Não se vendiam tão poucas casas desde 2017, mas os preços ainda sobem
Em 2023, venderam-se 136.499 casas em Portugal, uma queda de quase 19% em relação ao ano anterior e o número mais baixo de transacções que é registado desde 2017. Os preços aumentaram 8,2%.
Pela primeira vez desde 2020, ano em que teve início a pandemia de covid-19 que veio paralisar uma parte significativa da actividade económica, o mercado da habitação nacional sofreu uma contracção em 2023, tanto no número de vendas como no montante total transaccionado. Mesmo assim, os preços das casas continuaram a aumentar, ainda que o ritmo de subidas mantenha a desaceleração já verificada desde o início do ano passado.
Os dados foram publicados, nesta sexta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que indica que, no conjunto do ano de 2023, o índice de preços da habitação registou uma subida anual de 8,2%, valor que representa uma redução de 4,4 pontos percentuais em relação à variação que tinha sido verificada em 2022 (ano em que se registou o maior aumento de sempre dos preços das casas). Esta desaceleração, detalha o INE, fica a dever-se tanto às habitações novas como às já existentes, cujos preços aumentaram, respectivamente, 8,7% e 6,6% em relação ao ano anterior, variações que, em ambos os casos, representam um abrandamento.
O aumento dos preços que ainda se verifica acontece apesar das quedas significativas já registadas no mercado imobiliário. Ao todo, venderam-se 136.499 habitações em 2023, por um montante total de cerca de 28 mil milhões de euros, valores que correspondem a quebras de 18,7% e 11,9%, respectivamente, em relação a 2022. Estes números representam, também, um recuo evidente face ao crescimento ininterrupto que se verificava há vários anos: desde 2017 que não se vendiam tão poucas casas em Portugal, ao mesmo tempo que o montante total transaccionado é o mais baixo desde 2020.
Considerando o número de operações concretizadas e o montante total transaccionado, o preço médio de cada casa fixou-se em 205 mil euros em 2023, acima dos 189 mil que se registaram em 2022. Foi no segundo trimestre do ano passado que o preço médio das casas em Portugal ultrapassou, pela primeira vez, a fasquia dos 200 mil euros.
Estas quebras no número de vendas e nos valores transaccionados verificam-se em todos os trimestres do ano passado, mas foram particularmente acentuadas na primeira metade do ano. Olhando apenas para o final de 2023, a contracção do mercado já é menos acelerada do que no resto do ano, o que poderá ser o indício de nova recuperação. No quarto trimestre do ano passado, venderam-se 34.126 casas, por um total de 7,17 mil milhões de euros, números que correspondem a quebras de 11,4% e 2,5%, respectivamente.
Queda em todo o país
A tendência de contracção do mercado foi transversal a todo o país, não havendo qualquer região a escapar às quedas no número de vendas e montante transaccionado. No relatório publicado nesta sexta-feira, é apresentada uma nova composição da Nomenclatura das Unidades Territoriais (NUTS). A principal alteração em relação à geografia anterior diz respeito à desagregação da anterior Área Metropolitana de Lisboa, que passa a dividir-se em Grande Lisboa e Península de Setúbal, e à criação da região Oeste e Vale do Tejo, que incorpora municípios anteriormente classificados nas regiões Centro e Alentejo.
As maiores quebras, mostram os dados do INE, verificaram-se na Península de Setúbal, onde foram vendidas 12.738 casas durante 2023, por um montante total de cerca de 2,55 mil milhões de euros, o equivalente a quebras anuais superiores a 25% e 17%, respectivamente. Segue-se o Algarve, onde as vendas caíram em 24,6% e totalizaram 11.402 operações, enquanto o volume transaccionado recuou 15,5%, fixando-se em torno de 3,6 mil milhões de euros.
Também nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira se registaram quebras superiores à média verificada no conjunto do território nacional.
Já na Grande Lisboa, venderam-se 25.854 casas, uma queda de 22% em relação ao ano anterior, por um total de pouco mais de 9 mil milhões de euros, menos 11% do que em 2022. Desde 2015 que não se vendiam tão poucas casas nesta região, ao mesmo tempo que o montante total transaccionado representa o mais baixo desde 2020. O preço médio das casas na Grande Lisboa fixou-se, ainda assim, acima dos 350 mil euros, o valor mais elevado de todo país (ficando mais de 70% acima da média nacional) e um número que corresponde a uma subida superior a 14% em relação ao ano anterior.
Na Área Metropolitana do Porto, também se registam quebras no mercado, ainda que os preços tenham voltado a aumentar a ritmo acelerado: venderam-se 20.709 casas no ano passado, uma diminuição anual de quase 18%, por um total de 4,2 mil milhões de euros, menos 10,3% do que no ano anterior. O preço médio ultrapassou, assim, a fasquia dos 200 mil euros pela primeira vez, fixando-se em mais de 202 mil euros.