EUA apresentam na ONU resolução a pedir “cessar-fogo” em Gaza
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que a proposta implica um cessar-fogo e a libertação de reféns.
Os Estados Unidos vão apresentar uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU pedindo um “cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza, mas não era claro se este implicaria como condição a libertação dos reféns pelo Hamas, algo que será também mencionado no texto.
Os Estados Unidos têm vetado resoluções anteriores apresentadas por outros países pedindo um cessar-fogo no Conselho de Segurança. Esta resolução marca, diz o antigo correspondente do diário britânico The Guardian em Jerusalém Peter Beaumont, “um passo significativo na sua abordagem ao conflito”.
Os Estados Unidos têm vindo a subir o tom das críticas públicas a Israel, com o Presidente, Joe Biden, a mencionar repetidamente o número de mortos na Faixa de Gaza, que entretanto ultrapassou 31 mil.
Na quarta-feira, quase 70 elementos do Conselho de Segurança Nacional dos EUA e diplomatas norte-americanos pediram, numa carta dirigida a Biden, para que este tome medidas mais fortes para que haja acesso a ajuda humanitária pela população de Gaza, segundo o correspondente do diário Haaretz em Washington D.C., Ben Samuels. Uma das medidas evocadas na carta que incluía a assinatura do secretário de Estado, Antony Blinken, e do secretário da Defesa, Lloyd Austin, seria a possibilidade de restringir ajuda americana a Israel.
A notícia da proposta de resolução foi dada precisamente por Blinken, que está na região (esta quinta-feira no Egipto) para discutir um potencial acordo para um cessar-fogo e libertação de reféns, e disse que os EUA “estão a pressionar para um cessar-fogo imediato ligado à libertação de reféns” que poderia “criar condições para ter um cessar-fogo duradouro.” “[É] algo que também queremos ver”, declarou, numa entrevista à emissora saudita Al-Hadath, acrescentando que a resolução “está agora a ser apresentada”.
A emissora pan-árabe Al-Jazeera obteve entretanto uma cópia do texto da resolução, que exige “um cessar-fogo imediato e sustentado para proteger os civis de todos os lados, permitir a entrega de assistência humanitária essencial e aliviar o sofrimento humanitário”. Para isso, “apoia inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais em curso para garantir um cessar-fogo ligado à libertação de todos reféns”.
Um ponto contencioso entre os EUA e outros países tem sido o apelo a um cessar-fogo permanente ou apenas temporário, diz o Washington Post.
Quando, há um mês, os EUA vetaram a mais recente resolução a pedir um cessar-fogo, proposta pela Argélia, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, declarou que o país apresentaria uma resolução alternativa, pedindo um “cessar-fogo temporário logo que praticável” e “medidas” para permitir a entrada de ajuda humanitária sem restrições devido à fome aguda, e exigindo ainda que Israel não levasse a cabo uma ofensiva em Rafah.
Na altura, alguns comentadores previram que esta resolução fosse vetada pelos países que preferiam as versões anteriores. Em relação ao texto actual, o editor diplomático da Al-Jazeera, James Bays, questiona o que quer mesmo dizer a resolução, sendo certo que esta é “a linguagem mais forte até à data” da parte dos Estados Unidos.
“Será que é o que o resto do Conselho de Segurança pretende em termos de exigência de um cessar-fogo imediato? Ou é apenas uma resolução em que o Conselho de Segurança diz que um cessar-fogo imediato é algo muito importante?”, pergunta Bays.
Uma análise feita pelo Centro de Satélites da ONU a imagens de satélite da Faixa de Gaza revelaram entretanto que 35% dos edifícios do território (88 mil estruturas) foram destruídos ou danificados desde 7 de Outubro. A cidade de Khan Younis, no Sul, foi atingida de forma “particularmente dura”, com 6663 estruturas destruídas.