Carles Puigdemont vai concorrer às eleições regionais da Catalunha

Antigo presidente regional fez o anúncio no Sul de França, numa zona que os independentistas consideram ser “a Catalunha do Norte”. Diz que o seu regresso a Espanha começou esta quinta-feira.

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Puigdemont confirmou candidatura nesta sexta-feira Reuters/Albert Gea
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O antigo presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, que está fugido à Justiça espanhola devido ao seu envolvimento no processo independentista, anunciou esta quinta-feira que é candidato às eleições regionais catalãs marcadas para 12 de Maio. O até agora eurodeputado, que já não se apresentará às eleições europeias do mês seguinte, disse que a sua intenção é fazer daquela região espanhola uma "nação independente".

"Nas próximas eleições não vamos escolher apenas uma autonomia cada vez mais inoperante e resignada. Há que escolher entre aqueles que querem continuar a inscrever a Catalunha entre as comunidades autonómicas espanholas ou aqueles que também querem terminar o trabalho para que a Catalunha seja reconhecida entre as nações independentes do mundo", declarou, na conferência de imprensa em que divulgou a intenção de se apresentar a votos.

Carles Puigdemont fez o anúncio numa sala cheia da autarquia de Elne, uma localidade francesa a muito pouca distância da fronteira, que integra aquilo a que o movimento secessionista chama Países Catalães - aliás, o antigo governante chamou-lhe mesmo "Catalunha Norte", outro termo que faz parte do léxico independentista.

Com um enorme letreiro a dizer "President Carles Puigdemont" sobre a cabeça e ladeado pelas bandeiras da União Europeia e da Catalunha, Puigdemont começou um longo discurso, com quase uma hora, em que discorreu sobre os acontecimentos dos últimos anos. "Nada do que fiz e decidi ao longo destes seis anos e meio se pode entender sem recordarmos o que nos levou ao exílio", declarou. "Perante uma repressão que se anunciava feroz, prolongada e omnívora, tal como pudemos comprovar, cabia proteger as instituições do nosso país e a decisão soberana do povo da Catalunha, através do seu Parlamento, de proclamar a independência", justificou.

Puigdemont fugiu de Espanha em Outubro de 2017 depois de ter organizado um referendo à autodeterminação da Catalunha, considerado ilegal pela Justiça espanhola, e de ter feito uma declaração unilateral de independência, o que levou o Governo espanhol, à data liderado por Mariano Rajoy, a accionar o artigo 155 da Constituição, que suspende temporariamente a autonomia de uma região. Desde então, habita em Bruxelas.

"Posso dizer-vos com orgulho que, seis anos e meio depois, todas as tentativas de empurrar-nos para um caminho de renúncia, de humilhação ou de rendição fracassaram", disse o antigo governante. "Eu não conseguiria explicar, nem mesmo a mim próprio, que agora que temos a oportunidade de restituir aquela presidência injusta e ilicitamente destituída pelo artigo 155 eu fugisse a esta responsabilidade."

Puigdemont vai ser candidato pelo partido que fundou quando já estava fugido à Justiça, o Juntos pela Catalunha (Junts), mas abriu a porta no seu discurso a uma "candidatura unitária", à semelhança do que aconteceu nas eleições autonómicas de 2015, quando a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) se uniu ao então PDeCat, antecessor do actual Junts, levando Puigdemont à presidência do governo regional. Para o agora eurodeputado, "não voltou a haver uma proposta política tão mobilizadora como aquela".

O actual presidente da Generalitat catalã, Pere Aragonès, decidiu convocar eleições regionais antecipadas na semana passada depois de o orçamento regional ter sido chumbado. O nome de Puigdemont como potencial candidato surgiu nos media espanhóis quase em simultâneo.

A actual conjuntura política espanhola favorece Puigdemont. O Congresso aprovou, também na semana passada, a Lei da Amnistia que permitiu ao PSOE manter-se no Governo e que prevê perdões judiciais para os políticos catalães envolvidos na organização do referendo de 2017. Falta agora ser aprovada no Senado, onde o PP tem maioria. Mesmo que isso demore meses a acontecer, ou até que não aconteça, impedindo o seu regresso a Espanha, Puigdemont pode tentar ser investido presidente à distância, tal como tentou em 2017. À data, Mariano Rajoy avisou que qualquer tentativa desse tipo levaria à reactivação do artigo 155, mas agora é Pedro Sánchez que preside ao Governo e o lema é reconciliação - indispensável para que os independentistas mantenham o apoio ao executivo espanhol.

Carles Puigdemont diz-se confiante. "Hoje começa a contagem decrescente para o meu regresso", afirmou. "Se for candidato à investidura, deixarei o exílio definitivamente."

Apesar da amnistia negociada com o PSOE, Puigdemont ainda não pode preparar já o seu regresso a Barcelona. O Tribunal Supremo espanhol decidiu investigar o antigo governante por crimes de terrorismo, alegadamente cometidos no contexto da onda de violência que assolou a Catalunha em 2019, depois de nove políticos independentistas terem sido condenados a penas de prisão. Crimes de terrorismo não estão abrangidos pela lei de amnistia.

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