alessandro Michele, que saiu da Gucci em 2022. Certo é que a Valentino tem sido um balão de oxigénio financeiro para o grupo Mayhoola. Os últimos dados conhecidos, de 2022, assinalam 1,42 mil milhões de euros em lucros.

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