Portugal é o país com mais medalhas Grand Gold no concurso Mundus Vini. O que significa isso ao certo?

Ao todo foram premiados 352 vinhos nacionais no concurso na Alemanha. Selo que os premiados podem ter na garrafa é “vantagem competitiva, sobretudo em supermercados”, diz o presidente da ViniPortugal.

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A revista especializada alemã "Meininger" promove duas edições do Mundus Vini por ano Mundus Vini / Direitos Reservados
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Portugal conseguiu 352 medalhas na 34.ª edição do Mundus Vini e foi o terceiro país mais premiado no concurso de vinhos a seguir a Itália e a Espanha. Além de 219 medalhas de ouro (em inglês, Gold; como surge escrito no selo que os produtores podem agora exibir nas garrafas dos vinhos premiados) e 118 de prata (Silver), os vinhos nacionais conquistaram 15 medalhas "Grande Ouro" (Grand Gold), a distinção mais alta do concurso internacional, que tem duas edições por ano.

Somos o “país com mais [medalhas] Grande Ouro”, comenta Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, que gere a marca Wines of Portugal. “São óptimos sinais”, garante. Mas o que é que os famosos autocolantes Mundus Vini — quem é que nunca viu uma garrafa no supermercado com o selo inventado pela publicação especializada Meininger — querem dizer para lá desses números? Tentamos explicar mais à frente.

O presidente da ViniPortugal acredita que o desempenho nacional no concurso é um “reconhecimento do trabalho que o sector tem feito”, afirma ao Terroir. “Em termos de medalhas, só ficámos atrás de Espanha [o segundo país com mais medalhas, 533] e Itália [o primeiro, com 639], que seguramente terão mandado muito mais vinhos do que nós [a concurso]. Termos ficado à frente de países como França, Alemanha e outros países do Novo Mundo é um bom resultado.”

A entrega dos prémios Mundus Vini aconteceu no passado dia 10 de Março, arrancava a feira ProWein, um dos maiores eventos vínicos mundiais, em Düsseldorf, na Alemanha, e onde Portugal teve mais de 300 produtores representados. “Há muitos concursos no mundo, alguns com baixa credibilidade, mas não é o caso deste”, assevera Frederico Falcão, quando interpelado pelo PÚBLICO. “[O Mundus Vini] tem os resultados anunciados durante a feira de vinhos ProWein, ligada à Meininger, uma grande revista [de vinhos], e é um concurso com prestígio, por isso tem mais participação.”

De acordo com o presidente da ViniPortugal, o funcionamento do Mundus Vini é semelhante ao de outros concursos internacionais. “Os produtores inscrevem-se, enviam as amostras e depois há uma prova cega normal”, explica. Inscrevem-se e pagam uma taxa por amostra submetida, entenda-se.

A avaliação de vinhos para a última edição do concurso foi feita durante seis dias em Fevereiro, em Pfalz, na Alemanha, por um painel de mais de 250 especialistas em vinhos de 55 países. “Foram enviados para concurso vinhos de 45 países, incluindo regiões vinícolas mais ou menos desconhecidas, como o Uzbequistão (com uma medalha de prata), a Polónia (a segunda medalha de ouro de sempre para um vinho polaco), o Cazaquistão, a Colômbia ou Marrocos”, lê-se no site da Meininger, que organiza o Mundus Vini.

A seguir a Itália, Espanha e Portugal, os países mais premiados foram a Alemanha (193 medalhas) e a Áustria (105 medalhas). Também foram atribuídos prémios a países do chamado “Novo Mundo” (novo para o vinho, embora esse "novo" já leve décadas, é preciso explicar), como a África do Sul (95 medalhas), o Chile (55 medalhas) e a Austrália (50 medalhas).

A Europa de Leste deu nas vistas com galardoados na Moldova (96 medalhas, incluindo três Grand Gold), Geórgia (83 medalhas), Roménia (71 medalhas) e Macedónia do Norte (42 medalhas).

"Para sermos vistos e falados"

Para o sommelier Rodolfo Tristão, o concurso, tal como outros concursos com reconhecimento internacional, é uma maneira de trazer visibilidade aos vinhos de Portugal. “É sempre bom estar nos concursos para sermos vistos e falados”, começa. “Há concursos onde ganhamos mais porque enviamos um maior número de referências. Este já tem algum nome e nem todos os anos são os mesmos países que ganham ou têm relevo. É bom para colocar Portugal no mapa. Achamos que toda a gente conhece Portugal, mas acho que ainda não estamos nesse patamar.”

Ajudará a chegar lá ter provadores portugueses também nestes concursos, não directamente, atenção, já que nenhum jurado sabe que vinhos está a provar. Por esta edição de Verão do Mundus Vini passaram, por exemplo, Beatriz Machado e Tiago Alves de Sousa.

Dos 352 vinhos portugueses premiados, 15 deles obtiveram a distinção Grand Gold (a máxima, a seguir ao Ouro e à Prata): Quinta da Gaivosa Porto 20 Years Old White, Van Zellers & Co 20 Years Old Tawny Port, Justino's Madeira Colheita Sercial 2008, Colossal Reserva 2021, Padeleiro Reserva Tinto 2021, Moscatel Adega de Favaios Reserva 2015, Adega de Favaios Moscatel do Douro 10 Anos, Moscatel do Douro Adega de Favaios 2000, Porto Monge Tawny 10 Anos, Dr Port Colheita Tawny 2006, Bacalhôa Moscatel de Setúbal D.O. 2021, Kopke 20 Years Old Tawny, Quetzal Reserva 2019, Kopke 2010 e Quinta da Oliverinha Porto Vintage 2020. Destes 15, dez são vinhos do Douro, todos fortificados: vinhos do Porto e moscatéis.

A estas, juntam-se também 219 medalhas Gold e 118 Silver, de vinhos de várias regiões do país. A região do Tejo, por exemplo, conseguiu 29 medalhas de ouro e 8 de prata, de acordo com um comunicado enviado pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo. Já o Alentejo arrecadou 38 medalhas (25 de ouro e 12 de prata), incluindo a Grand Gold que foi para a Quinta do Quetzal, em Vila de Frades

“Os produtores que ganharam medalhas podem promover-se junto dos seus importadores ou distribuidores e colar os selos das medalhas nas garrafas”, explica o presidente da ViniPortugal. “Sobretudo em supermercados, isso é uma vantagem competitiva. Imaginemos que vou a um supermercado na Arménia, onde não conheço os vinhos. A tendência é que os consumidores comprem os que têm medalhas. À partida, é um reconhecimento de que o vinho tem qualidade.”

Rodolfo Tristão sublinha que esta também é uma oportunidade para “colocar os vinhos lá fora” e mostrar que as pessoas já não olham só para Portugal como um país de “Mateus Rosé ou de vinhos verdes”, afirma. Os resultados globais permitem também desvendar algumas tendências mundiais do sector vinícola em 2024, considera o sommelier. “Uma delas é o enoturismo. As pessoas tendem a fazer visitas às regiões que ganham prémios e faz com que procurem Portugal neste contexto, para vir conhecer e visitar.”

Outra, que “ainda não chegou cá, [mas funciona] mais com exportação, sobretudo para os mercados nórdicos”, continua Rodolfo Tristão, são os vinhos com baixo teor alcoólico ou sem álcool, que mereceram uma atenção especial na ProWein e aos quais o próprio Mundus Vini dá atenção, organizando provas dedicadas.

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