Marwan Issa: Israel matou um dos três mais procurados do Hamas em Gaza

Acima de Issa na liderança do movimento palestiniano só estão Yahya Sinwar, chefe máximo do Hamas na Faixa de Gaza, e Mohammed Deif, que comanda as Brigadas Ezzedine al-Qassam.

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Issa terá sido morto num ataque de Israel contra o campo de refugiados de Nuseirat, na semana passada Ahmed Zakot/Reuters
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Os militares israelitas já disseram que tinha sido ele o alvo de um ataque contra um complexo de túneis no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, mas a confirmação da sua morte só foi dada agora, em Washington. Marwan Issa, “número dois” de Mohammed Deif, chefe do braço armado do Hamas, conhecido em Israel como o “homem na sombra”, será o primeiro dirigente do chamado “triunvirato” de Gaza assassinado desde os ataques de 7 de Outubro.

Apesar das certezas dos Estados Unidos de que Issa “morreu numa ofensiva israelita na semana passada”, como anunciou o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, nem Israel nem o Hamas se apressaram a confirmá-lo. Para os israelitas, será uma questão de prudência, tendo em que conta que já antes anunciaram erradamente a morte de vários membros do Hamas; do ponto de vista dos líderes do movimento palestiniano, é possível que não tenham ainda certezas, face ao caos que se vive em Gaza.

Israel já tinha matado o “número dois” do bureau político do Hamas, Saleh al-Arouri, num ataque em Beirute, mas Issa é uma figura mais importante, além do simbolismo de ter sido morto em Gaza. Ao mesmo tempo, tudo indica que a liderança militar – sediada no enclave – tenha ultrapassado a direcção política – no exílio – em relevância e poder de decisão. Acima dele, só estão mesmo Yahya Sinwar, líder máximo do grupo em Gaza, e Deif, que comanda as Brigadas Ezzedine al-Qassam.

Issa “não goza da aura pública que rodeia Sinwar ou a reputação militar de Deif, mas a sua importância para a organização é tão crítica como a dos seus dois parceiros na estrutura de liderança”, escreveu o jornalista e comentador militar israelita Yoav Limor, quando a morte do dirigente era apenas um rumor.

“Os relatos que o descrevem como um subordinado de Deif não fazem justiça à realidade; Issa é o cérebro estratégico deste trio. E é também o homem que faz a ligação entre Deif e Sinwar – segundo alguns, é o factor de equilíbrio que frequentemente assegura a calma na complexa relação entre os dois líderes de topo”, descreveu Limor, num texto intitulado precisamente “O cérebro estratégico do Hamas” e publicado no jornal hebraico Hayom.

Uma ideia sublinhada também pelo major-general Tamir Hayman, ex-chefe da secreta militar israelita, citado pelo The New York Times: para Hayman, Issa era, em simultâneo, o “ministro da defesa do Hamas, o seu vice-comandante militar e a sua “mente estratégica”.

Nascido em 1965, no campo de Nuseirat, Issa subiu na liderança com a morte do seu predecessor, Ahmed Jabari, assassinado por Israel em 2012, mas Limor lembra que integrara o restrito grupo de confidentes próximos do xeque Ahmed Yassin, o fundador do Hamas (assassinado em Gaza, há 20 anos).

Foi precisamente um ano antes da morte de Jabari que Issa surgiu pela primeira vez em público, numa fotografia na recepção aos prisioneiros que o Hamas conseguiu fazer libertar em troca do sargento israelita Gilad Shalit. Na foto estão ainda Jabari e Arouri, que com ele tinham integrado a equipa do Hamas nas negociações.

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Até 2011, a imagem de Issa não era conhecida Youtube

Como todos os comandantes do movimento palestiniano, Issa passou pela prisão, primeiro muito jovem, quando cumpriu uma pena de cinco anos em Israel pelo seu papel na Primeira Intifada; mais tarde, em 1997, foi detido pela Autoridade Palestiniana e passou mais três anos na cadeia, antes de ser libertado no início da Segunda Intifada.

Com Deif, partilha ainda o facto de ambos terem perdido filhos em operações israelitas para os assassinar.

Enquanto homem que gostava de “permanecer na sombra”, como disse ao NYT Salah al-Din al-Awawded, analista palestiniano próximo do Hamas, deu muito poucas entrevistas. Mas no décimo aniversário da libertação de Shalit falou longamente com a televisão Al-Jazeera, garantindo que “mesmo que a resistência na Palestina seja monitorizada em permanência, vai conseguir surpreender o inimigo”, como na captura de Shalit ou no 7 de Outubro.

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