Junta do Níger revoga acordo de cooperação militar com os EUA
Militares de tomaram o poder em 2023 e que se aproximaram da Rússia acusam Washington de negar o “direito” do país “de escolher os seus parceiros”. EUA têm mais de mil soldados e duas bases no Níger.
A junta militar que governa o Níger desde Julho do ano passado, depois de ter liderado um golpe que derrubou o Presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum, anunciou no sábado à noite que revogou “com efeitos imediatos” o acordo de cooperação militar com os Estados Unidos, em vigor desde 2012.
Em 2023, havia cerca de 1100 soldados norte-americanos estacionados no país da África Ocidental, onde os EUA operam duas bases militares. Construída em 2019, a Air Base 201, localizada perto da cidade de Agadez, na região central desértica do Níger, custou cerca de 100 milhões de dólares e é uma importante base de drones norte-americanos.
Tal como as juntas que tomaram recentemente o poder nos vizinhos Mali e Burkina Faso, o autoproclamado Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP, na sigla original) do Níger expulsou os soldados franceses e outras forças de segurança europeias do país e estreitou laços com a Rússia, cuja influência no continente africano está alicerçada nas actividades paramilitares e económicas do Grupo Wagner.
A decisão das autoridades do Níger foi transmitida pelo coronel Amadou Abdramane, porta-voz da junta, através de um comunicado televisivo, e foi tomada na sequência de uma visita de três dias de uma delegação norte-americana a Niamey, capital do país.
Encabeçada pela secretária de Estado Adjunta para os Assuntos Africanos, Molly Phee, e pelo chefe do Comando dos EUA em África, o general Michael Langley, a delegação quis discutir os próximos passos na cooperação entre EUA e Níger, nomeadamente na luta contra o terrorismo islamista na região do Sahel, onde operam grupos armados com ligações à Al-Qaeda e ao Daesh.
“O Níger lamenta a intenção da delegação americana de negar ao povo soberano do Níger o direito de escolher os seus parceiros e os tipos de parcerias capazes de os ajudar verdadeiramente a lutarem contra o terrorismo”, afirmou Abdramane.
“Para além disso, o Governo do Níger denuncia veementemente a atitude condescendente, acompanhada pela ameaça de retaliação, do chefe da delegação americana para com o Governo e o povo nigeriano”, acrescentou, citado pela Reuters.
We are aware of the statement from the CNSP in Niger, which follows frank discussions at senior levels in Niamey this week about our concerns with the CNSP’s trajectory. We are in touch with the CNSP and will provide further updates as warranted.
— Matthew Miller (@StateDeptSpox) March 17, 2024
“À luz de tudo o que foi dito, o Governo do Níger revoga, com efeitos imediatos, o acordo relativo ao estatuto do pessoal militar dos Estados Unidos e dos funcionários civis do Departamento de Defesa americano no território da República do Níger”, declarou o porta-voz.
Em resposta, numa mensagem publicada no X (antigo Twitter), Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, disse que o Governo dos EUA “está a par da declaração” e em “contactos” com o CNSP e que dará novas informações sobre o caso “quando for necessário”.
Miller não rebateu as acusações de Abdramane, mas assumiu que a delegação que visitou o Níger na semana passada deu conta das suas “preocupações com a trajectória” seguida pela junta militar.